Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – A CMM (Câmara Municipal de Manaus) aprovou moção de repúdio contra o economista Alexandre Schwartsman que afirmou, em participação no Jornal da TV Cultura, que o modelo Zona Franca de Manaus é “uma aberração”.
Na Assembleia Legislativa os deputados Sinésio Campos (PT) e Wilker Barreto (Cidadania) criticaram o economista. Na tribuna da Câmara Federal, o deputado Saullo Vianna (União Brasil) também contestou Alexandre. Outro que se posicionou foi o ex-deputado estadual e atual secretário de Estado no Amazonas Serafim Corrêa (PSB).
A reação contra Alexandre Schwartsman ocorreu após o economista ser questionado pela jornalista Kary Bravo se “a seca estava prejudicando a economia do Brasil devido a um erro de planejamento da economia local para estiagem, ou se seria decorrente de oscilações no mercado?”
Alexandre Schwartsman, que foi economista-chefe dos bancos ABN Amro e Santander e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, disse que a Zona Franca de Manaus é uma “aberração” e que a “indústria deveria estar localizada mais próxima ao centro consumidor”.
“Tem um problema climático, realmente não dá para prever. Mas por que diabos a indústria tá lá e o centro consumidor está aqui [em São Paulo]? Porque tem uma aberração chamada Zona Franca de Manaus. Então depende de todos os modais. Bom se fosse em um lugar que ficasse perto do mercado consumidor a gente não estaria passando por isso, mas agora eles têm mais 50 anos para aquela indústria infante na região amazônica e quando acabar os 50 a gente vai ter mais 120, que é para dar sorte”, disse Schwartsman.
Ex-prefeito de Manaus, ex-deputado estadual e atual secretário estadual de Desenvolvimento, Indústria e Tecnologia, o economista e advogado Serafim Corrêa disse que a pergunta de Schartsman pode ser respondida com outra pergunta: “Por que a produção de soja está no Mato Grosso e os consumidores estão na China?” “É pela mesma razão. É que são coisas diferentes. O fato de você ter um mercado consumidor não significa que você vai ter o produtor do mesmo lado”, disse Serafim.
“Há uma desinformação total sobre o que é a Zona Franca, as razões históricas pelas quais a Zona Franca foi criada. Ele precisa estudar mais História do Brasil e entender que a Amazônia era espanhola quando pelo acordo do Tratado de Tordesilhas. No entanto, os portugueses foram conquistando a Amazônia”, lembrou Serafim.
“Só que, sempre, desde o Império, que o Brasil dá mais atenção ao Brasil do que à Amazônia, que era um outro estado colonial português, não era o Brasil. O Brasil era de Belém prá lá. De Belém prá cá, incluindo Belém, era Amazônia, era o Grão-Pará e Rio Negro. Então, se ele estudar História ele vai entender que não é do jeito que ele está falando. Ele precisa conhecer as razões históricas da criaação da Zona Franca de Manaus e a importância que ela tem hoje no contexto mundial, em razão da preservação do meio ambiente”, afirmou Serafim.
Xingamentos
O deputado federal Saullo Vianna disse na tribuna da Câmara que o modelo de desenvolvimento econômico instalado em Manaus faz com que os amazonenses tenham oportunidade de trabalho, de renda e entrega grande contrapartida para o mundo.
“No Amazonas moram mais de quatro milhões de habitantes que têm direito de ter trabalho, renda, de se alimentar e ter sua cidadania respeitada. O senhor precisa ter uma aula de geografia para conhecer o seu país e uma aula de história para respeitar a Zona Franca de Manaus e o estado do Amazonas”, disse.
O deputado estadual Sinésio Campos chamou Schwartsman de “bandido, mau-caráter, sem vergonha e cara de nazista”, antes de exibir um vídeo com a opinião do economista na participação do Jornal da Cultura.
“Vem prá cá, bandido, para você ver como é que é. Esse tipo de gente é que quer arrancar cada moeda. Eles querem ter a floresta amazônica preservada, mas esquecem que aqui tem gente, homens e mulheres, que precisam viver com dignidade. Essas figuras que na reforma tributária querem tirar os incentivos da Zona Franca. Que o diabo que o parta e leve esse elemento para em longe daqui”, disse Sinésio. “Da mesma forma que os nazistas são elementos que tiram vidas de pessoas, ele quer tirar o único instrumento que nós temos de receita para o Estado”.
Economista, o deputado Wilker Barreto classificou a fala de Schwartsman de “infeliz” e o chamou de “imbeci”. “O Amazonas não pode ser norteado pela fala de um imbecil. Aquele economista desconhece o posicionamento estratégico que tem o nosso Estado, desconhece qual a importância da Zona Franca. O Amazonas é hoje, e será mais ainda, o Estado mais estratégico da República. Sem clima, sem meio-ambiente, não tem vida. E é o Amazonas que preserva”.
“É até vergonhoso. Olha que eu sou economista. Mas como é que um economista faz uma leitura pífia daquelas”. Wilker disse que, na condição de presidente da Comissão de Indústria e Comércio da Assembleia, fará um requerimento para a TV Cultura, sugerindo que “pessoas sem conteúdo e sem conhecimento e não podem ser colunistas” da emissora.
Na CMM, o vereador Lissandro Breval (Avante) apresentou moção de repúdio contra Shwartsman “pelas palavras preconceituosas proferidas contra a Zona Franca de Manaus”, aprovada pelos vereadores.
“Mais uma vez a desinformação, mais uma vez o preconceito e a falta de respeito contra o Estado do Amazonas. Nós temos que combater essa desinformação contra a Zona Franca de Manaus”, disse o parlamentar autor da moção.
Ele teve apoio dos vereadores Jander Lobato (Progressistas), Joelson Silva (Patriota), Rodrigo Guedes e Caio André (Podemos), William Alemão (Cidadania), Marcel Alexandre e Alonso Oliveira (Avante), Raiff Matos (DC), Peixoto (Agir), Raulzinho (PSDB), Everton Assis (União Brasil), Luis Mitoso (PTB), João Carlos, Márcio Tavares e Carpegiane Andrade (Republicanos) e Sassá da Construção (PT), que pediram para subscrever (constar como co-autores) da moção.