Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – Vai começar mais uma corrida pelo acesso às divisões superiores do Brasileirão para clubes amazonenses. Este ano, quatro equipes disputam vagas nas séries C e B do Campeonato Brasileiro de Futebol.
Na busca pela segunda divisão estão Manaus FC e Amazonas. A última vez que um clube do Amazonas disputou a segunda divisão foi em 2006, com o São Raimundo.
Após a organização e escalonamento das divisões brasileiras feita pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a criação da Série D, em 2009, será a primeira vez que o estado terá dois clubes na Série C.
O Amazonas participou apenas uma vez da Série D, em 2022, e conquistou acesso de primeira. O Manaus FC disputou duas vezes a quarta divisão e subiu na segunda tentativa. Vai para a quarta temporada seguida na terceira divisão.
Para o presidente do Gavião do Norte, Giovanni Silva, a fórmula para conquistar acessos passa, necessariamente, pelo apoio financeiro. Sem revelar qual o orçamento do clube, o dirigente diz que ter dinheiro em caixa desde o início do campeonato estadual é importante para formar e consolidar o elenco.
“É uma preocupação enorme em primeiro lugar, sempre o financeiro. O apoio financeiro para termos o mínimo de estrutura, trazer jogadores com potencial, que a gente possa conseguir já desde o início do campeonato estadual imprimir um ritmo com muita qualidade e consequentemente já dar um ‘corpo’ para o time que vai disputar a Série C do Campeonato Brasileiro”, afirma.
O Manaus FC conquistou o torcedor amazonense com bons desempenhos em competições nacionais e detém os maiores públicos de jogos de clubes locais na Arena da Amazônia, inaugurada em 2014 para a disputa da Copa do Mundo.
A decisão da Série D de 2019, quando o Manaus FC perdeu o título para o Brusque (SC) na disputa por pênaltis, registrou o melhor público da Arena, com 44.896 torcedores. O terceiro maior público, 44.121, é da semifinal contra o Caxias (RS), jogo que valeu o acesso para a Série C.
“Esperamos apoio do torcedor. Que ele acredite, vá e confie. Manaus FC vai fazer o quarto ano na Série C do Campeonato Brasileiro. Chegou próximo, muito próximo no primeiro ano. No segundo ano bateu na trave, ficou a uma vitória simples contra o Novorizontino [para subir]. No terceiro ficou 14 das 19 rodadas, salvo engano, dentro da zona de classificação”, diz Giovanni.
O Manaus FC também pede apoio do governo do Estado e da prefeitura de Manaus, que destinou R$ 1 milhão para o clube, através de chamamento público, ainda em curso. O valor deve ser liberado durante a disputa da competição.
“A gente espera que o Poder Público olhe os clubes que representam o Amazonas nos Brasileirões com olhar mais pretensioso, de que é possível sim os clubes chegarem à Série C, à Série B, e porque não sonhar com uma Série A. Para isso basta que o apoio venha o quanto antes. Se não for assim, fica sempre difícil a gente conseguir algo melhor dentro das competições à nível nacional”, diz o presidente do Manaus FC.
Além do apoio da prefeitura, o governo do Estado também sinalizou com repasse de recursos financeiros, diz Giovanni.
“O financeiro é sempre um fator que nos preocupa muito. Se nós não tivermos, a gente sempre vai ‘pegar pau’ no início da temporada. Por exemplo, o governo sinalizou agora que vai vir com os recursos para os clubes, ainda do Estadual. Vai vir num bom momento; mas se esse dinheiro tivesse programado para estar no início da competição, seria bom para todo mudo. Ele chega tarde, mas tarde entre aspas. Vai servir. Mas se ele chega antes a gente com certeza estaria com um melhor elenco para iniciar a competição. Mas, independente disso a gente tem um bom elenco para começar a Série C”.
O ATUAL tentou falar com dirigentes do Amazonas, o segundo representante local na Série C, mas não houve resposta do clube. Também não houve retorno do Princesa do Solimões, que vai disputar a Série D pela quarta vez.
Quarta Divisão
O Amazonas terá, mais uma vez, dois representantes na Série D, em busca do acesso: Princesa do Solimões e Nacional. Desde 2016, quando a competição passou a ter 68 clubes, o estado tem dois clubes participantes.
O Nacional vai tentar o acesso pela oitava vez. O Leão foi o último representante estadual na primeira divisão, em 1986. No ano seguinte, com a criação do clube dos 13, a competição nacional contou com apenas 20 integrantes.
O gerente executivo de futebol do Nacional, Fernando Gaúcho, reconhece as dificuldades de subir de divisão, mas aposta na gestão e no planejamento e mostra otimismo para este ano.
