
Já passa de um ano o lançamento do Pacto Educativo Global (15 de outubro de 2021) em que o Papa Francisco convida o mundo católico a se mobilizar em torno de uma educação que favoreça um novo humanismo engajado na formação de sociedades solidárias, proféticas e sustentáveis. Tal Pacto ecoa as preocupações do pontífice que busca responder aos desafios contemporâneos das nossas sociedades.
Esta nova iniciativa apresenta uma proposta educacional diferente das formações e mentalidades orientadas para a intolerância, o racismo, a violência e a devastação ambiental. O Pacto propõe resgatar uma educação que considere a complexidade do ser humano e sua relação com o meio ambiente. Não convêm que o ser humano se reduza à vida econômica e tecnológica, ignorando tantas outras potencialidades, como a alteridade, a espiritualidade, a gratuidade e a solidariedade.
A educação não pode ser reduzida aos aspectos acadêmicos e intelectuais, projetando-se como uma prática desconectada da realidade socioambiental. É necessário que ela forme o ser humano na sua integralidade lançando-o na construção de sociedades democráticas e plurais. É uma educação integral que respeita a complexidade e a diversidade de formas de vida, questionando o modelo econômico e social que provoca doenças físicas e psicológicas, desigualdades sociais e a deterioração planetária.
Na Carta Laudato Si (2015), Francisco adverte sobre a importância de uma mudança de rota, mostrando a necessidade de que a humanidade mude sua forma de habitar o Planeta em virtude dos impactos prejudiciais causados pelo nosso estilo de vida ao meio ambiente e a manutenção das nossas sociedades e da humanidade. Trata-se de criar ou permitir a emergência de estilos de vida mais sintonizados com a natureza e com as necessidades reais dos seres humanos e não humanos.
A Educação propugnada pelo Pacto Global ressalta a responsabilidade de ser humano como cuidador do planeta, competindo a ele desenvolver sociabilidades dialógicas e abertas ao conhecimento e reconhecimento dos outros como sujeitos de direitos e dignidades invioláveis. Estilos de vida capazes de interagirem respeitosamente com a natureza e menos capturados pela tirania do dinheiro e do consumismo desenfreado. Subjetividades dispostas a se mobilizarem pela construção da paz e colocarem em curso iniciativas que promovam o bem comum e a fraternidade universal.
Trata-se de fomentar posturas colaborativas que procuram estabelecer vínculos e redes abrangentes dispostas a encontrar soluções para os principais problemas da humanidade, levando em consideração as necessidades das populações mais vulneráveis e reconhecendo o seu direito de viver decentemente e livres de coações e agressões.
O Pacto Educativo Global constitui mais uma semente lançada do mundo que procura produzir frutos de esperança neste terreno já bastante castigado pela violência, pela indiferença e pela devastação ambiental. É temível que o mundo educativo seja capturado pela economia de mercado para responder a interesses estreitos e reducionistas, mas espera-se dele que desempenhe papel relevante na formação de sociedades capazes de levarem a termo a realização da vida, inclusive da vida humana.
Sandoval Alves Rocha Fez doutorado em ciências sociais pela PUC-RIO. Participa da coordenação do Fórum das Águas do Amazonas e associado ao Observatório Nacional dos Direitos a água e ao saneamento (ONDAS). É membro da Companhia de Jesus, trabalha no Intituto Amazonizar da PUC-Rio, sediado em Manaus.
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