Por João Victor Passos de Freitas, especial para o ATUAL*
CAMPINAS (SP) – O esforço do ex-presidente Lula (PT) de ampliar o leque de alianças para a disputa presidencial deste ano movimentou os arranjos nas coalizões regionais. O petista esperava receber apoio de diversos caciques do MDB e PSD, ainda no primeiro turno das eleições. No Amazonas, por exemplo, as adesões dos senadores Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD) ao palanque do ex-presidente era visto como um aceno ao comando nacional dessas siglas.
A decisão de Lula em apoiar às campanhas de Eduardo Braga (MDB) ao governo do Amazonas e Omar Aziz (PSD) ao senado vem surtindo efeitos após a oficialização das candidaturas. Braga, que demonstrou em diversos momentos uma incerteza em continuar com sua pré-candidatura, colhe os resultados da aproximação dos partidos e movimentos sociais ligados a campanha do ex-presidente. Omar, iniciou a campanha eleitoral atrás em diversas pesquisas, tentando se firmar como um candidato de centro-esquerda ao lado de Lula para polarizar uma campanha contra o candidato Coronel Menezes (PL) apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Os interesses em surfar na onda de popularidade do ex-presidente ocorreu pelo cenário imprevisível e disputado que as campanhas de Braga e Omar estão enfrentando nesta eleição. Em pesquisas da Real Times Big Data em julho (26/07), Braga marcava 17% das intenções de votos bem atrás de Amazonino Mendes (Cidadania) e Wilson Lima (União Brasil), ambos empatados na margem de erro com 30%. Na disputa pelo senado, Omar estava nesse mesmo período em segundo lugar com 19% das intenções de votos, empatado na margem de erro com Arthur Virgílio (PSDB) com 22% e Coronel Menezes (PL) com 16%.
Apesar de serem nomes conhecidos dos eleitores amazonenses, Braga e Omar se apegam à expectativa de colarem suas imagens na campanha de Lula. Esse otimismo passa pelos números positivos que o ex-presidente tem no Amazonas desde eleição de 2002, quando conquistou seu primeiro mandato.
Durante os oito anos de mandato de Lula (2002–2010), houve uma expressiva mudança nos contornos geográficos de sua base eleitoral, com um aumento significativo do seu percentual de votos nos interiores do Amazonas. Em 2002, Lula conseguiu vencer em 28 dos 62 municípios, cenário totalmente diferente em 2006, quando o ex-presidente venceu em todos os 62 municípios.
O domínio do PT nos municípios do interior continua nas eleições de 2010 e 2014, com Dilma Rousseff (PT). A ex-presidenta se elege nas duas eleições com mais de 70% dos votos válidos, derrotando os seus adversários em todos os 62 municípios. Contudo, as eleições de 2014 demonstravam um desgaste do PT na capital. Em 2010, Dilma vence em Manaus com 70% dos votos válidos, enquanto nas eleições de 2014 ela obteve 56% dos votos válidos do segundo turno.
Nas eleições de 2018, o PT mantém a ampla maioria nos municípios do interior, mas não consegue vencer a eleição em votos absolutos. Fernando Haddad (PT) obtém vitória em 60 municípios, enquanto Jair Bolsonaro (PL) vence somente em 02 (Apuí e Manaus). Porém, Bolsonaro consegue se eleger com grande margem em Manaus (município com o maior número de eleitores), obtendo 65% dos votos válidos, diferença que os municípios do interior não conseguem tirar. No resultado dos votos válidos do segundo turno, Bolsonaro vence com 50,3% contra 49,7% de Haddad, desfazendo a hegemonia de quatro vitórias presidenciais seguidas no estado.
Mesmo com a diminuição dos percentuais de votos na capital, os municípios do interior se mantêm como o principal reduto eleitoral de Lula. O principal fator responsável por esse movimento de inversão geográfica na base eleitoral foi a política de transferências diretas de renda dos programas sociais implementados no primeiro mandato, em especial o Bolsa Família.
De acordo com os dados do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM), os eleitores residentes nesta eleição na capital correspondem a 53,48%, enquanto os que residem no interior equivalem a 46,52%. Braga sabe da importância dos eleitores interioranos, em sua reeleição ao governo em 2006: 59% dos eleitores do interior votaram nele, contra 45,45% dos eleitores da capital.
Nas eleições de 2018, Braga concorreu à reeleição ao senado ficando na segunda colocação: os eleitores do interior corresponderam a 67,07% dos votos; da capital, somente 32,93% dos eleitores votaram na permanência do senador. Braga amargou a quarta colocação na capital, com somente 200 mil votos válidos, enquanto no interior o senador teve mais de 400 mil votos.
As estratégias de Braga e Omar para surfarem na onda de popularidade do ex-presidente passam por duas frentes: 1) nacionalizar o debate, associando o governador Wilson Lima (União Brasil) ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e todo o desgaste com a condução da pandemia da Covid-19, o crescimento da miséria e da fome nas classes mais populares; 2) ressaltar os legados dos seus últimos governos, comparando a defesa da Zona Franca de Manaus, a geração de emprego e o poder de compra que os eleitores tinham nas décadas passadas, quando Braga e Omar foram governadores e o PT governava o Brasil.
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*João Victor Passos de Freitas é mestrando em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas, graduado em Ciências Sociais pela UFAM e escreve e pesquisa sobre política na região Norte.