
Da Redação
MANAUS – O procurador da República que atuou na Operação Arquimedes, Leonardo Galiano, disse, em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira, 10, que o ex-deputado Orlando Cidade, um dos alvos da nova fase da operação deflagrada nesta quarta, interferiu na produção de relatórios de fiscalização para favorecimento de empreendimento de pescado.
Galiano informou que através de monitoramento telefônico foram identificados diálogos de 2018 de Orlando com servidores de órgãos de fiscalização (o procurador não quis informar quais órgãos) para interferir na produção de relatórios solicitados por ação do MPF (Ministério Público Federal).
“No curso dessa investigação, no ano de 2018 foram identificados diálogos desses servidores acionados pelo investigado, ex-deputado Orlando Cidade, interferindo sobre a produção de relatórios de fiscalização que seriam apresentados para a Justiça Federal em razão de uma ação civil pública ajuizada pelo MPF no qual houve o deferimento a liminar embargando o empreendimento Coper Peixe”, diz Galiano.
Segundo o procurador, nessas conversas o ex-deputado, com a ajuda de servidores, falsificava informações nos relatórios pedidos. “Por conta dessa interferência sobre o próprio processo judiciário em curso e também cooptação de servidores com o intuito de elaboração de documentos falsos, os relatórios que não refletiam a realidade e licenciamentos fraudulentos, foi necessária a obtenção desse aprofundamento investigativo”, explica Leonardo Galiano.
Busca e Apreensão
Na manhã desta quarta-feira, a Polícia Federal deflagrou nova operação, desdobramento da Operação Arquimedes, que cumpriu mandado de busca e apreensão na residência do ex-deputado estadual. O conteúdo do material apreendido não foi informado e, de acordo com Galiano, ainda está em análise.
“Esse material vai ser devidamente apurado perante a Polícia Federal em conjunto com o MPF. E em conjunto com as provas que já foram angariadas, foram delimitadas antes do cumprimento desse mandato, vão ser adotadas medidas de persecução criminal inerentes a esses crimes que foram objeto da investigação”, disse Galiano.
Sobre o andamento do desdobramento da operação deflagrado nesta quarta-feira, o superintendente da PF, Alexandre Saraiva, disse ainda ser sigiloso. “As diligências foram cumpridas hoje pela manhã, então nós não vamos fornecer informações a respeito dessa nova investigação”, disse.
Outro lado
O ex-deputado Orlando Cidade negou qualquer envolvimento com crime ambiental, em nota distribuída aos meios de comunicação. Ele disse que provará sua inocência, idoneidade moral e ilibada conduta.
Leia a íntegra da nota:
NOTA DE ESCLARECIMENTO À IMPRENSA E À SOCIEDADE
Em atenção à sociedade e à imprensa, em virtude da extensão da Operação “Arquimedes”, que refletiu sobre sua pessoa, o ex-deputado estadual ORLANDO CIDADE esclarece que não possui conexão com os fatos ou agentes investigados pela mencionada Operação. Que ainda não possui as informações sobre o processo, mas que, mesmo assim, convicto de sua lisura, não ofereceu resistência aos procedimentos operados pela Polícia Federal.
Que provará por todos os meios legais sua inocência, idoneidade moral e ilibada conduta com a qual luta pelo setor primário do Amazonas. Ele está a disposição das autoridades.
Fiscalização dos Portos

Durante a reunião, os representantes da operação informaram ainda sobre o andamento das investigações sobre a fiscalização dos portos no Amazonas. “Foi verificada principalmente a fragilidade da fiscalização no comércio de cabotagem, ou seja, aquela realizada entre dois estados da federação com trânsito de mercadorias para outros portos brasileiros”, disse Leonardo Galiano.
Segundo o procurador, um grupo de trabalho vai atuar para implantar uma fiscalização portuária em parceria com órgãos de fiscalização. “Então por conta dessa questão foi instaurado um grupo de trabalho com a presença de órgãos estratégicos que vão buscar nas próximas reuniões, nos próximos meses, uma maior sintonia para que a fiscalização portuária, que tem uma importância estratégica enorme para o Amazonas, seja realizada a contento”.
O foco serão cargas avaliadas como ilícitas, diz Galiano. “Seja ela para fiscalizar tributos, mas também, principalmente, com o intuito de se verificar o trânsito de mercadorias ilícitas. Seja ela madeira, drogas, armas e quaisquer outras mercadorias que sejam transportadas”, afirma.
A principal dificuldade da fiscalização seria o volume de cargas que trafegam nos portos amazonenses diariamente. “O porto tem uma logística complexa, são muitas cargas. Manaus é uma cidade com uma economia muito forte, então o volume de cargas é muito alto. Selecionar quais cargas serão vistoriadas e quais não serão é um dos desafios que nós temos enfrentado”, explica.
De acordo com Alexandre Saraiva, um posto da PF será implantado no sul do Amazonas para facilitar a fiscalização. “Nós estamos já na parte final para a implantação de um posto avançado da Polícia Federal na região (sul do Amazonas). Vai contar com delegados, agentes e também um escrivão. Vamos buscar parceria com o Ibama, com o Ipaam, com todos os órgãos interessados para que nós possamos investigar no nascedouro esse tipo de ilícito”, informa.
Segundo Saraiva, a medida é uma forma de também coibir o desmatamento, que ainda permanece, diz. “O que nós percebemos é que apesar do sucesso da Operação Arquimedes, infelizmente o desmatamento tem continuado em ascensão”, lamenta o superintende da PF.