Todos temos deveres para um bom convívio em sociedade e o mínimo respeito é um dos mais importantes. Respeitar o planeta, seu meio-ambiente e os demais seres humanos deveria ser uma condição mínima para qualquer cidadão. Ao longo dos últimos anos temos tido dificuldade nestes aspectos e é fundamental recuperar a capacidade de dialogar e de conviver.
Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, autores do livro “Como as democracias morrem” analisaram que o institucionalismo em ciência política é um dos elementos para a estabilidade democrática e as regras informais de respeito possuem grande importância. O desrespeito sistemático para regras escritas e para as regras não escritas, conduzem as democracias para a morte. Precisamos recuperar a capacidade de proteção da democracia – não podemos achar normal ou desejável destruir o meio ambiente ou qualquer instituição duramente constituída. Isso é inadmissível, sob qualquer pretexto.
O grande desafio das democracias passa pela capacidade de evoluir suas instituições e, a partir delas, a melhoria da sociedade. Ao invés de “como destruir” devemos criar o hábito de “como melhorar”. Com uma atuação sistemática poderemos evoluir o Brasil e a Amazônia, levando a uma mudança de patamar. Acontece que, nos últimos tempos, ficamos em círculos, entre a destruição ativa e a destruição disfarçada.
Nesta transição de Governos, é dever da sociedade organizada daqui propor melhorias institucionais. Entendo que existem oportunidades infinitas, mas destaco apenas cinco melhorias de rumo: (1) revogação de todos os decretos relativos ao IPI que afetam negativamente a ZFM e a sua indústria; (2) Ajuste do foco da Suframa para uma pauta vinculada com a Indústria 4.0 e o crescimento da produção do Polo Industrial de Manaus, com a correção das deficiências históricas, para um dia pôr fim aos incentivos fiscais, afastando-se de pautas ligadas ao agronegócio e à mineração; (3) Ampliação do investimento e infraestrutura para a ciência, tecnologia & inovação, construindo pontes entre as instituições federais e o empresariado local e global, que queiram se tornar locais, nos setores avançados em tecnologia e biotecnologia – inclusive com a atração de nômades digitais; (4) Ampliação da atuação dos órgãos de Ciência & Tecnologia para a pauta de inovação tecnológica sustentável na Amazônia; (5) Investimento de 2,5% do PIB da região em uma infraestrutura sustentável e que faça as correções de um abandono secular.
Precisamos exercer o dever de pautar o que é importante para a Amazônia e o Amazonas, afinal somos partes de um só país e precisamos estar integrados ao restante do Brasil e ao processo decisório sobre o nosso futuro. Construir a partir daqui as prioridades para o nosso destino é uma evolução necessária; precisamos migrar da destruição para uma criação de riqueza. Precisamos sair de uma pauta do passado e passar para uma pauta de construções de um futuro próspero, sustentável e responsável; precisamos emanar da Amazônia o que se quer para a Amazônia e deixar de ignorar os seres humanos que estão por aqui, desde sempre.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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