EDITORIAL
MANAUS – A pregação de um pastor evangélico de nome André Valadão virou um dos assuntos mais comentados na mídia em geral e nas redes sociais nos últimos dias. Um vídeo da pregação que pode ser encontrado na internet não deixa dúvida da carga de ódio despejada e da incitação à violência contra a comunidade LGBT+ ao dizer:
“Ah, que absurdo [gritando fino]. Mas essa porta foi aberta quando nós tratamos como normal aquilo que a bíblia já condena. Então, agora, é hora de tomar as cordas de volta [faz gesto de quem puxa uma corda] e dizer não, não, não, não, não, titititi. Pode parar! Reseta! Pizzzz. Aí Deus fala: ‘Não posso mais. Já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, eu matava tudo e começava tudo de novo. Já prometi pra mim mesmo que eu não posso, então agora é com vocês’. [silêncio] Você não pegou bem o que eu disse! Eu disse tá com você. Vou falar de novo: tá com você. Sacode uns quatro do teu lado e fala: vamos pra cima. Eu e a minha casa serviremos ao senhor. E aí, por causa de uma porta que pode ser bonitinha, um casal LGBTQIA+ casando. Aí, agora, você tem drag queens dentro da sala de aula [aos gritos].
Dias depois, André Valadão emitiu uma nota se vitimizando, dizendo que foi mal interpretado, que não pregou o ódio e violência contra homossexuais e acusando a imprensa de distorcer a fala dele, tirá-la de contexto. Segundo a nota, ele se referia à passagem bíblica do dilúvio, quando Deus disse, em Gênesis 6:7 “Exterminarei da superfície da terra o homem que criei, e com ele os animais, os répteis e as aves dos céus, porque eu me arrependo de os haver criado.”
A pregação do pastor, no entanto, não faz ressalvas, não explica a passagem bíblica, e, ele sim, distorce o texto de Gênesis. Bastaria a Valadão ler o trecho bíblico na íntegra que seria compreensível. Mas ele faz um discurso velado, coma intenção de condenar os LGBT+, e sugere, com todas as letras, que Deus não pode mais aniquilar esses “pecadores”, mas os cristãos podem. O pastor não fez questão de explicar, de fazer as ressalvas que fez na nota publicada dias depois. Porque a intenção era outra, como veremos mais à frente.
O caso de Eduardo Bolsonaro se assemelha ao de Valadão na intenção. Em discurso durante um ato em defesa das armas de fogo nas mãos da população, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro diz:
“Preste atenção na educação dos filhos. Tirem um tempo para ver o que eles estão aprendendo nas escolas. [assim] Não vai ter espaço para professor doutrinador tentar sequestrar as nossas crianças. Não tem diferença (sic) [palmas]. Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas, que tenta sequestrar e levar os nossos filhos para o mundo do crime. Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior, porque ele vai causar a discórdia dentro da sua casa, enxergando opressão em todo o tipo de relação.”
A comparação que faz Eduardo Bolsonaro é esdrúxula, e não foi dita de forma involuntária. Foi pensada minuciosamente para causar o efeito que causou. E qual foi o efeito? A “viralização” da fala na internet e grande repercussão na mídia e no meio político.
Em ambos os casos, a intenção primeira é essa: causar uma reação, um massacre midiático até transformar em vítima o autor da fala. Essa reação vem seguida de medidas adotadas por autoridades constituídas. O Ministério Público pediu a retirada do conteúdo de Valadão das plataformas digitais; o ministro da Justiça, Flávio Dino, pediu à Polícia Federal que investigue a fala de Eduardo Bolsonaro com o “objetivo de identificar eventuais crimes, notadamente incitações ou apologias a atos criminosos”.
Feito isso, os representantes da extrema direita dão o pulo do gato. Passam a se vitimizar, a se dizerem perseguidos. “Minha vida e da minha família foram expostas, mentiras e interpretações distorcidas se espalharam”, disse André Valadão. “Mais um degrau da escalada autoritária no Brasil”, disse Eduardo Bolsonaro sobre o pedido de investigação.
Tudo é feito de caso pensado. As falas são estudadas e ditas em contextos que sabidamente vão gerar uma reação em cadeia. No primeiro momento, a casa parece cair em cima dos autores dos discursos de ódio. Mas eles saem ilesos e mais fortalecidos.
O objetivo não é só atingir LGBT+ e os professores. É uma ação puramente ideológica pensando no futuro político da extrema direita. É preciso chamar os adversários para rinha para mostrar o quanto eles são “perigosos” para a sociedade.
No caso de Valadão, o objetivo é incutir na cabeça dos incautos a ideia de que há por parte do grupo político que está no poder e das instituições por ele comandadas uma perseguição aos cristãos. É demonizar esse grupo para tentar reverter a vantagem que potencialmente ele teria numa eleição futura.
No caso de Eduardo Bolsonaro, é mostrar que a família vem sendo destruída por uma ideologia que arrasta os pobres filhos das famílias de bem para o crime. Esse discurso é tão fantasioso quanto a teoria de que a terra é plana. Mas ele serve para arregimentar multidões para o lado dos autores do discurso.
O mais curioso é como os meios de comunicação que fazem jornalismo profissional não enxergam ou aceitam colaborar com essa estratégia da direita irresponsável. A mídia brasileira cai como um patinho nessa esparrela. E as autoridades, como peixes em busca da isca, se deixam fisgar por esse discurso fabricado exatamente para causar esse efeito.
A família Bolsonaro Não pode negar algo factual: houve um Censo e ele trouxe um Decréscimo Populacional de 4 milhões de pessoas algo que mostra a alta mortalidade havida na Crise Sanitária e longe dos dados “oficiais” sobre a Covid-19! Noutra ponta, o Censo 2022 trouxe o aumento do número de pessoas morando sozinhas e, pesquisadas por sexólogos é relatada a fluidez sexual: divorciados (as) e solteiros (as) em relações homoafetivas e longe do contexto de pluralidade de parceiros: são amizades ou coleguismo de longa data indo para a intimidade! Parcela expressiva da população que tem experiência (bagagem) para discutir questões familiares, sexuais, que separam dogmas religiosos × religião “em si” com a Espiritualidade “pura/real”! Nem o Papa consegue se manter “tão conservador” até porque sabe que o quesito “celibato” é de certa forma uma “utopia histórica”!