MANAUS – Família de suspeito de receptação (aquisição de objeto roubado) e tentativa de homicídio acusou policiais militares de tortura e assédio moral no Hospital Pronto Socorro 28 de Agosto. Luiz Fernando Siqueira, de 28 anos, foi preso na madrugada de terça-feira, 28, após perseguição e troca de tiros com PMs da 18º Companhia Interativa Comunitária (Cicom) no bairro Cidade Nova, zona norte de Manaus.
Segundo o boletim de ocorrência, ele foi alvejado com um tiro nas costas após troca de tiros com a PM. O caso foi registrado no 15º Distrito Integrado de Polícia.
De acordo com a namorada de Luiz, que pediu para não ter seu nome revelado, quatro policiais que faziam a escolta do suspeito no leito do Hospital 28 de Agosto o ameaçavam constantemente de morte. “Eles diziam que se ele sobrevivesse ao tiro que tomou iam matar ele. Quando o Luiz estava pegando no sono para dormir eles davam tapas na cabeça dele para ele acordar. Todos estavam sem a identificação do nome no uniforme”, disse.
Ela nega que ele estivesse armado no momento da prisão. “Ele foi abordado pelos policiais em uma moto roubada junto com outro amigo dele que conseguiu fugir sim. Mas ele não estava armado, plantaram um revolver com ele pra simular troca de tiros. O advogado vai pedir as gravações da câmera do Ciops (Centro Integrado de Operações de Segurança) para provar. Só não matara ele na hora porque juntou de gente ao redor”, disse a namorada.
Os supostos ataques continuaram até a manhã de quinta-feira, 30, após a juiza plantonista Eulinete Melo Silva Tribuzy acatar o pedido da defesa e assinar um alvará de soltura ao suspeito ainda na quarta-feira, 29.
“Eles queriam arrastar ele pra fora do hospital pra matá-lo. Só depois que o advogado trouxe o alvará foi que eles foram embora. Até o médico que estava cuidando dele foi grosseiro. Deixaram ele algemado na cama do hospital porque disseram que ele podia fugir. Como, se ele tinha sido operado e tinha perdido muito sangue e não consegue nem andar?”, continuou a namorada de Luiz, que teme pela própria vida. “Os policiais tiraram foto do nosso endereço que tava no documento. Vamos mudar de lá”, continuou.
Luiz chegou ao hospital ainda na madrugada de terça-feira, quando passou por cirurgia para retirada da bala que estava alojada próximo à coluna. Ele também perdeu muito sangue e teve de receber transfusão. Após receber o alvará de soltura, ele prestou depoimento a investigadores da polícia civil que cuidam do caso. No momento ele ainda se encontra internado e sem previsão de alta médica.Como é réu primário e sem antecedentes criminais, irá responder ao processo em liberdade.
Prisão em Flagrante
Conforme consta no Boletim de Ocorrência assinado pela delegada Vanessa Ricardo, do 15º DIP, depois receber informações de que quatro indivíduos em duas motocicletas estavam fazendo uma série de assaltos na zona norte, policiais militares montaram um cerco para capturar os suspeitos conforme a descrição física dada a eles.
Após avistar os quatro suspeitos na avenida Arquiteto José Henrique Bento Rodrigues, os mesmos empreenderam fuga e foram perseguidos pela viatura da 18º Cicom. A moto em que estava Luiz Fernando bateu no meio fio e ele e seu comparsa tentaram fugir para o matagal. Foi quando Luiz Fernando, armado com um revólver calibre 38, atirou três vezes contra os policiais que responderam com outros disparos. Um deles acertou o suspeito nas costas. Os outros comparsas de Luiz Fernando fugiram, enquanto este foi levado para o Hospital 28 de Agosto.
A moto que dirigia, modelo Honda NRX150 BROZ, cor laranja e placa NOR-4985 era roubada e o revolver que suostamente usava no momento da prisão em flagrante estava com a numeração raspada.
Segundo a namorada de Luiz, seu advogado pretende entrar com um processo contra o Estado.
A assessoria de comunicação da Polícia Militar do Amazonas informou que somente a corregedoria da instituição poderia se manifestar pelo órgão. A reportagem tentou contato com o Coronel Euler Ribeiro, corregedor da corporação, mas não obteve sucesso.