
EDITORIAL
MANAUS – Em encontro com o governador Wilson Lima e o ex-superintendente da Suframa Alfredo Menezes, na quarta-feira (27), o presidente Jair Bolsonaro prometeu buscar “a melhor maneira de o Amazonas não perder a competitividade para o resto do país”.
Bolsonaro sequer consegue falar a palavra competitividade; balbucia “competividade” no vídeo divulgado por aliados. Alguns podem achar que ele também não faz ideia do que é a competitividade da Zona Franca de Manaus em relação ao “resto do país”.
Ele sabe muito bem e o “poste Ipiranga” dele, o ministro da Economia, Paulo Guedes, que prepara as fórmulas mágicas de maldade contra o modelo industrial do Amazonas, também sabe muito bem o que faz.
Já repetimos mais de uma dezena de vezes, mas não custa relembrar: Paulo Guedes, em 2019, no quarto mês do governo Bolsonaro, deixou muito claro que acabaria com o modelo Zona Franca de Manaus, fazendo exatamente o que faz agora. Reduzindo impostos para o “resto do país” e sufocando o Polo Industrial de Manaus.
Nas palavras do governador Wilson Lima, Bolsonaro prometeu buscar alternativas para a Zona Franca de Manaus. As alternativas não foram reveladas, talvez nem pelo próprio presidente durante a reunião com o governador.
Agora, vem à luz o significado do que disse o presidente: alternativas é buscar novas formas de empreendedorismo sem incentivos fiscais. Para o Amazonas não perder competitividade terá que inventar outras formas de atrair empresas.
Quem hoje trabalha em uma indústria do Polo Industrial de Manaus pode pensar, por exemplo, em trabalhar em garimpo, em medeireiras ou em empresas que se instalarem por aqui para explorar os recursos naturais da Amazônia.
Bolsonaro não apenas lava as mãos, mas é a própria mão que assina os decretos que levarão o modelo Zona Franca de Manaus ao fim trágico idealizado por Paulo Guedes.
Em um único dia, dois mísseis são disparados pelo governo federal contra o Estado e sua gente. Bolsonaro zera a alíquota de IPI para concentrados e extratos de bebidas não alcoólicas, o que põe uma pá de cal no polo de concentrados no Estado. E em outro decreto aumentou para 35% a redução linear do IPI sobre todos os produtos nacionais e importados.
Quando o presidente Bolsonaro assinou o decreto, em fevereiro deste ano, que reduziu em 25% o IPI de produtos nacionais e importados, o ministro Paulo Guedes afirmou que a equipe econômica queria uma redução maior, de 35%, mas ela não foi aplicada para não prejudicar a Zona Franca de Manaus.
Quando, agora, o presidente assina um decreto reduzindo a 35% a alíquota de IPI, não deixa mais dúvidas da sanha do governo federal contra a Zona Franca de Manaus.
Bolsonaro não está sendo enganado pelo ministro Paulo Guedes. Está apenas corroborando com ele. O Amazonas não tem peso eleitoral diante do Brasil. Reduzir impostos é tudo que o brasileiro quer. Portanto, nenhum Estado sairá em defesa do Amazonas.
O papel de defender o modelo de desenvolvimento criado em 1967 é do governo federal. É possível manter os incentivos fiscais da Zona Franca sem abrir mão de reduzir impostos para o demais Estados da federação.
O problema é outro: Bolsonaro e seus aliados executam um plano de vingança contra um grupo de políticos adversários do Amazonas, sem se importar com os empregos e com o futuro do Estado.