Em meio às incertezas e aflições geradas pelos anseios de saber qual futuro terá a nação -, ou mais especificamente, quem será o próximo presidente – a principal marca que deve-se ter em mente dessa conjuntura é a da enorme reprovação caótica do sistema político. Esse traço é necessário não apenas para diagnosticar o Brasil de agora, como também de fazer qualquer tipo de previsão curta ou média do futuro até as eleições.
O marinheiro não pode temer o mar, da mesma maneira que os militantes não podem temer o povo. É preciso, antes de tudo, saber ler o mar para saber aonde jogar a rede. Tendo em vista que, em tempos de caos – em seu sentido mais radical – é fato que o mar está para peixe. Isto é, como ler a ambivalência de parte considerável e específica do eleitorado que cogita votar em Lula, mas, caso ele não concorra, pode votar em Bolsonaro?
A falta de educação política dos brasileiros é carta marcada, até por isso não conseguem demandar com coerência um projeto de país, mas contrariando aqueles que com isso lamentam, é preciso dizer: daí está a realidade, daí está a razão. Há muito chão até as eleições de 2018; tanto Lula quanto Bolsonaro ainda sofrerão muito – um com a Justiça, outro com sua própria incompetência racional, respectivamente. O cenário fatalmente não se preservará como hoje.
O que digo é: para além de ser vítima de qualquer otimismo infantil, é preciso que a esquerda saiba usar o momento a seu favor. Se ela conseguir fazer sua lição de casa, poderá, até mesmo para a eleição do próximo ano, nesses longos 11 meses, constituir uma oposição sincera e potente de tudo que esteve oferecido à população como possível política. E alargar o olhar – e principalmente o poder – da população frente a um projeto de Nação.
Os votos que hoje estão na direita, assim como foi em 2014, não são votos convictos nem conscientes dos projetos liberais. Mas que se apresentam sim, em sua maioria, como votos que tentam ser críticos, isto é, que tentam de alguma maneira – ainda que ingênua – se opor ao que já é unanimemente rechaçado.
Esse descontentamento e reprovação do sistema político não é só tema no Brasil. Tanto nos EUA quanto na França – para dar exemplos de outros continentes – houve casos parecidos. Nos EUA, um aventureiro caricato, e na França, um gestor, liberal e bom moço – estilo João Dória, assumiram o poder.
No Brasil como nesses exemplos e em muitos outras o fenômeno das “fake news” – também conhecido como “mentira desonesta” – se faz como fator poderoso e determinante das definições de cada caso. Aqui no Brasil, nem esquerda nem direita se livram desse mal, na incapacidade de falar com o povo, o fazem acreditar que o outro lado é pior. Não é à toa que o que marca todos os principais candidatos à Presidência da República é a alta reprovação generalizada.
O hábil compromisso com a verdade, e com a causa popular ainda inconsciente, é a única virtude capaz de reverter esse trágico processo político. Poucas vezes na história contemporânea se fez tão real a afirmativa de que os pobres nada tem a perder para além de seus grilhões.
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