MANAUS – Apontada como integrante de um esquema de compra de votos na campanha do governador José Melo (Pros) nas eleições de 2014, a empresária Nair Queiroz Blair enfrenta outra acusação: a de desvio de recursos públicos federais. A informação foi confirmada nesta segunda-feira, 4, pela assessoria de comunicação da Superintendência da Polícia Federal (PF) no Amazonas, que não quis dar mais detalhes do caso, alegando que o processo corre em segredo de Justiça.
No sábado passado, 2, Blair foi presa no Aeroporto Internacional de Manaus Eduardo Gomes, quando retornava de uma viagem à Europa. Inicialmente, especulou-se que o mandado de prisão contra a empresária tinha ocorrido em função do processo que ela responde com o governador José Melo por crime eleitoral nas eleições de 2014, mas a informação foi descartada.
Nair Blair passou a tarde e noite de segunda prestando depoimento ao delegado Alexandre Teixeira, coordenador da Delegacia de Crimes Financeiros do Amazonas, na sede da PF e seria encaminhada nesta terça-feira, 5, para o Centro de Detenção Provisória, no Km 8 da BR-174.
O AMAZONAS ATUAL apurou junto à Polícia Federal que a empresária foi levada à prisão porque não comparece há quase oito anos às audiências judiciais no processo em que ela responde por peculato (desvio de dinheiro público) e falsidade ideológica. A ação é resultado de uma denúncia do MPF (Ministério Público Federal) contra a sua ONG (Organização Não Governamental) Agência Nacional de Gestão de Recursos para a Hiléia Amazônica – Angrhamazonica, que recebeu R$ 2,5 milhões do Governo Federal, em 2007, para levar os bois de Parintins, Garantido e Caprichoso, para se apresentar no Réveillon de Brasília.
Versátil
No ano seguinte ao evento organizado por Nair Blair, a Revista Época publicou que a entidade da empresária chamou a atenção da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das ONGs no Congresso pela versatilidade dos seus serviços. Criada para atuar na área ambiental, a entidade fazia “sucesso” entre órgãos do governo no ramo de entretenimento. Tanto o Ministério da Cultura quanto o do Turismo afirmam que aceitaram o serviço da organização porque ela cumpriu todas as exigências legais.
A Revista Época constatou ainda que no endereço da ONG de Nair Blair, registrado no Ministério da Justiça, em Manaus, funcionava uma loja de conserto de aparelhos eletrônicos e de jogos para computador. “Essa Angrhamazonica só existe no papel”, disse, à reportagem do periódico, o gerente da loja, Jacildo Farias.
Nova ONG
Depois da confusão envolvendo a ONG Agência Nacional de Gestão de Recursos para a Hiléia Amazônica em 2008, Nair Blair criou outra organização não governamental, a Agência Nacional de Segurança e Defesa (ANSD). Essa entidade foi contratada pelo Governo do Estado para fazer serviços de “implementação de solução tecnológica de monitoramento em tempo real móvel” durante os jogos da Copa do Mundo em Manaus pelo valor de R$ 1 milhão. A quantia foi depositada na conta da entidade dois dias antes do mundial, em junho de 2014.
Dois meses depois, Nair Blair foi presa pela Polícia Federal em uma reunião com pastores evangélicos por suspeita de compra de votos para o governador José Melo. Em março de 2015, o programa Fantástico, da Rede Globo, vinculou a contratação da ONG da empresária a um esquema de compra de votos, organizado por ela em favor do governador. A reportagem do programa chegou a visitar a sede da gência Nacional de Segurança e Defesa, e no local funcionava outra empresa.
Em nota ao Fantástico, José Melo negou que Nair Blair tenha prestado serviço aos comitês de campanha dele. “Ela não era coordenadora de campanha, nem subcoordenadora, não era nada disso. Agora, se você dissesse: “Ela trabalhou?”, só ela pode dizer. Só sei que nos meus comitês ela não trabalhou em nenhum deles”, garantiu o governador ao programa da Rede Globo.