EDITORIAL
MANAUS – A disputa eleitoral de segundo turno para presidente da República virou um vale-tudo. Esse comportamento já era esperado, e é muito parecido com que ocorreu em 2018, quando Jair Bolsonaro (PL) disputou o segundo turno com Fernando Haddad (PT).
Neste momento impera a mentira, a propagação de fake news, com o objetivo de causar o medo nas pessoas. As propostas do candidato que as fábricas de fake news defendem não têm qualquer importância. O que importa é destruir a imagem do adversário, e se faz isso recorrendo-se a um discurso demoníaco.
Neste sentido, as igrejas evangélicas cumprem um papel deplorável. Transformam os púlpitos em palanques eleitorais e seus líderes não medem esforços para propagar a mentira. Estórias absurdas são contadas aos fiéis com a intenção de instalar o medo do inferno, do castigo de Deus, caso não votem no candidato que o pastor defende.
Uma igreja Assembleia de Deus em São Paulo, por exemplo, produziu um documento para ser distribuído aos fieis contendo um mar de mentiras contra o candidato do PT. O texto traz um posicionamento e orienta os pastores a se manifestarem contra “o posicionamento da esquerda, que defende uma cosmovisão contrária ao Evangelho e ao preceitos éticos e morais da Assembleia de Deus paulista”
Segundo o documento, a esquerda “defende pautas favoráveis à desconstrução da família tradicional, à legalização total do aborto, à erotização das crianças, à ideologia de gênero, à liberação das drogas ilícitas, à relativização da Bíblia Sagrada, à censura à liberdade religiosa e ao aparelhamento da educação com a ideologia marxista”.
Todas essas teses fazem parte do delírio dos defensores de Bolsonaro, que desde 2018 aposta na chamada “pauta de costumes” para ganhar a eleição, sem qualquer projeto político ou econômico para o país.
Funcionou em 2018 e a campanha de Bolsonaro e seus seguidores apostam que vai funcionar novamente neste ano. O primeiro turno, no entanto, deixou Lula com mais de 7 milhões de votos à frente de Bolsonaro, o que elevou o grau de propagação de mentiras por todos os poros da sociedade.
As redes sociais foram invadidas com inverdades para tentar convencer os menos esclarecidos a abandonar o candidato do PT. Absurdos como um desenho em que mostra homem em um banheiro usando o mictório ao lado de uma criança sentada ao vaso sanitário, apresentado como proposta da esquerda de criação de “banheiros para todos”.
A mesma igreja que produziu o documento citado acima tenta ligar Lula a seitas satânicas. E na internet surgiu um “influencer” autointitulado satanista que teria previsto a vitória do petista no primeiro turno. Esse vídeo passou a ser “viralizado” nas redes bolsonaristas.
As mentiras não se limitam às pautas de costumes, mas alcançam a economia. O bolsonarismo propaga uma mentira sobre a inflação no Brasil, como uma das mais baixas entre os países europeus, Estados Unidos e alguns países da américa latina com dificuldades financeiras.
A inflação no país disprou em 2020 e se manteve em alta durante dois anos. Só veio cair em julho deste ano. Mas deixou marcar profundas nas finanças das famílias. Com o mesmo salário de 2020, o trabalhador precisa fazer malabarismo para comprar o arroz e o feijão, que tiveram aumento de quase 100% no príodo.
O Brasil e seus problemas, que deveriam estar no centro do debate pelos candidatos e pelo eleitorado para se definir o voto, foi jogado para debaixo do tapete.
O que vale é instituir o medo do inferno. A mentira e os mentirosos, no entanto, pela tradição cristã, estão muito mais próximos do inferno do que qualquer outra coisa.