O vocábulo mudança evoca a transformação. Os dicionários clássicos da língua portuguesa definem mudança como “ação, ato ou efeito de mudar, de dispor de outro modo. Mudança assusta porque é um substantivo feminino e, logo, tudo o que é feminino impacta?
Nos meus mais de 30 anos estudando migrações, entrevistando migrantes em diversos lugares do mundo, absolutamente todos e todas definem a migração como uma “mudança para melhor”. Por unanimidade, ninguém, absolutamente ninguém muda para pior. Para todos os migrantes ao redor do mundo, a mudança é eminentemente a esperança de melhorar de vida. E é essa esperança que coloca o migrante na estrada com a certeza de que vai melhorar suas condições de vida.
Voltando ao dicionário, mudança implica em “pôr em outro lugar, remover, deslocar; dar outra direção, desviar; tirar para por outro, substituir; transferir para outro local; alterar, modificar; trocar, deixar para outro, cambiar; fazer apresentar-se sob outro aspecto, transformar”. Todos verbos de ação que implicam transformações profundas. Em outras palavras, a mudança começa de dentro, exige esforço profundo num processo de metamorfose que é, novamente de acordo com nossos dicionários, “a mudança de uma coisa ou de um ser em outro, é a transformação da forma que passam os insetos e batráquios durante o período de seu desenvolvimento”. Nesse sentido, pode-se afirmar que a “metamorfose é a mudança no estado ou no caráter de uma pessoa, é a transformação física ou moral”, afirmam os dicionários.
Para além dos dicionários, a mudança é um processo interno e externo. Nada, nem ninguém muda sem passar por processos difíceis de transformação. Mas, para mudar é preciso abrir-se e preparar-se para aprender coisas novas, para reconhecer os erros do passado e revisar seus valores que implicam muitas vezes em rever equívocos, regras e compromissos. Tudo isso está profundamente arraigado no Processo Sinodal pelo qual passa a Igreja da Pan-Amazônia.
O Sínodo tem exigido muita coragem por parte dos bispos dessa imensa região que já passa por processos de intensas mudanças nessa caminhada sinodal. Isso nos leva a afirmar que a Igreja da Pan-Amazônia nunca mais será a mesma depois deste Sínodo. Realmente as mudanças já estão em curso e são muito profundas. Numa análise sociológica do processo sinodal, pode-se identificar que a principal mudança que o processo sinodal já colocou em andamento é o deslocamento do lugar da fala. O primeiro capítulo do Instrumentum Laboris (Documento de Trabalho do Sínodo), foi intitulado “a voz da Amazônia” e inicia-se com um epígrafe do Papa Francisco em Porto Maldonado, em janeiro de 2019 no encontro com os povos indígenas aos quais ele afirma: “É bom que agora sejais vós próprios a autodefinir-vos e a mostrar-nos a vossa identidade. Precisamos escutar-vos”.
É justo, porém, reconhecer que a Igreja, através de seus bispos e missionários(as) religiosos(as) ou leigos(as) engajados na causa indígena, de modo especial através do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, ou das diversas Pastorais Indígenas espalhadas por toda Pan-Amazônia, já têm feito um processo intenso de convivência, aprendizado e escuta dos povos indígenas. No entanto, essa relação ainda é muito recente e, pela primeira vez, os papéis são invertidos. Ao invés de chegar falando, anunciando, ensinando… são os agentes pastorais que se calam, escutam, observam, contemplam a vida e o cotidiano dos povos indígenas para aprender deles muitas lições de partilha, solidariedade, coletividade. Isso é se deixar amazonizar e essa atitude tem mudado profundamente a postura da Igreja em muitas realidades e contextos indígenas. Essa mudança não desqualifica o papel da Igreja junto aos povos indígenas, quilombolas e outras populações tradicionais da Amazônia. Muito pelo contrário. A Igreja tem se fortalecido muito com este outro modo de ser presença e atuação junto a estes povos.
Outra mudança já em curso no processo sinodal que merece especial atenção é a recolocação dos sujeitos. O segundo parágrafo do Instrumentum Laboris (página 07) afirma que “hoje a Igreja tem novamente a oportunidade de ser ouvinte nessa região, onde há muito em jogo. A escuta implica o reconhecimento da irrupção da Amazônia como um novo sujeito. Este novo sujeito, que não foi considerado suficientemente no contexto nacional ou mundial, nem sequer na vida da Igreja, agora constitui um interlocutor privilegiado”. Essa postura representa uma importante mudança de paradigmas rompendo com a relação de dominação.
Engana-se quem pensa que essas mudanças são ruins ou que trarão prejuízos para a Igreja. Muito pelo contrário. Todos os indícios apontam um grande fortalecimento da Igreja pós-sinodal. Mas, via de regra, toda mudança que realmente transforma, também incomoda e desestabiliza. Nos retira da zona de conforto. Isso às vezes dói, tira o sono, perturba. Mas, depois as situações vão se reajustando numa dinâmica permanente de transformação.
Talvez por isso alguns setores conservadores da igreja e da sociedade estejam tão incomodados com as mudanças que se colocaram em marcha já nesta fase do sínodo. De fato, são mudanças que não têm mais retorno. A metamorfose já está em processo e qualquer que sejam seus resultados, a Igreja da Amazônia nunca mais será a mesma. Os “insetos e batráquios”, as lagartas já estão em forma de pupa em pleno processo de metamorfose e, logo teremos revoadas de borboletas sobre toda a Amazônia. Sim, revoadas multicoloridas já enfeitam todo o continente e logo irão amazonizar outros setores da igreja e da sociedade. Preparemo-nos para mudanças profundas e maravilhosas.
Marcia Oliveira é doutora em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), com pós-doutorado em Sociedade e Fronteiras (UFRR); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, mestre em Gênero, Identidade e Cidadania (Universidad de Huelva - Espanha); Cientista Social, Licenciada em Sociologia (UFAM); pesquisadora do Grupo de Estudos Migratórios da Amazônia (UFAM); Pesquisadora do Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras: Processos Sociais e Simbólicos (UFRR); Professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR); pesquisadora do Observatório das Migrações em Rondônia (OBMIRO/UNIR). Assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM/CNBB e da Cáritas Brasileira.
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Para uma pessoa sem a fé católica pode parecer bom porém trata-se de mexer em doutrinas e tradições de mais de 2000 anos de cristianismo culminando em uma apostasia da fé e heresia. Isso não surpreende porque já estava previsto na escatologia da Igreja Católica. Isso que você chama de Igreja da Pan-Amazônia não é Igreja Católica e sim a falsa Igreja do anticristo. Nossa Senhora nos avisou e ainda está nos avisando em suas aparições. O dia do Senhor está mais próximo que a gente imagina.