Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – O instrutor de dança Gledson Oliveira da Silva usou o cenário da cheia no município de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) e regionalizou o clássico mundial do balé “Lago dos Cisnes”, do compositor russo Piotr Ilitch Tchaikovs. Inspirado nas garças da Amazônia, fez um ensaio com a filha, a bailarina Aglynes Máina, 13, sobre as pontes erguidas para acesso às casas.
Gledson trabalha no Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro de Parintins e é acadêmico do curso de Artes Visuais da Ufam (Universidade Federal do Amazonas). Ele conta que a ideia surgiu na disciplina de Introdução à Fotografia.
O instrutor afirma que quis fazer uma performance artística e já tinha em mente algo que retratasse as partes alagadas do município e a dança. “O que eu tinha em mente era ‘vamos fazer em alguma ponte que tenham algumas casas no fundo, uma parte de vegetação, que tenham umas crianças, algo assim’. Para fazer esse contraste, trazendo a leveza do balé clássico e atrás como fundo esse contraste com a realidade a qual estamos enfrentando, que são as enchentes dos rios”, diz.
Gledson conta que no processo observou que as garças, aves comuns na Amazônia, estavam mais próximas das casas devido à subida dos rios. “Então eu imaginei que como nós temos no balé clássico o Lago dos Cisnes eu falei assim: ‘por que não regionalizar isso? Por que não fazer algo como O Rio das Garças, O Lago das Garças’? E ao mesmo tempo que a bailarina vai estar ali ela vai estar simbolizando uma garça, na leveza, pureza, movimento”, explica.
O artista batizou a performance fotografada de “Elevé Acaraú”, que quer dizer “elevação do rio das garças”.
“Elevé é um nome francês, um movimento do balé clássico, que significa elevar. Então a maioria dos movimentos que ela está fazendo ela está na ponta do pé. E já também fazendo uma analogia com a elevação do nível das águas. Aí eu fui pesquisar um nome regional e encontrei na língua Tupi Guarani o nome acaraú, que é uma junção de dois nomes e quer dizer ‘rio das garças’”, diz.
Aglynes Máina afirma que no início ficou nervosa com a ideia. “Eu não imaginei como seria fazer posições de balé em cima de pontes”, diz. “Quando chegamos lá as pessoas ficaram olhando para a gente, crianças correndo e brincando lá. E no começo foi muito diferente de tudo o que eu já fiz”, relata.
A bailarina diz ter ficado alegre com o resultado. “Nunca imaginei que ia ter tanta repercussão. Fiquei muito feliz de ver crianças apreciando o nosso trabalho”, afirma.
Aglynes pretende fazer cursos de dança fora do Amazonas e retornar a Parintins para ensinar outras crianças. “O meu maior sonho é ser uma grande bailarina e ser reconhecida pelo meu trabalho. Eu sonho em viajar e conhecer cidades como Joinville (SC), que é a cidade do Bolshoi, que tem bailarinas profissionais lá”, conta.
Gledson disse que a filha dança desde os três anos e já ganhou concursos. “Ano passado ela ganhou em segundo lugar o primeiro festival de dança on-line realizado pelo Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro de Manaus, onde estavam vários bailarinos a nível estadual”, diz.
A bailarina já representou o município em Manaus no Festival Dança Criança e ganhou o concurso Sapatilha de Ouro, em Parintins.