Da Folhapress
WASHINGTON – A foto em preto e branco apresenta Michelle e Barack Obama descontraídos, sentados em duas poltronas de uma sala que acreditamos ser na casa deles.
Michelle está de short e descalça, de frente a um Obama sorridente, que veste uma camisa meio amarrotada e sapatos sem meia. Os microfones, de fio aparente, terminam de emoldurar o cenário em que -segundo a imagem de divulgação- foi gravado o primeiro episódio do podcast da ex-primeira-dama dos EUA.
“The Michelle Obama Podcast” estreou nesta quarta-feira, 29, e teve o ex-presidente como convidado, em mais um exemplo de como o casal que passou oito anos na Casa Branca consegue unir impacto midiático com sensação de intimidade.
Logo no início do programa, Michelle diz que vai repetir com o marido parte das conversas que os dois têm tido em casa, durante os tempos de pandemia, mas decepciona quem de fato espera mais acesso à privacidade do casal.
As histórias sobre como a criação e a vida em comunidade formaram o caráter e guiaram as decisões dos Obama fogem pouco do que Michelle já havia divulgado em seu livro de memórias, “Minha História” (2018), e no documentário de mesmo nome que estreou este ano na Netflix.
“Revisitei minha época de Casa Branca, claro, mas fui ainda mais fundo. Olhei para trás, para todo o arco da minha vida”, explica a ex-primeira-dama sobre esta temporada do podcast, que terá nove episódios -o projeto é uma parceria entre o Spotify e a Higher Ground, empresa de produção fundada pelos Obama.
“Você vai me ouvir conversando com algumas das pessoas de quem sou mais próxima, minha mãe, meu irmão, amigos e colegas”, segue Michelle.
Entre os convidados, também estarão o apresentador de talk show Conan O’Brien e uma das ex-consultoras sênior de Obama, a empresária Valerie Jarrett.
“E quero começar no nível mais básico: discutindo as relações que fizeram a gente ser quem a gente é”, completa a anfitriã antes de anunciar o marido.
Então, rompe-se um bate-papo agradável, que dura quase 50 minutos. “Obrigado por me receber no seu podcast”, diz o ex-presidente. “No caso de você não reconhecer essa voz, esse é meu marido, Barack Obam”, completa Michelle.
Os dois gargalham, assim como em diversas vezes na conversa que aparenta correr solta, como se não houvesse roteiro.
Mas há. Michelle e Barack seguem uma espécie de cronologia controlada para falar sobre suas formações familiares e passagens por universidades de elite – ambos estudaram direito em Harvard, uma das mais prestigiosas universidades dos EUA – até desembocarem na defesa da justiça social, com o assassinato de George Floyd, e na importância do engajamento político dos jovens.
O diálogo é dinâmico, os dois são muito bons de retórica, mas deixam escapar momentos que revelam alguma encenação.
Em um deles, Michelle diz que se apaixonou pelo marido porque ele é “guiado pelo princípio de que somos todos irmãos e irmãs, guardiões uns dos outros […] E eu também fui criada assim”.
Em outro, este mais natural, Michelle diz que suas filhas, Sasha e Malia, a tiram do sério – “e elas sabem disso” – quando adotam uma postura mimada, que ela mesma adotava quando criança, ao pedir algo diferente (e aparentemente melhor) do que aquilo que estão fazendo. “Como pode nunca estarem satisfeitas?”.
A política nacional é tratada de forma ampla, apenas tangenciando a eleição presidencial de novembro. Não são citados os nomes de Donald Trump, nem de seu adversário, o democrata Joe Biden, que foi vice de Obama e de quem o ex-presidente é um dos principais cabos eleitorais.
O debate passa por alternativas ao difícil cenário americano e é ali que Michelle, sempre bem humorada, escancara o pragmatismo que faz questão de mostrar que guiou sua vida até então.
“No fim, acho que as pessoas vão fazer a coisa certa”, diz Obama, ressaltando que pode ser possível aprender antes que o quadro fique “muito, muito ruim”.
Michelle rebate, aos risos: “Você é o eterno otimista, o ‘yes, we can, man’ […] Espero que a gente faça mesmo alguma coisa antes de bater contra o sol. Estamos chegando perto”.