Pesquisas geram dados e informações que devem nortear as ações do poder público. Qualquer gestor, de um diretor de escola ao governador de um estado, precisa se cercar deste tipo de ferramenta para realizar uma gestão minimamente competente. O bom na verdade é secercar de vários estudos, e de preferência de várias fontes diferentes, pois da comparação e do cruzamento de dados nascem convergências e divergências, e a partir delas o debate e as considerações necessárias para uma boa tomada de decisão.
Há quem diga que um gestor que não analisa pesquisas, estudos e indicadores, é como um comandante que navega sem instrumento algum, auxiliando-se somente pelas estrelas: a chance de errar é muito grande, o risco demasiado, e enorme é a possibilidade de nunca chegar ao destino final desejado.
Na última sexta-feira,13, foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mais uma importante pesquisa: a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O estudo foi realizado em 2014 e ouviu 362.627 pessoas em 151.291 domicílios. Segundo o IBGE, a Pnad obtém informações anuais sobre características demográficas e socioeconômicas da população, como sexo, idade, educação, trabalho e rendimento, tendo como unidade de coleta os domicílios.
Quando se pensa em educação, o resultado da Pnad se mostra muito importante principalmente se associado aos dados do Censo escolar e ao resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), ambos divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Este conjunto é sem sombra de dúvida um excelente ponto de partida para a elaboração de políticas educacionais eficazes que consigam potencializar os resultados através do planejamento do investimento nos locais certos e na proporção adequada.
Um bom exemplo disso podemos extrair do resultado da pesquisa que mostra uma tímida queda na taxa de analfabetismo na população acima de 15 anos: de 13, 3 milhões (8,5%) em 2013 para 13,2 milhões (8,3%) em 2014. Segundo o levantamento, na região Nordeste se encontram 54% de todos os analfabetos do país, seguida da região Norte com aproximadamente 29%.
A Pnad nos mostra que neste ritmo de redução dificilmente conseguiremos erradicar o analfabetismo até 2020 como prevê o Plano Nacional de Educação (PNE). Sendo assim, mais investimentos serão necessários nos próximos anos caso se queira que a meta seja cumprida.
Onde prioritariamente se deve investir, e em que proporção se deve fazer, a pesquisa já indica. Tímida também foi a queda no índice de analfabetos funcionais acima de 15 anos, a pesquisa registrou uma redução de 0,5% (de 18,1% para 17,6%) entre 2013 e 2014. Vale ressaltar que o IBGE considera como analfabeto funcional quem teve acesso a menos de quatro anos de escolaridade, enquanto que considera analfabeto total a pessoa incapaz de ler e escrever um bilhete simples.
A boa notícia é o aumento da população com nível superior completo, o que inclui mestrado e doutorado, passamos de 12,6% para 13,1% em um ano. No outro extremo dessa pirâmide temos 32% da população com ensino fundamental incompleto, e entre a base e o topo estão 25,5% de pessoas com o ensino médio completo.
A Pnad faz ainda um comparativo entre o número de alunos matriculados na rede pública e aqueles matriculados na rede privada. Segundo a pesquisa, desde 2007 o número de alunos da rede privada vem aumentando, saltando de 20,4% para 24,3% em 2014, acompanhando o ritmo de crescimento do país. Contudo, a recessão que abateu o Brasil este ano já mostrou como consequência uma migração dos alunos da rede privada para a rede pública alterando assim esta tendência em alguns estados, no entanto, este dado só poderá ser precisado pela Pnad do ano que vem.
Como se pode ver, pesquisas realizadas anualmente como esta são essenciais não só para a elaboração das políticas públicas, mas também para o acompanhamento da evolução de algumas que já foram implementadas. Olhar para o aumento ou a redução dos números é essencial para se ter noção se o que foi planejado está dando certo ou não, ou mesmo em que medida a situação econômica do país influenciará nos indicadores.
Torçamos que os gestores de todo o país, e suas equipes técnicas, fiquem de olho nesses estudos e utilizem essas informações da melhor forma possível. Afinal, navegar com segurança é preciso.
George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimen to do Ensino Médio; diretor
executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex‐professor da Universidade Federal
do Pará e ex‐diretor do ensino médio e educação profis sional do estado do Pará.
Contato: [email protected]