“A dificuldade da busca do acesso é tremenda para todos os clubes e para o Nacional não é diferente. Até porque existem clubes organizados, clubes estruturados, que já vem há alguns anos batendo na porta, buscando esse acesso, então obviamente que alguns pilares para conseguir o objetivo, para buscar o resultado, começa pelo trabalho da gestão: a preparação, a estrutura, a condição de trabalho; isso é fundamental para todos os clubes. E obviamente que também é a sequência de um trabalho”, relata.
O dirigente diz que além de planejamento, é necessário também um pouco de “sorte”, pois nem sempre os melhores desempenhos conquistam o acesso. “É uma competição e muitas vezes não é melhor time que vai conseguir o acesso. Mas facilita muito a questão da organização, do planejamento, de dar uma continuidade no trabalho. Isso acaba diminuindo a margem de erro. Com essa margem baixa, a tendência é conseguir o acesso de uma forma mais positiva”.
A exemplo do Manaus FC, que nasceu de uma dissidência política dentro do Nacional, Fernando Gaúcho também conta com apoio da torcida e do pode público para ter a missão de conquistar o acesso “facilitada”.
“O torcedor é o maior patrimônio do clube. A gente sabe que o torcedor do Nacional já vem com uma carência de títulos e acessos, em função, a gente acredita, de gestões anteriores. Quando eu falo em planejamento, envolve o torcedor também, que tem ter conhecimento de tudo do clube, essa reformulação que estamos fazendo. Cria-se uma ansiedade muito grande do torcedor, mas ele tem que entender, tem que acreditar em quem está à frente do clube”, diz Fernando.
Sobre o apoio financeiro de governo do Estado e prefeitura de Manaus, Fernando diz ser fundamental. “Apoio financeiro é importantíssimo, porque a gente sabe que o clube de futebol hoje precisa de investimentos, de patrocínio. Futebol hoje sem dinheiro é quase que impossível. Já sabemos de algumas conversas e situações positivas em termos de apoio e patrocínio, que vai nos fortalecer para representar bem o Estado e o torcedor do Nacional”.
História
Historicamente, a primeira participação de um clube amazonense em campeonatos brasileiros foi na segunda divisão de 1971, com a Rodoviária. As competições tiveram diversas nomeclaturas e nem sempre valeram acesso ou tiveram rebaixamentos. Antes de 1971, duas competições serviram de embriões para os formatos atuais dos Brasileirões.
Entre 1959 e 1968 foram disputadas a Taça Brasil. O Amazonas tomou parte a partir de 1964, ano da profissionalização do futebol no estado. Mas ficou de fora em 1967. Houve também o torneio Roberto Gomes Pedrosa, entre 1967 a 1970, com clubes de Pernambuco, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Os clubes amazonenses conquistaram somente quatro acessos de divisão. E só três valeram, pois o América perdeu na Justiça Desportiva o direito de disputar a Série C de 2010. Em 1999 o São Raimundo foi o vice-campeão da Série C, atrás apenas do Fluminense (RJ) e passou à segunda divisão. Em 2010, um ano após a criação da Série C, o América foi vice-campeão, mas perdeu o acesso para o Joinville (SC) por uso irregular de um jogador. Em 2019, em sua segunda participação na Série D, o Manaus FC/AM também foi vice-campeão e subiu. Ano passado, em sua estreia em competições nacionais, o Amazonas terminou em terceiro lugar na Série D e subiu um degrau.
O levantamento do ATUAL considera as competições de primeira divisão como Série A, independente do nome usado nas diversas edições, desde 1971. A Série B corresponde à segunda divisão. A terceira divisão é considerada Série C, desde a primeira disputa, em 1981, com o nome de Taça de Bronze. A quarta divisão, criada em 2009, é tratada como Série D.
Apoio político
No tapetão, os clubes esperam maior apoio da FAF (Federação Amazonense de Futebol), que teve a direção renovada após 30 anos sob administração única de Francisco Dissica Valério Tomaz. “A FAF já está contribuindo junto ao diretor nacional de competições da CBF Julio Avellar. A FAF já interviu para mudar horários, locais e datas de jogos para ajudar os clubes. A FAF está intermediando contratos e patrocínios com o governo do Estado para ajudar os clubes. A FAF também atuou para que os estádios estivessem aptos a receber jogos nacionais, com laudos atualizados”, diz o presidente da entidade Ednaílson Rozenha.
Fernando Gaúcho, do Nacional, disse que essa presença da federação é importante. “O apoio é fundamental. Quando a gente entra numa competição como o Campeonato Brasileiro, estamos representando o Estado. É importante que a federação esteja sempre conosco, como já propôs, através do presidente, de estar nos apoiando. Em todas as partidas vai estar junto conosco”.