
EDITORIAL
MANAUS – Andam espalhando até fake news a respeito da picanha, uma delas fala de um decreto de Lula rebatizando o corte “coxão duro” de “picanha”, com a intenção de descredibilizar as falas do candidato do PT na campanha eleitoral de 2022. Embora boa parte do eleitorado queira jogar terra no churrasco, a maioria entende o simbolismo da picanha nas palavras do agora presidente da República.
Primeiro é preciso que se diga que não se trata de uma promessa de campanha de Lula a oferta de picanha para a população, como os adversários espalhavam. O que ele dizia é que o povo brasileiro tem o direito de, nos finais de semana, comer um churrasco, uma picanhazinha acompanhada de uma cervejinha. Falava assim, no diminutivo.
A picanha é, no Brasil e em grande parte do mundo a carne mais nobre entre os cortes bovinos. Por isso, ela ganha um significado especial na frase de Lula. Não se trata de oferecer ou por à mesa um simples churrasco, precisa ser um churrasco de carne nobre. Uma picanha na mesa significa uma comida da melhor qualidade.
A picanha é apenas um simbolismo da alimentação do brasileiro, que apesar de viver em uma das terras que mais produz alimentos para o mundo, tem uma alimentação precária e inadequada. O próprio governo fala em 33 milhões de pessoas passando fome e 125 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.
A fome é caracterizada pela ausência de refeições diárias (pelo menos três) enquanto a segurança alimentar significa que apesar de a pessoa fazer ao menos três refeições por dia, não consegue nessa alimentação os nutrientes necessários para uma vida saudável.
O Brasil está entre os maiores produtores agrícolas do mundo. É o maior produtor de soja, apesar de os produtos derivados da soja no país estarem fora do alcance de boa parcela da população. É o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, mas os mais pobres só conseguem comprar a carcaça ou a carne de terceira qualidade.
Apesar de o Brasil ser o terceiro maior produtor mundial de carne de frango, é o maior exportador do produto no mundo. O que sobra é vendido aos brasileiros a preços nem sempre acessíveis.
Dados oficiais mostram que a produção agrícola brasileira alimenta 10% da população do planeta. É lamentável, então, que quase 15% da população brasileira sofra com a escassez de alimento ou passe fome.
Mais lamentável, ainda, é que mais da metade da população, de acordo com o relatório da equipe de transição do Governo Lula, forme a fila dos que vivem com algum grau de insegurança alimentar. São exatos 125,2 milhões de pessoas.
Portanto, é preciso que mais comida chegue à mesa dos brasileiros (muitos nem mesa têm, porque vivem nas ruas), e menos alimentos sejam negociados no mercado internacional.
É preciso inverter a lógica: o Brasil deveria, primeiro, alimentar sua população com o melhor do que produz, e exportar o excedente. É essa inversão que vai colocar na mesa dos brasileiros a picanha de que Lula falava.
Não precisa ser picanha, mas a carne bovina tão apreciada pelos brasileiros. Nos últimos anos, o preço dos cortes bovinos ficaram tão altos que até os churrasquinhos de esquina ficaram escassos.
Os churrascos de fim de semana na casa dos trabalhadores de baixa renda suprimiram a carne bovina, limitando-se ao frango e aos cortes suínos.
Picanha, portanto, é um simbolismo que representa a volta da proteína na alimentação da população, mas também é necessário que os mais pobres possam comer frutas, verduras e legumes.
O aumento da oferta desses produtos é fundamental para acabar com a fome e reduzir a insegurança alimentar. Se o governo conseguir essa façanha, a “picanha” estará contemplada.