Por Alessandra Taveira, da Redação
MANAUS – Para atingir metas que asseguram receber um 14º e 15º salários, professores da rede pública de ensino municipal em Manaus têm dois desafios na pós-pandemia: trazer o aluno de volta à sala de aula e recuperar o conteúdo curricular. Ou seja, estimular o estudante a retomar o gosto pelo ensino presencial e pelo aprendizado.
As metas estão definidas em índices que as escolas precisam alcançar em vários itens como o mínimo de abandono escolar e o máximo de aprendizado para melhorar o desempenho em avaliações nacionais como a Prova Brasil.
A carta de metas deste ano mantém os mesmos parâmetros de 2019 para todas as escolas – não houve mudanças devido à pandemia. A reportagem do ATUAL selecionou e conversou com a gestão de duas escolas municipais localizadas na zona leste da capital: a Pintora Tarsila do Amaral e a Professor Themístocles Pinheiro Gadelha.
No gráfico abaixo consta o rendimento dos alunos matriculados em ambas nos quesitos: Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica); Prova Brasil (português e matemática) e Fluxo Escolar (média percentual da nota de aprovação, reprovação e abandono). Neste caso, os indicadores apresentados aqui se referem ao ensino fundamental.
A nota do Ideb é projetada pelo Ministério da Educação, enquanto a Carta de Metas é projetada pela Secretaria Municipal. Pelo MEC, a Themístocles tinha projetada a média de 4,1 e obteve 4,6. Para este ano, a gestão explica que a escola tem que atingir 5,2 no Ideb.
A Tarsila precisa alcançar a média de 6,7. Na Prova Brasil, a Themístocles deve obter 538,34 pontos e a Tarsila, 476,62 pontos. Com relação ao Fluxo Escolar, a Tarsila garantiu 97,8% de presença do alunado, enquanto a Themístocles, 92,22%.
As gestões devem se basear nos indicadores do documento. No caso de reprovação e evasão, por exemplo, esses números devem ser, possivelmente, minimizados ou igualados. O percentual de aprovação, por outro lado, deve ser superado.
Na Themístocles: a aprovação no ensino fundamental deve chegar, pelo menos, a 92,3%; a reprovação deve chegar a, no máximo, 3,9%, e a evasão não deve ultrapassar os 3,81%. Na Tarsila: a aprovação deve ser de 97,63% dos alunos; a reprovação deve ser de até 2,27% e o abando não deve passar os 0,10%. Neste caso, os desafios da Tarsila são menores, visto que reprovação e abandono estão em índices menores.
Em números reais, o percentual de abandono nas duas escolas representa que: a Themístocles não deve deixar que 43 (ou mais) alunos abandonem os estudos e que a Tarsila deve garantir que a evasão não chegue a dois alunos da instituição.
“Não é algo inatingível”, diz Daniele dos Santos, gestora da Escola Municipal Professor Themístocles Pinheiro Gadelha, sobre as metas pactuadas junto à Semed. A escola localizada no Bairro Jorge Teixeira, na zona leste, atende 1.144 alunos matriculados nos anos finais do ensino fundamental (6º, 7º, 8º e 9º), distribuídos entre os turnos matutino, vespertino, e o EJA (Educação de Jovens, Adultos e Idosos) no noturno.
A gestora afirma que a maior dificuldade para “bater” as metas de 2021 será no abandono escolar. Na Themístocles, ela explica que, das sete turmas de 6º ano do turno vespertino, houve, em média, a perda de dois alunos, com faixa etária entre 12 e 14 anos, por turma. Em contrapartida, no turno matutino, a evasão foi baixa. “Percebemos que a participação dos pais [dos alunos da manhã] é bem mais efetiva e eficaz”.
“O diferencial deste ano, que talvez seja o mais difícil, é a questão da taxa de abandono porque, infelizmente, nós não conseguimos atingir 100% do nosso alunado de forma on-line. Quando o retorno semipresencial ocorreu, nós observamos que grande parte desses alunos que não tinham condições de participar de forma on-line retornou”, disse a gestora.
Os motivos, segundo Daniele, são questões sociais, falta de participação da família no processo ensino-aprendizagem, moradia em áreas de risco e em áreas onde o tráfico é intenso.
A gestão da escola montou um plano de intervenção pedagógica para resgatar não somente a frequência dos alunos nas aulas como também o conteúdo perdido e as notas em declínio. Daniela afirma que com o retorno 100% presencial das aulas em agosto “houve um retorno quase que de 80% do nosso grupo”.
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Conteúdo perdido
Para Elio Nascimento, gestor da Escola Pintora Tarsila do Amaral, também no Bairro Jorge Teixeira, a maior dificuldade na educação pós-pandemia é o retorno, trazer os alunos de volta. Ele conta que, no período de aulas em casa, muitos não se engajavam com o conteúdo ministrado por não ter acesso à internet ou por ter aproveitado a maratona em casa para viajar ao interior [do estado] com a família.
“Recuperar o conteúdo que se deixou de aprender vai ser complicado. Eles [os alunos] ficaram defasados, o conteúdo que deveria ter sido aprendido no ano passado, não foi assimilado” , disse. O bom rendimento nos exames do Ideb (a Prova Brasil) é o foco do gestor, uma vez que a evasão na Tarsila não foi tão alarmante.
“Uma característica da nossa escola é de não selecionar alunos. No retorno, às vezes, aparecem alunos que começam do zero. Eles precisam de um acompanhamento maior. Essa é uma peculiaridade da nossa escola. Nosso trabalho aqui é possibilitar que esses alunos aprendam”, disse Elio.
Com 1.068 alunos matriculados na educação infantil e no ensino fundamental I, o abandono se refletiu mais nas turmas de 5º ano: “no máximo um ou dois alunos deixaram de comparecer às aulas. Fomos buscá-los em casa e tudo se resolveu”.
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“Temos chamado as famílias para essa parceria com a escola, de modo que acompanhem os filhos. Fazemos cerimônia com premiação e medalhas para estimular os alunos, para que eles vejam que têm capacidade de ser sempre melhores”.
Elio explica que uma outra alternativa para alavancar os indicadores da educação é a de bonificar os docentes. Na primeira semana de outubro, a Prefeitura de Manaus anunciou que vai pagar 14º e 15º salários aos professores que reduzirem a evasão escolar nas unidade de Manaus.
Cada escola vai seguir seu parâmetro de percentual de aprovação e de redução do abandono conforme projetado em tabela da Carta de Metas.
No caso da Tarsila, Elio explica que se a escola conseguir obter 99,51% na taxa de aprovação no 1º ano do fundamental, os professores dessa série irão receber o 14º salário. Isso ocorrerá também com o 2º ano (100%), com o 3º ano (94,55%), com o 4º ano (95,90%) e com o 5º ano (99,29%).
O “bloco pedagógico” – que envolve o 1º, 2º e 3º anos, conforme estabelece a Lei Municipal nº 033/CME/2013 – receberão, além do 14º, o 15º salário.
Veja abaixo o caderno de metas para cada escola: