MANAUS – O aquecimento global parecia uma coisa do futuro, mas agora está no presente e chegou invadindo o país, na Amazônia e no Sul e agora volta para a Amazônia. Nem vivemos por aqui a fase do negacionismo, pois era um assunto simplesmente ignorado por todos, como se fosse uma questão de europeu ou asiático ricos e que estávamos isolados pela abundância da natureza.
Eis que a sazonalidade amazônica está novamente se encontrando com um extremo, após a catástrofe do Sul. Há aqui uma oportunidade de transcender o negacionismo climático e encontrarmos as políticas públicas, oportunidades econômicas com as necessidades das pessoas e do meio ambiente equilibrado.
Um estudo liderado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado em junho, incluindo dados do C3S concluiu que a temperatura global provavelmente excederá 1,5°C acima do nível pré-industrial nos próximos cinco anos. Este fato indica que, muito provavelmente, o evento extremo vivido no ano passado se tornará rotina. Precisaremos pensar em uma nova Amazônia, com menos hidrovias perenes e muito mais rios sazonais.
A ausência de chuvas percebida na região nos últimos 30 dias reforça esta percepção. O Acordo de Paris, firmado para conter o aquecimento global começa, pouco a pouco a ser desafiado, por seus métodos pouco claros e pelo compromisso, em certa medida, desigual entre os países.
Quem atua empresarialmente certamente repassará os custos de suas operações afetadas pelo aquecimento global e pela seca, como claramente demonstram todas as multinacionais que operam navios de grande porte na Amazônia com carga de contêineres – afinal, os custos são sempre repassados para os preços. Entretanto, comunidades isoladas, empresas em mercado locais não possuem esta oportunidade e começaremos a ter enormes prejuízos nos interiores da Amazônia.
Precisamos com urgência parar de olhar apenas para a emergência e começar a construir estruturas de convívio harmônico, próspero e de longo prazo para enfrentar o aquecimento global. Precisamos fazer um encontro das políticas públicas com as lógicas sociais, ambientais e econômicas nas cidades. Até aqui só temos cuidado das emergências e os aproveitadores de plantão não param de surgir.
Precisamos deixar de ignorar o aquecimento global e começar a atuar considerando que ele já chegou por aqui – para ficar e para transformar o mundo que conhecíamos. Há um novo mundo que precisará de novos paradigmas. Precisamos construir uma harmonia maior com a natureza e construir cidades mais sustentáveis, com transporte ativo, com ciclovias, maior arborização para aumentar o conforto térmico.
Cidades apenas para automóveis não fazem parte do século XXI. Precisamos de uma nova forma de urbanismo, com espaço para mais pessoas e mais natureza. A eleição municipal está chegando e a pauta da cidade precisa tomar conta dos debates. Estamos falando de tudo menos de problemas e de soluções para as cidades.
Precisamos sair das medidas genéricas e passar para as específicas. O transporte ativo, bicicletas e um novo urbanismo verde precisa ser o centro deste debate eleitoral.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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