
Por Conceição Melquíades, do ATUAL
MANAUS – A disseminação de mentiras sobre as novas regras do Pix gerou uma onda de notícias falsas nas redes sociais sobre cobrança de impostos nas transações. A propagação de fake news se espalhou como vírus e está diretamente ligada a medos coletivos e à fragilidade emocional.
A psicóloga Raquel Cunha, especialista em saúde emocional, explica que o cérebro humano tende a acreditar em informações que confirmam crenças prévias ou que geram impacto emocional. Esse fenômeno, conhecido como viés de confirmação, torna mais fácil aceitar uma mentira que se alinha com o que já pensamos ou tememos.
“Filtrar informações nas redes sociais pode ser exaustivo, tanto por preguiça quanto pela falta de habilidades críticas para identificar fontes confiáveis”, diz Raquel. Ela ressalta que notícias alarmantes, como as fake news sobre o Pix, frequentemente geram emoções intensas como medo ou raiva que dificultam o pensamento racional.
O psicólogo André Ricardo Santos concorda com a colega de profissão. Especialista em engenharia social e segurança de dados virtuais, ele afirma que a vulnerabilidade das pessoas diante de informações enganosas é explorada por mecanismos de manipulação social.
“Muitas vezes o apelo à autoridade de figuras famosas ou influenciadores contribui para a aceitação de informações falsas. As pessoas tendem a seguir quem elas percebem como confiável, mesmo sem verificar a veracidade dos fatos”, explica.
André Ricardo afirma que o desejo de pertencimento social também desempenha um papel importante. “As pessoas não querem se sentir excluídas do que a ‘grande massa’ está fazendo ou acreditando. Isso as torna ainda mais suscetíveis a aceitar informações sem questionar”.
Para evitar cair nessas armadilhas, os especialistas recomendam buscar informações em fontes confiáveis como os canais oficiais da Receita Federal, portais governamentais e profissionais qualificados das áreas jurídica, contábil e econômica.
“Mesmo que a informação pareça verdadeira, é fundamental desconfiar da fonte e consultar sites confiáveis para verificar sua autenticidade”, alerta André Ricardo. A atenção e o senso crítico são as melhores ferramentas para combater a desinformação e evitar transtornos causados por fake news, segundo o especialista.
Difícil de punir
Para o advogado Reginaldo Souza de Oliveira, especialista em Direito Tributário e presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-AM, (Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Amazonas), essa propagação de fake news causa pânico social, mas punir os autores é difícil. “Não há nenhuma legislação específica que trate diretamente de fake news no Brasil, salvo em contextos eleitorais e casos pontuais, como calúnia, injúria e difamação”, lembra.
No caso do Pix, Reginaldo Oliveira ressalta que as instituições financeiras estão obrigadas a informar transações que ultrapassem R$ 5 mil por mês para pessoas físicas e R$ 15 mil para pessoas jurídicas. Esse controle, segundo ele, é “perfeitamente legal” e tem como objetivo coibir crimes financeiros como sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. “É descabida a divulgação de informações sobre uma suposta taxação do Pix”, afirma.
Trabalhadores e pequenos empresários podem continuar utilizando o Pix com segurança, pois suas transações não serão afetadas pelas novas normas, assegura o especialista.
Contudo, informações falsas sobre cobrança de imposto geraram preocupação entre pequenos comerciantes, alguns dos quais chegaram a evitar o uso do Pix por receio de custos futuros. Para Reginaldo, essa onda de desinformação demonstra o impacto das fake news que, ao serem amplamente disseminadas nas redes sociais, adquirem a aparência de verdade.