Da Folhapress
SÃO PAULO – Pesquisa Datafolha mostra que 52% das famílias paulistanas tiveram queda na renda por causa da pandemia do coronavírus. Outras 41% afirmam que mantiveram os rendimentos, enquanto 7% registraram aumento.
Nas famílias que ganham até dois salários mínimos, 55% tiveram queda na renda. Entre aquelas com mais de dez mínimos, 33%. Entre autônomos, 66% tiveram perda. Nos assalariados registrados, 47%.
O levantamento mostra também que 38% dos moradores da capital paulista solicitaram o auxílio emergencial de R$ 600. Destes, 81% receberam pelo menos uma parcela. Entre as famílias que ganham até dois salários mínimos, 49% solicitaram o auxílio. Na faixa de renda acima de dez mínimos, 11%.
O benefício foi solicitado por 69% dos que estão desempregados atualmente, 67% dos autônomos, 59% dos assalariados sem registro e 46% das donas de casa.
A pesquisa foi realizada nos dias 21 e 22 de setembro, com 1.092 entrevistados. A margem de erro é de até três pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança, de 95%.
O perfil da amostra da pesquisa Datafolha mostra que 13% dos entrevistados na capital paulista se declaram desempregados, incluindo aqueles que estão ou não à procura de trabalho. Entre os que estão à procura de emprego, 69% solicitaram o auxílio.
Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a volta dos brasileiros às ruas já começa a pressionar a taxa de desemprego, que na quarta semana de agosto bateu 14,3%, o maior nível desde o início da pandemia. São, ao todo, 13,7 milhões de desempregados em todo o país.
O auxílio emergencial para trabalhadores informais é um dos principais fatores que ajudou a conter a queda na renda do brasileiro desde o início da pandemia.
Pesquisa da FecomercioSP divulgada na semana passada mostrou que a redução no valor do auxílio e a antecipação do pagamento do 13º dos aposentados para o segundo trimestre de 2020 devem contribuir para um Natal fraco neste final de ano.
O trabalho da entidade mostra que, nos primeiros seis meses deste ano, a renda das famílias brasileiras cresceu 3,3% em relação ao mesmo período de 2019, uma injeção de R$ 63,9 bilhões na economia.
Se o governo federal não tivesse adotado nenhuma medida de complementação e antecipação de renda, teria ocorrido uma redução de 0,63% na massa de rendimentos.
O dinheiro extra liberado pelo governo tem sido destinado, principalmente, ao consumo de bens essenciais. Isso tem contribuído para garantir o bom desempenho do comércio, especialmente no ramo de supermercados, e da indústria de bens não duráveis, enquanto outros setores, como os serviços, sofrem mais com a crise atual.
Sondagem especial do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV) mostrou que, considerando todos os auxílios do governo, de cada R$ 100 dessa renda extra, R$ 31 foram para compra de bens essenciais, R$ 27 para pagamento de dívidas em atraso, R$ 20 para poupança e R$ 16 para outros gastos do dia a dia. Apenas R$ 2,3 foram destinados a bens como eletrodomésticos, móveis e roupas ou para serviços.
Segundo o Banco Central, o auxílio emergencial representou R$ 37 bilhões por mês de abril a julho, o que representa uma transferência de 12% da renda mensal de 2019. A instituição também avalia que o fim do benefício pode afetar o consumo no próximo ano.
“A análise sugere que o auxílio emergencial ajudou a sustentar o consumo durante os primeiros meses de impacto da pandemia. […] O fim do programa pode contribuir para a desaceleração do consumo das famílias, ainda que de forma temporária”, diz o BC em seu último Relatório Trimestral de Inflação. O governo tem discutido um novo programa de transferências para substituir o Bolsa Família, que deve se chamar Renda Brasil.
A iniciativa, no entanto, não está prevista no Orçamento de 2021, pois seriam necessários cortes em outras despesas para viabilizar o programa sem desrespeitar a emenda constitucional do teto de gastos. A equipe econômica calcula a necessidade de pelo menos R$ 20 bilhões serem destinados para o Renda Brasil.