Por Alfredo Lopes*
Por que ficar sentados enquanto aguardamos que a União se movimente para nos apontar as saídas permitidas? “Quem inventou essa estória de uma comitiva presidencial para a Amazônia a essa altura do campeonato?”. A pergunta ecoou pelos corredores do Palácio do Planalto para confirmar o óbvio: não somos prioridade muito menos labaredas de grandes proporções para incendiar/mobilizar atenções do governo central. Aliás, com os 8% de contrapartida fiscal não somos, sequer, um capítulo no sumário das políticas fiscais ou ambientais de qualquer governo, seja ele liberal ou do liberou geral. Quem sabe de nós deveria ser nós mesmos. Por isso, em vez de esperar precisamos é trabalhar.
As previsões de Jaime Benchimol, empresário do varejo e remanescente dos pioneiros do empreendedorismo na Amazônia, são meio preocupantes para as empresas aqui instaladas que não se acostumaram a competir. Aproximadamente 50% delas vão baixar em outro arraial, com a expectativa de redução dos impostos no país. Por conta disso, deveríamos agregar aproximadamente R$ 10 bilhões para repor as perdas dessa diáspora fiscal. No cálculo do empresário, o Polo Indústria de Manaus fatura cerca de R$80 bilhões e agrega, em valor regional, cerca de 20%-25%, i.e., R$16 a R$ 20 bilhões à economia do Amazonas. E aonde vamos atacar, sem precisar de favores que, nos fins das contas, nos saem muito caro na medida em que nos fizeram exportadores de recursos líquidos? A isenção de IPI, II, IR, que atraíram as empresas acabam cobrando a parte do leão faminto de impostos. Quais são as alternativas de modulações econômicas ao nosso alcance?
Já mencionamos, em diversas ocasiões, os ganhos da Indústria 4.0 que o mundo já consolidou e já se preparou para explorar, caso continuemos deitados em berço esplêndido de uma fonte que começa a secar. O mote é a Biotecnologia de fármacos, dermocosméticos e alimentos funcionais. O discurso perverso da intocabilidade, que vetou sutilmente a exploração mineral, precisa ser desmontado urgentemente. Unidos e com clareza de propósitos, vamos namorar a alternativa da mineração, além do potássio e nióbio, pois temos petróleo, gás, estanho, calcário e caulim, ouro, urânio, tântalo, terras raras… para fechar a conta em R$6 bilhões de valor agregado. Se multiplicarmos por 4 o número de turistas atualmente registrados, mais R$ 2 bilhões serão integrados na tarefa de reposição. A indústria instalada em Manaus recolhe quase R$ 1 bilhão/ano para o turismo e Interiorização do desenvolvimento. E a grana foi pra onde? Pra complicar a ventania faltam-nos os números, os indicadores, taxas de retorno, além da coragem para exigir, pela força da Lei, a aplicação da riqueza gerada na região apenas na região.
Os fundos de turismo se destinam a outras mandracarias que é preciso investigar e recuperar. Os investimentos em infraestrutura turística inexistem. E os atrativos turísticos foram feitos por Eduardo Ribeiro ( Teatro Amazonas), em 1896, século XIX, por Deus (Encontro das Águas) e pelo povo do Baixo Amazonas (Festival Folclórico). Faltam observatórios de floresta, teleféricos, aquários, jardins botânicos, orquidários, zoológicos, serpentários, museus indígenas, museus de ciências naturais, observatórios de pássaros, zip-line, tirolesas, eventos aquáticos, caiaques, motonáutica, natação, corridas, trilhas, torneios de pesca de tucunaré etc., insiste Jaime Benchimol, exibindo números bem objetivos que apontam o rumo da catraia. Viajar é preciso, sem o lenço da apatia nem o documento da burocracia infernal, que tal?
(*) Alfredo é filósofo e ensaísta.
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