Da Redação
MANAUS – Reinaugurada em 2011, a Capela Nossa Senhora do Sameiro, de propriedade do CMA (Comando Militar da Amazônia), na Ponta Negra, zona oeste de Manaus, exibia no teto uma pintura de aproximadamente 100 metros quadrados do artista plástico amazonense Nelson Falcão. A obra levou quatro anos para ser finalizada e, atualmente, encontra-se em processo de tombamento como Patrimônio Cultural do Estado do Amazonas. Entretanto, no início desta semana, o autor da pintura foi surpreendido com sua obra apagada.
“Não me deram nenhuma explicação. Ainda em setembro, no dia do meu aniversário, visitei a capela e encontrei o zelador que, inclusive me sinalizou sobre uma pequena área infiltrada no teto, então sugeri que impermeabilizassem o teto que eu faria os reparos na pintura, mas ontem, quando passei em frente à capela, tomei um susto ao ver que o teto, paredes e a até a pintura do Cristo do altar estavam pintadas de branco”, disse Nelson Falcão, que revela que ela era a única capela do Norte com a abóbada pintada a óleo.
Ele utilizou as mesmas técnicas de perspectiva da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma. A obra-prima de Michelangelo traz em uma única composição de várias cenas do Antigo Testamento, da Bíblia. Estão lá a criação de Adão, a expulsão do Jardim do Éden e o dilúvio.
Na Capela Nossa Senhora do Sameiro, Nelson buscou também transcender as questões cronológicas do Antigo e do Novo Testamento. A imagem da ascenção de Nossa Senhora era representada pela padroeira da capela e emoldurada pelos coros angelicais de arcanjos que simbolizam as emanações divinas. O nome sagrado de Deus, Tetragramaton, marcava simbolicamente o início, o fim e o recomeço, enquanto Jesus, retratado fisicamente sob uma perspectiva histórica e com a licença poética do artista, determina o recomeço, o início de um novo ciclo.
Do sonho ao esboço
Os primeiros esboços para a pintura da abóbada começaram em meados de 2005, mas a ideia de pintá-la nasceu muito antes. Nelson conta que ainda na adolescência, quando ao entrar na capela pela primeira vez percebeu algo muito especial, uma áurea de grandiosidade espiritual emanou pela simplicidade arquitetônica do local.
“Essa experiência me fez refletir por algum tempo sobre muitas questões relacionadas à espiritualidade humana, especialmente sobre o significado da ‘casa de Deus’. Naquela capela aprendi que esta “casa” não deveria ser um espaço de beleza pela ostentação, mas de encantamento pela sutileza do sagrado. Das reflexões, surgiu a vontade de doar para aquele espaço algo de valor imaterial”, lembra o artista.