Por Henderson Martins, da Redação
MANAUS – A Salvare Serviços Médicos Ltda., empresa do médico Mouhamad Moustafa envolvida no esquema de corrupção na saúde pública no Amazonas, fornecia medicamentos com preços superfaturados ao INC (Instituto Novos Caminhos), que administrava unidades hospitalares no Amazonas, identificou a Polícia Federal (PF) na investigação da Operação Maus Caminhos. O custo total foi de R$ 8,43 milhões em 2015 e 2016 a partir de notas fiscais apreendidas pela força-tarefa da operação.
O INC gerenciava as unidades de saúde UPA Campos Sales, Maternidade de Tabatinga e Centro de Reabilitação em Dependência Química Ismael Abdel Aziz (CRDQ) em Manaus.
Durante depoimento na sede da PF, o gerente de logística da Salvare, Jackson Aguiar Ribeiro, disse que não havia um sistema integrado, razão pela qual o controle era em planilhas do Excel. Ele disse que todo o controle de estoque, pedidos e entregas era armazenado em um HD externo, que foi apreendido pela PF.
No arquivo de Excel, conforme a PF, está gravado o valor real dos medicamentos e outros produtos vendidos pela Salvare ao INC. O gerente de logística revelou que as notas simuladas eram enviadas para Gilmar Fernandes Correa como neste trecho do depoimento que consta no inquérito da Polícia Federal.
[…] Que então as mercadorias eram entregues para as unidades, sendo que o total era compilado para emissão de nota fiscal ao final de cada mês; que Flávia fazia a emissão das notas com base no controle das planilhas; que após a emissão da nota, Flávia submetia à validade da controladoria na pessoa de Gilmar; que na verdade Flávia não chegava a emitir as notas, pois apenas alimentava no sistema com os dados, quantitativos e valores; que quem emitia de fato as notas era a controladoria, na pessoa de Gilmar […]
Em depoimento no dia 21 de setembro de 2016, Gilmar Fernandes Correa explica que recebia as notas (simuladas) e que, por diversas vezes, realizava alterações nelas a mando de Priscila Marcolino Coutinho (cunhada e gerente financeira de Mouhamad) para aumentar o valor final do documento fiscal. A declaração foi assim anotada pela PF no inquérito:
[…] que dentre outras atribuições do interrogado dentro da Salvare era consolidar as informações das planilhas enviadas pelos responsáveis (Flávia e Jacson) pelo galpão (onde ficam armazenados os medicamentos da Salvare) para emissão das notas fiscais; que após a emissão das notas fiscais as mesmas eram conferidas por Priscila, a qual autorizava o envio ao Instituto […] que em relação ainda às notas fiscais de medicamentos fornecidos pela Salvare ao INC, o interrogado explica que diversas vezes Priscila pedia ao interrogado que aumentasse a quantidade de medicamentos que eram fornecidos ao INC, para que chegasse ao valor que ela desejasse; que teve algumas notas que esse acréscimo por fora foi de R$ 100.000,00 a mais, ou seja, sem qualquer fornecimento de medicamento […]
O valor de R$ 8.430.552,30, segundo a PF, foi pago a mais pelo INC à Salvare. Na tabela, a PF comparou os preços de mercado com os valores cobrados pela Salvare.