EDITORIAL
MANAUS – Um dia depois de o Brasil bater o recorde de mortes na pandemia do novo coronavírus, com 3.158 óbitos em 24 horas, para o presidente da República Jair Bolsonaro se reuniu com os chefes dos poderes Legislativo e Judiciário e com governadores para tentar por fim ao caos causado pela Covid-19.
O Brasil já era preocupação para o mundo desde janeiro, quando o Japão notificou o governo brasileiro sobre a variante do vírus encontrada em Manaus, a P1. Mais contagiosa e mais letal, a P1 foi responsável pelo fechamento de fronteiras de inúmeros países para viajantes brasileiros. E o que o Brasil fez? Nada!
Em fevereiro, muitos brasileiros aproveitaram a data comemorativa do Carnaval para fazer aglomerações em praias, encorajados por uma ação do presidente Jair Bolsonaro, que, no dia 1° de janeiro, fez um mergulho em Praia Grande, no litoral de São Paulo, causando uma das maiores aglomerações vista neste ano no país.
Não foi culpa apenas do presidente da República. Os Estados assistiram de camarote o caos vivido em Manaus e alguns municípios do Amazonas nos dois primeiros meses do ano, achando que a segunda onda do novo coronavírus ficaria restrita à Amazônia.
Ninguém fez o dever de casa. O relaxamento das medidas de distanciamento social, que antecederam a segunda onda no Amazonas, também correu solto nas demais capitais e municípios do interior país afora.
Nenhuma preocupação dos governos federal e estaduais com o isolamento das pessoas infectadas, nenhum controle sobre a doença do ponto de vista da prevenção; os testes de Covid-19 nunca chegaram a ser prioridade no Brasil, como fazem os países onde o vírus está controlado.
De ponta a ponta do País as ações só vieram quanto os hospitais já estavam entrando em colapso.
Nesta quarta-feira, 24, apenas dois Estados – Amazonas e Roraima – não estavam pintados de vermelho em um mapa que mostrava a ocupação de leitos de Covid. A cor vermelha indica lotação acima de 85%, mas muitos Estados estão com 100% de ocupação.
Março está sendo o mês dos recordes de mortes. Todos os dias um novo recorde na média móvel de óbitos pela doença.
Enquanto havia leitos nos hospitais privados, os políticos estavam tranquilos. Mas as últimas semanas foram de pânico também para quem tem dinheiro para pagar um leito hospitalar.
Foi então que se deram conta de que todos estão no mesmo barco e o barco está à deriva. Tardiamente, foi proposto um pacto. Agora, é acompanhar para ver se ele será colocado em prática. É o que todos os brasileiros esperam que seja feito.