
Por Milton Almeida, do ATUAL
MANAUS – “Percebi que o barranco se movia e fui para a parte detrás da casa, de repente, a parede caiu perto de mim e o barro invadiu a casa”, assim começa o relato do estudante de 13 anos, Alexandre Cavalcante, que se salvou do deslizamento de terra causado pela chuva que castigou Manaus na tarde de sexta-feira (24), no beco Nossa Senhora da Conceição, em Petrópolis, zona sul.
Neste sábado (25), a família voltou à casa para retirar os eletrodomésticos e pegar algumas roupas, sujas pelo barro. Alexandre e o pai, Alessandro Cavalcante, passaram a noite em um quarto alugado.
“Eu saí para trabalhar de manhã e na residência ficou o meu filho. Por volta das 14h, com a chuva forte, o barranco começou a deslizar e a terra tremeu, e meu filho correu para o banheiro com os cachorros e viu o barro entrar violentamente pela janela do quarto dele, destruindo a parede”, diz Alessandro, proprietário da residência afetada.
Alessandro Cavalcante é formado em Pedagogia, mas trabalha no setor de compras de uma loja de material de construção. Tem três filhos. Mas na hora da tragédia, somente o filho mais velho, de 13 anos estava em casa.

“Ninguém esperava essa quantidade imensa de água. No ano passado, no mês de março, aconteceu uma situação parecida. A prefeitura promete muita coisa, mas, na verdade, recebemos um auxiliozinho que mal paga o aluguel, porque no aluguel você tem que pagar água e luz, e com esse auxilio você não consegue pagar”, diz o pedagogo.
Segundo Alessandro, o barro que desceu de uma área próxima à rua Dona Raquel, em Petrópolis, empurrou a parede do quarto do filho, arrastou tudo que havia dentro e foi em direção ao quarto ao lado. Duas paredes foram destruídas e a água da chuva inundou os outros cômodos da casa.
“A minha situação é essa. A tragédia acontece pela segunda vez, perdi quase tudo, estou morando de aluguel, porque o auxílio não vem de imediato como você precisa, você tem que provar uma série de coisas para a prefeitura, mesmo vendo a nossa situação. Então, essa é a minha situação”, diz Alessandro.

Para Adorea Rebello, doutora em Geografia Física e professora da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) as chuvas são mais intensas e defende que a população deve ser avisada, para evitar desastres naturais.
“Agora é o momento de começar a política de prevenção contra os acidentes causados pela chuva, principalmente na área leste da cidade, o que inclui os deslizamentos e inundações em toda a capital, principalmente na parte central”, diz.
“Margens de rios, encostas e fundos de vales são as unidades geográficas que necessitam de maior atenção das autoridades locais e as pessoas que moram nesses lugares são as mais vulneráveis aos desastres. Portanto, os serviços de monitoramento de chuvas devem avisar com antecedência à população”, complementa.

Soluções a longo prazo
O vice-prefeito de Manaus e secretário de Obras, Renato Junior, afirma que a Prefeitura de Manaus tem compromisso com soluções a longo prazo.
“A meta do prefeito David é garantir uma infraestrutura preparada para os desafios climáticos, com investimentos constantes em drenagem, limpeza de bueiros e projetos de sustentabilidade. O trabalho é árduo, mas estamos determinados a oferecer mais segurança e qualidade de vida para os cidadãos manauaras”.
Para 2025, a Prefeitura vai ampliar a atenção em bairros contra alagamentos, fortalecendo os trabalhos iniciados em novembro de 2024, quando foram implementadas intervenções estratégicas em 118 pontos críticos, com foco na limpeza e desobstrução de bueiros, dragagem de igarapés e recuperação de redes de drenagem.