Diferentes tipos de nós são usados em embarcações e há forte associação deles com a navegação. O termo também está vinculado com redes de distribuição ou de comunicação. Dentre os diversos tipos, há o “nó górdio” – advindo de uma lenda asiática – que seria aquele de desmanche quase impossível e que, para ser desatado, necessita de uma quebra de paradigma ou de astúcia.
O termo me parece muito apropriado para os entraves da navegação na Amazônia, pois estamos muito distantes do que seria necessário e existem várias barreiras a serem superadas. Assim, para sairmos de onde estamos precisaremos de novos modelos de pensamento e de ações. Afinal, nossos cursos d’água não são hidrovias, pois os leitos se movem, os canais não são perenes e os calados muito variáveis, com incontáveis questões que adicionam excessivo custo operacional.
Mesmo com a maior bacia hidrográfica do mundo, ainda nos deparamos com severos problemas para as navegações permitirem o tráfego de grandes embarcações o ano todo, o que seria produtivo e ajudaria nas soluções dos problemas impostos pelo grande isolamento que temos pela falta de infraestrutura. Estamos muito distantes de possuir uma hidrovia competitiva, pois há um entendimento equivocado de que bastariam os rios para o transporte aquaviário acontecer, o que é muito distante da verdade.
Neste contexto, no próximo dia 21/03, será realizado um debate com o propósito de deliberar sobre como poderemos enfrentar estes desafios. O aquecimento global, a mudança climática, as mudanças dos leitos de rio derivados das hidrelétricas do Rio Madeira, a região do Tabocal, o Canal da Barra Norte e tantas outras incertezas que são típicas da Amazônia serão deliberadas para compreendermos o que poderá ser feito como intervenções para melhorar a navegabilidade da Hidrovia do Amazonas-Solimões.
O evento será no SENAI/Distrito Industrial, onde alguns destes nós serão deliberados. Há grande possibilidade de aumentarmos as oportunidades para negócios mais competitivos por aqui. Com alguma conversa e pensamento sistêmico poderemos ao menos enfrentar o problema da garantia de calado para o transporte de contêineres e de mais grãos entre o Amazonas e o resto do mundo. Acredito que a Engenharia poderá melhorar a competitividade do Arco Norte, aproximando mais os nossos rios do que seria uma verdadeira hidrovia.
Ignorar a ausência de infraestrutura da Amazônia não solucionará nossos problemas, ao contrário: ampliará. O alvo deste evento é justamente o oposto: analisar e discutir como enfrentar os problemas associados com a falta de calado nos rios – como realizar ações que transformem o cenário? Quais são as ações prioritárias e quem são as instituições responsáveis e quais tipos de apoio elas precisam?
De fato, são muitos nós górdios, mas, com um esforço coletivo, poderemos desatá-los – um a um, desde que usemos novos paradigmas para os problemas já conhecidos e outros que são ignorados, mas serão apresentados no evento.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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Iniciativa fantástica. Sobre o tema, penso que a transformação das embarcações em fontes de dados diversificados poderia via a ser um fomentador da navegabilidade nos rios da Amazônia. Seria possível assim extrair dessas naus informações detalhadas relativas aos produtos que mais escoam, em quais comunidades e a lucratividade, para assim empregar o fruto dessas averiguações para atrair possíveis investidores. Além disso, tecnologias de geolocalização poderiam trazer mais rastreabilidade e confiabilidade para os clientes. Sistemas de vendas de passagens on-line poderiam gerar mais agilidade no embarque e desembarque de passageiros, as possibilidades são diversas.
Oportuna a realização do VII Fórum Logística no Amazonas, que há muito precisa ter um novo olhar, como oportunidades naturais de desenvolvimento que são os nossos rios. Parabéns a FIEAM, CIEAM e UFAM pela iniciativa, que têm como suporte maior o Dr. Augusto Cesar Rocha.