Em meu sentimento, uma banda ou posta de tambaqui é mais que um símbolo de Manaus. Quando retorno de alguma viagem distante, depois de rever a família, uma das maiores alegrias é saborear esta iguaria preciosa de nossa culinária. Isso se tornou relativamente fácil por conta de iniciativas empresariais locais, com a escala na produção por meio de viveiros, somada com técnicas de preparo, levando a uma popularização do peixe.
Quem quiser verificar comentários no Trip Advisor, Google ou serviços semelhantes, perceberá que os turistas também adoram. Um deles disse que almoçou e jantou em um determinado restaurante no dia da despedida de Manaus de tão encantado que ficou com o sabor. Produtos que marcam regiões são assim: nascem pouco a pouco e a tecnologia associada para a sua produção é uma soma de esforços de toda a cadeia produtiva, desde a natureza até o mercado consumidor.
Agora nos faltam os próximos passos: como colocar este peixe congelado em caixas e depois em contêineres refrigerados para ganhar o mundo? Quais as tecnologias necessárias? Quem vai encarar este projeto inovador? Como desenvolver mercados globais que queiram consumir nosso pescado? Este esforço não é trivial e somente com muita concentração e energia ele poderá ser superado.
Na Espanha, a empresa Pescanova começou com este espírito a partir no interior de uma região periférica e hoje opera em 24 países. Também lá, a marca Paellador conseguiu montar uma carteira de produtos baseados na paella, em suas diferentes versões. Eles sintetizaram em kits para restaurantes, simplificando o preparo da iguaria Valenciana e as alterações de outras regiões (e também conseguiram a pecha de armadilha para turistas nos comentários sobre restaurantes de Barcelona).
Precisamos de um grupo de pesquisadores e empresários locais que encarem o desafio de fazer o passo seguinte ao Tambaqui de Banda, que é o Tambaqui Congelado na Caixa. É necessário juntar Engenheiros de Alimentos, Engenheiros de Pesca, Chefs Locais, Especialistas em Transporte, Companhias de Navegação, Produtores de Peixe, Economistas, Advogados e assim por diante. O que falta para fazermos isso?
Certamente existirão barreiras de volume de produção, de regulagens toscas que atrapalham, de puristas que falarão que o “sabor não é tão bom quanto na beira do Rio Negro” etc. Críticos temos de todo o tipo. Faltam os empresários, inovadores e capitalistas para fazer este produto. Se nós gostamos, há boas chances de o mundo gostar. Como disse Tolstoi, “fale de sua aldeia e estará falando do mundo”. Se nós gostamos de pizza da Itália ou sushi do Japão, por qual razão os moradores de lá não gostarão do Tambaqui?
A dificuldade de desenvolver nossa região talvez não seja pela falta de oportunidades, mas pelo excesso delas. Temos tanto com o que acessar mercados globais que nos atrapalhamos com a abundância de opções. Depois disso, há uma prática várias vezes repetida: quando se encontra algo interessante temos que colocar regras, restringindo e dificultando a vida do empreendedor. Será ótimo se o Governo do Amazonas em conjunto com a Suframa simplificarem todas as regras para que seja fácil produzir alimentos congelados em Manaus para mercados globais. Ou seja, SIMPLIFICAR o processo significará reduzir impostos, taxas, simplificar alvarás, licenças para cada minúcia, atendendo inicialmente mercados brasileiros e depois tentando alcançar mercado do exterior.
Fica feita a sugestão de uma nova cadeia produtiva definitivamente integrada ao nosso ambiente, construindo uma nova indústria alimentícia para este mundo tão carente de alimentos.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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