MANAUS – A primeira ideia que me veio à cabeça ao assistir o trecho da entrevista de Paulo Guedes à Globo News, na semana passada, sobre a Zona Franca de Manaus, foi a de separação da Amazônia brasileira do resto do Brasil. E aqui, a palavra “resto” é um insulto aos que se posicionam ao sul e pensam, como Paulo Guedes, que essa região ao norte é um peso para o país.
A Amazônia tem não apenas riquezas naturais e minerais, mas um potencial inestimável de desenvolvimento, de geração de riqueza em diversas áreas da economia. Falamos em turismo, piscicultura, exploração mineral entre outras frentes de desenvolvimento, e esquecemos o fundamental: os investimentos em pesquisa e inovação, o que seria fundamental para o tão sonhado desenvolvimento da região.
Já vimos que nada podemos esperar dos governos centrais fincados em Brasília. E isso não é uma característica do atual governo Bolsonaro. Vem de muito longe. Nem Dilma Rousseff, nem Lula, nem Fernando Henrique Cardoso nem os que os antecederam olharam para a Amazônia com o olhar que a região merece. Nenhum governo investiu para gerar conhecimento das potencialidades reais da Amazônia.
Enquanto isso, o mundo está de olho na nossa floresta. Até hoje, o nosso discurso, ou o discurso do Brasil, foi o de “ajude-nos a preservar para que não desmatemos a Amazônia”. No passado recente, tentamos convencer o mundo a infeliz ideia da “venda de créditos de carbono”. Ninguém comprou e ficamos a ver o barco passar.
O que precisamos vender ao mundo é a ideia de que é preciso investir em conhecimento sobre a Amazônia. Precisamos abandonar a ideia dos militares da década de 1960: “integrar para não entregar” e substituí-la por outro pensamento: “ocupar para conhecer e gerar riqueza”.
Com o Brasil já vimos que é impossível. Por isso, precisamos pensar na separação da Amazônia. De cara, seríamos o país como o maior potencial hídrico do mundo. Teríamos a maior floresta tropical do mundo. Os olhares do mundo se voltariam não mais para a Amazônia brasileira, mas para um país chamado Amazônia.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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