EDITORIAL
MANAUS – O Governo Bolsonaro é atabalhoado desde os primeiros dias de 2019, quando Jair Bolsonaro recebeu a faixa. Naqueles meses que se seguiram à posse, o presidente da República tomava uma decisão hoje e era obrigado a desfazer amanhã. Foram inúmeras. Mas nada o deixou tão desnorteado quanto o aumento de preços dos combustíveis patrocinado pela Petrobras neste ano eleitoral.
E nos últimos dias o Brasil assiste atônito o presidente, ministros e aliados feitos baratas tontas em busca de uma solução, que não chega. E não vai chegar, porque nenhum deles quer mexer na essência do problema, ou seja, na política de preços da Petrobras.
Primeiro, o presidente Bolsonaro cuidou de promover a troca do presidente da estatal, o terceiro que ele colocou no comando da empresa e que não cedeu às vontades dele. A troca de presidente, aliás, tem se mostrado a medida mais ineficaz para conter a alta de preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. Zero efeito.
Depois, Bolsonaro, num delírio intempestivo, propôs a criação de uma CPI para investigar a Petrobras. A ideia animou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que chegou a pedir reunião com os líderes dos partidos para discutir o assunto. A proposta é tão ridícula que, na prática, significa o governo criar uma CPI para investigar o próprio governo.
Ninguém disse ao presidente da República que é a União a acionista majoritária da Petrobras com a maioria das ações ordinárias, que dão direito a voto? O governo tem maioria no Conselho de Administração da estatal. Seria fácil, se o comandante do governo fosse eficiente, mudar a política de preços e acabar com a farra dos aumentos e da distribuição de poupudos dividendos aos acionistas privados.
Depois de aliados de Bolsonaro caírem na real e abortarem a ideia de CPI, entrou em campo a equipe econômica de Paulo Guedes para propor um “vale combustível” de R$ 400 aos caminhoneiros – temendo uma nova greve – e aumento do valor do “vale gás” para famílias de baixa renda que não conseguem mais comprar o gás de cozinha.
Os caminhoneiros protestaram e chamaram a proposta de Guedes de esmola, antes de recusá-la. Depois disso, o governo passou a falar em elevar o valor do auxílio para R$ 1 mil por mês e transformar o auxílio-gás de R$ 53 (valor de junho) em mensal. Desde que foi criado, em novembro passado, o pagamento é feito a cada dois meses.
O problema, agora, é que não existe fonte de receita para bancar o valor dessa despesa, que ainda não foi calculado pelo governo.
Com as medidas adotadas antes do último aumento de preços da gasolina e do diesel, anunciado pela Petrobras na sexta-feira (17), o governo estima desembolsar R$ 46,4 bilhões. Seriam R$ 29,6 bilhões em repasse aos governos estaduais para compensar a redução de ICMS sobre os combustíveis e R$ 16,8 bilhões com a renúncia dos tributos federais, que o governo pretende zerar.
Nenhuma dessas medidas surtiu efeito até aqui, e desde janeiro deste ano, a Petrobras só eleva os preços dos combustíveis. E se tais medidas produzissem algum efeito sobre os preços, seria de curtíssimo prazo, caso não se estabeleça qualquer controle sobre a política de preços da petrolífera.
Por enquanto, governo e aliados batem cabeça, preocupados com a proximidade das eleições. Faltam exatos 100 dias para o primeiro turno.