Por Paula Litaiff
O fim do prazo da janela partidária – reforma no Código Eleitoral que delimitou um período para que os parlamentares migrem de partido sem perda de mandato, cuja data limite terminou neste sábado (19) – trouxe à tona uma reflexão sobre a extinção da ideologia partidária na política brasileira.
No “corre-corre” dos pré-candidatos para mudança de partido com foco nas eleições deste ano, o que se via eram cálculos intermináveis sobre em quais siglas se teriam mais chances de eleição dentro do que prevê o quociente eleitoral/partidário (método pelo qual se distribuem as cadeiras nas eleições proporcionais – Artigos 106 e 107 do Código Eleitoral), gerando a chamada busca pelo “partido da sobrevivência eleitoral”.
Princípios previstos nas legendas partidárias e que bandeiras o partido defendia sequer foram lembrados por aqueles que mudaram de casa partidária em cima do prazo. Temas como legalização do aborto, descriminalização da maconha e pena de morte não foram levados em conta na troca de legenda dando razão a Ulysses Guimarães que logo na fundação dos primeiros partidos brasileiros já dizia que “Os partidos políticos existem para tão somente alcançar o poder”.
Na teoria política, diz-se que o partido eleitoral constitui o cerne de qualquer regime democrático. No Brasil, eles são 35, segundo o último levantamento do TSE, número três vezes maior do que existe, normalmente, em outros países. Nos Estados Unidos, como se sabe, esse número se reduz a dois: o Republicano e o Democrata. O primeiro criado em 1854 em oposição à escravidão; o segundo fundado 21 anos antes, por partidários da escravidão, e que anos mais tarde se adequaram ao fim do regime. Filiados dos dois partidos chegam a passar a vida toda na mesma legenda defendendo a ideologia partidária sob pena de ridicularização da sociedade.
Bem diferente do que ocorre em terras brasileiras, onde o político muda de legenda a cada eleição ou a cada ano, de acordo com sua necessidade de permanência no poder. No Brasil, é comum ver políticos que em menos de dez anos foram comunistas, socialistas, republicanos, democratas e, agora, buscam o partido que simpatize com seus interesses políticos e econômicos ou criam um, não por ideologia, mas para chamar de seu.
A ideologia partidária no Brasil, atualmente, serve apenas no embasamento de discursos para a claque ou é usado como pano de fundo para os marqueteiros trabalharem nas campanhas eleitorais. Certo de sua ideia estava mesmo, Millôr Fernandes, quando disse que desconfiava de todo idealista “que lucra com seu ideal”.