Da Redação
MANAUS – Depressão, baixa autoestima e ansiedade são alguns dos sentimentos que afetam homens que passam pela penectomia – retirada total ou parcial do pênis –, em decorrência de câncer. Esse é o resultado parcial de uma pesquisa realizada com pacientes portadores desse tipo de neoplasia na FCecon (Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas).
O estudo de mestrado é da psicóloga Larissa Migliorin da Rosa, do Programa de Psicologia da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e busca entender a vida antes e após o diagnóstico do câncer de pênis. Segundo ela, quando a doença é descoberta, esses pacientes sofrem alterações físicas e emocionais, às quais se soma a retirada do pênis quando o câncer não é tratado a tempo.
O câncer de pênis é causado pelo Papilomavírus Humano (HPV) de alto risco associado a outros fatores, como a fimose e a não higienização adequada do órgão, explica o urologista da FCecon e membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Giuseppe Figliuolo.
“A unidade hospitalar registra 15 casos desse tipo de neoplasia ao ano. No Amazonas, a doença atinge principalmente homens entre 21 a 55 anos, devido à falta de informação e higiene”, alerta.
De acordo com Migliorin, são pacientes com baixos níveis socioeconômicos oriundos do interior do Amazonas. “Devido às dificuldades logísticas e econômicas, esses homens demoraram a buscar o tratamento e, por conta do estágio avançado da doença, têm o pênis amputado. Soma-se a tudo isso o sofrimento por estar distante da família e o medo da morte. São situações que causam restrições físicas e emocionais”, lamenta.
Sexualidade
Segundo a psicóloga, após a retirada total ou parcial do pênis vem o pensamento de como será a vida sexual, o relacionamento com a esposa e/ou parceira. Ela explica que o homem relaciona o pênis com a sua identidade, masculinidade, de modo que a perda acarreta questionamentos quanto à sexualidade.
“Normalmente, esses pacientes vêm de uma relação duradoura, então a cura da doença é mais importante para a parceira que a relação sexual. O homem relaciona sexo apenas com penetração, porém é preciso dar novo significado ao ato, buscando novas formas de prazer, novas zonas erógenas. Dessa forma, o sexo pode se tornar até melhor do que antes”, frisa Migliorin.
A psicóloga do Serviço de Psicologia/FCecon, Larissa Lins, explica que existe uma cobrança social de uma invulnerabilidade do homem, devido a uma visão deturpada de masculinidade. “O homem entende que buscar cuidado é uma função passiva, que está ligada apenas ao mundo feminino. Infelizmente, isso o impede de procurar cuidados médicos”, pontua.