
Da Redação
MANAUS – De forma pioneira, FVS-AM (a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas), vinculada à Susam (Secretaria de Estado de Saúde), realizou pesquisa inédita que constatou, pela primeira vez, que fêmeas de mosquitos Aedes aegypti, encontradas na natureza, quando infectadas, podem transmitir os vírus zika e chikungunya para as larvas fazendo com que os mosquitos já nasçam infectados. O estudo foi em parceria com a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) do Amazonas e do Rio Janeiro,
A pesquisa foi realizada em Itacoatiara, a 270 quilômetros de Manaus. Segundo o chefe de Departamento de Vigilância Ambiental da FVS, Cristiano Fernandes, coordenador da pesquisa, a importância desse ‘achado’ na dinâmica de transmissão precisa ser melhor esclarecida, porém, os resultados demonstram essa transmissão vertical (de mãe para filho), neste caso, do mosquito (fêmea) para os ovos no ambiente natural. “Em laboratório já havia experimentos que demonstravam que era possível a transmissão vertical, de forma artificial, no qual as fêmeas eram alimentadas com sangue contendo o vírus zika, passavam para os ovos que geravam indivíduos já infectados. No entanto, estudos com mosquitos em condições naturais de campo até então não haviam detectado a presença do vírus em formas imaturas, no caso as larvas”, disse.
Cristiano Fernandes esclarece que este trabalho evidencia que a via de transmissão vertical do vírus acontece na própria natureza.
Prevenção
Virologista da Fiocruz Amazonas, coautor da pesquisa e responsável pelas análises moleculares e do sequenciamento dos vírus encontrados nas amostras de larvas, Felipe Naveca afirma que o estudo tem como proposta auxiliar nas ações de vigilância das arboviroses e nas diferentes estratégias de eliminação do vírus na natureza. “A partir de agora, é comprovada a presença do vírus nas larvas no ciclo natural de evolução do mosquito com sete dias. É fato a infecção ativa nos mosquitos imaturos, por isso, mais do que nunca, são necessárias as ações para eliminar depósitos de água parada, pois o mosquito não pode nascer”, reforçou.
De acordo com o pesquisador da Fiocruz do Rio de Janeiro, José Bento, também autor do trabalho, ainda há muitas perguntas que precisam de respostas. “A pesquisa amplia, ainda mais, a discussão sobre as possíveis estratégias de controle que podem ser adotadas a partir da detecção da circulação viral em mosquitos, o que pode melhorar a capacidade de resposta das autoridades de saúde frente a introdução de doenças causadas por vetores”, disse. Ele acrescenta que outras etapas deste estudo ainda estão em andamento e novas abordagens sobre estas evidências podem ser geradas.
A FVS informa que as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti seguem em queda por dez meses consecutivos, no Amazonas, em comparação a 2017. A maior redução foi da febre chikungunya que, até outubro de 2018, teve 170 casos notificados contra 548 casos em 2017, uma redução de 68%. A dengue apresentou redução de 42%, com 7.575 casos notificados em 2017 contra 4.379 de 2018. A zika teve a redução de 32%. Em 2017 foram notificados 657 casos contra 446 em 2018.