O Brasil tem caminhado a passos largos na direção do atraso. As políticas públicas de saúde, saneamento, ciência e tecnologia, segurança, educação, entre outras, estão um caos, consequência inevitável da política suja e do assalto aos cofres públicos. Reconstruir tudo isso não pode ser tarefa de um presidente, nem de um mandato. Ou assumimos o protagonismo de cogestões dessa tragédia ou permaneceremos descendo a ladeira da desconstrução.
Política tem de ser sequela da ação pública, das ações da sociedade estruturada, organizada e Instituições do Estado de Direito. O resto é fundamentalismo estéril. Um dos itens dessa negligência é o retrocesso das políticas públicas dos resíduos sólidos. Essa é a perfeita tradução da gestão pública inepta quando se trata do ordenamento e transformação do resíduo em saúde ambiental e alternativa econômica de associações do setor. Estudos recentes mostram prejuízos de até três bilhões de reais com essa involução. Por que andamos para trás?
Desde a Conferência do Rio sobre Meio Ambiente, as Nações Unidas passaram a tratar o Brasil como referência global na questão ambiental. Naquela ocasião, os países centrais tentaram impor às supostas queimadas da Amazônia a responsabilidade do aquecimento global. Uma acusação que não se sustentou e mereceu da comunidade científica brasileira demonstrações notórias de que o buraco do ozônio era mais em cima, ou seja, causado pelos países do Hemisfério Norte.
E, com o apoio de Instituições Públicas e Organizações Não Governamentais, conseguimos demonstrar que os vilões do desequilíbrio climático foram as emissões dos países industrializados. A partir desse protagonismo, avançamos nos Acordos do Clima, na Convenção da Biodiversidade, na busca de alternativas energéticas e, por fim, as Políticas Públicas dos resíduos sólidos ganharam expansão e credibilidade. Infelizmente, em lugar da reciclagem, vimos, nos últimos anos, a política da malandragem disseminada em todas as direções.
O que esperar do futuro? Com certeza recompor esses avanços exigirá muitas lutas e muitos anos, porque se trata de temas e problemas que exigem preparação cívica e educacional desde os primeiros anos de vida das pessoas. Não adianta investir em campanhas educacionais numa sociedade que, dividida pela demagogia de falsos conflitos, desafia a autoridade pública ou desacredita na classe política. Recompor a questão dos resíduos sólidos, da violência, da saúde e de outras tragédias sociais importa qualificar a formação humana, promover a educação política como fator da unidade social que decorre de uma saudável escolha da representação pública em todas as instituições de poder.
Recompor a sociedade vai exigir a mobilização pelo fortalecimento institucional, desde as pequenas estruturas institucionais, municipais de defesa da cidadania até a composição e fortalecimento do Poder Judiciário. Enquanto isso, todos os agentes sociais poderiam incluir a questão ambiental, o ordenamento de resíduos e a destinação correta do lixo urbano e industrial na pauta de suas prioridades. Ordenar os resíduos é tarefa que começa em casa, no universo familiar. Ao procedermos dessa forma, criaremos a cultura de combate ao desperdício, de recomposição de resíduos produzidos irracionalmente pelo consumo exagerado na rotina de todos nós.
Arrumando nossa casa, convencendo vizinhos, amigos e familiares, podemos imaginar as cidades, a casa maior em que vivemos, adotando procedimentos saudáveis em relação ao resíduo e sua recomposição. De quebra, criamos emprego e renda para milhares de pessoas e fazemos nossa parte no desafio de recompor a saúde do planeta, cuja sobrevivência depende da reciclagem de valores e de atitudes na direção da solidariedade geral e do pleno exercício da cidadania.
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