Quando lemos um texto estrangeiro sobre a nossa região é muito frequente perceber uma abordagem preocupada sobre o desmatamento. Surpreende-me porque não vemos a mesma preocupação quando se lê textos locais ou nacionais. Em geral o nosso foco é olhar as pessoas: Fulano disse isso, Beltrano disse aquilo, o Presidente apoia isso ou o Governador apoia aquilo. É um olhar sempre focado no discurso e muito distante dos fatos. Como a vida acontece nos fatos, seria melhor olhar para eles.
Com as redes sociais empurrando a compulsão pela discussão superficial, fica cada vez mais difícil um enfoque em fatos da realidade. Parece que estamos em uma constante briga de torcida, onde são aglutinadas as tribos e cada um fala para seus amigos, reforçando pensamentos superficiais travestidos de profundidade e dureza direcionada para o oponente.
A questão do desmatamento deveria ser combatida por todos e já poderíamos ter um olhar claro para cada Estado da Região Amazônica, com indicadores fiáveis e aceito pela comunidade de gestores da região. Entretanto, há uma constante fuga das métricas, pois para administrar é preciso medir e não há exatamente um interesse expressivo em administrar. Todos recusam a responsabilidade da administração e este não é um fenômeno novo no país, é apenas um fenômeno que vem se aprofundando, agravado pelas redes sociais.
A reversão deste comportamento poderia vir da ciência, mas surgem mais notas de desagravos das universidades do que propostas de solução ou de métrica. Quem deveria ter as repostas, ou as perguntas, prefere atacar o outro. Assim, ficará difícil debater caminhos e inspirações para o futuro. Dá a sensação que só existem dois caminhos: nada fazer ou destruir tudo. É preciso que tenhamos a clareza mental para enfrentar os problemas diversos, com a diversidade que existe na região.
Previsões do tempo como “chove na região Norte do Brasil” são inúteis. Tratar a Amazônia como uma região única em seus problemas, necessidade e soluções é tão estúpido quanto fazer previsões únicas para uma região tão vasta. Afinal, sempre chove na Região Norte, mas desmatar nem sempre é ruim ou bom – tudo dependerá do local, do propósito e dos desdobramentos das ações. Desmatar para vender a madeira ou queimar tudo para plantar milho pode ser bom e pode ser ruim, pois dependerá muito do contexto. Compreender que problemas sistêmicos e complexos não possuem soluções simples é uma necessidade.
Não será de um prédio na Av. Faria Lima de São Paulo ou numa Superquadra de Brasília que estes problemas devem ser tratados. É necessário que efetivamente tragamos para cá estes reflexões e responsabilidade para transformar a vida para melhor de quem aqui vive. A mudança deverá partir de nós e não deve haver maior interessado do que nós mesmos na preservação, para que não comece uma discussão idiota onde terminaremos por defender a destruição pela mera repetição dos erros do passado em outras regiões do planeta: se eles erraram eu também posso errar. Precisamos passar para outro caminho: se eles erraram eu vou fazer melhor e encontrar um caminho de usar os recursos naturais sem a destruição.
É necessário transcender os modelos atuais. Reconhecer que não temos métodos certos ou errados para a região. Simplesmente não há histórias de sucesso absoluto na região. Existem apenas histórias de sucesso relativo, como a Zona Franca de Manaus e, no nosso país, todo sucesso relativo vira alvo, ao invés de virar exemplo e fonte de inspiração. Precisamos começar a mudança de comportamento, com ações mais responsáveis.
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Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.