Da Redação
MANAUS – Com uma chapa ‘puro sangue’, o deputado estadual José Ricardo forma com o colega petista da ALE (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas), Sinésio Campos, candidato a vice, a dupla do PT na disputa da eleição suplementar ao Governo do Amazonas.
A chapa petista surgiu da falta de aliados para compor uma aliança partidária e José Ricardo, que se apresenta ao eleitor como o “Zé13” e “o cara da Kombi”, apostava também na presença do ex-presidente Lula nos eventos eleitorais em Manaus para atrair votos. “O Lula vindo aqui, ele iria ajudar muito na minha campanha. Em qualquer município, por onde eu ando, a lembrança, o agradecimento é grande. Se o Lula vier para presidente, ele ganha aqui no Amazonas”, disse ao ATUAL, nesta segunda-feira.
Conforme José Ricardo, há “um sentimento de gratidão e reconhecimento pelo que ele fez aqui pelo Amazonas”. “Os programas sociais como o luz para todos, que fez uma grande diferença na vida das pessoas. O Bolsa Família está aí. Apesar de toda a crise é um dinheiro que entra para a população utilizar na família. Os programas na área de educação. Há um reconhecimento. O Lula vindo, ele ia me ajudar muito. Mas ele está com muita dificuldade e não poderá vir”, disse, referindo-se as implicações do ex-presidente com a Lava Jato.
Confira os principais trechos da entrevista.
Chapa ‘puro sangue’
“São duas situações. Nós tivemos sim conversas com alguns partidos para fazer uma aliança, mas eles já tinham a intenção de lançar candidatura, de projetar nomes para o ano que vem. Se não tivesse essa aliança, nós iríamos lançar também o candidato a vice que foi o que aconteceu com a escolha do deputado Sinésio Campos.”
Opção por Sinésio
“O PT, desde a aliança que elegeu o Lula, fez uma aliança com vários partidos. A aliança nacional influenciou aqui no Estado do Amazonas. O PMDB, PR, PP, todos esses partidos da base de apoio do governo federal, integravam essa base. O Sinésio cumpriu uma tarefa partidária de estar nos governos. Dentro dessa ótica das alianças políticas, cada um cumpriu seu papel. A partir do momento em que as alianças se afastaram, cada um teve que tomar o seu caminho.”
Candidatura alternativa
“Nossa candidatura é alternativa ao grupo político que está no Amazonas há mais de 30 anos. É um revezamento entre Amazonino (Mendes, candidato do PDT em aliança com o PSDB), Braga (senador Eduardo, do PMDB, coligado com o PR), do Omar (Aziz, senador do PSD, aliado de Amazonino) e mais a Rebecca Garcia (ex-deputada federal do PP, coligada com o Podemos). Então, esse grupo tem três candidaturas. E a nossa é a candidatura para a população que não aguenta mais esse grupo que deixou o Amazonas sem segurança, com os hospitais em situação calamitosa e o interior com um vazio econômico. Tanto que se não fosse o Lula e a Dilma prorrogarem a zona franca, nem a zona franca nós teríamos.”
Transparência
“Uma característica desse grupo político que está aí é que ele administra os recursos públicos sem transparência, escândalos de corrupção, não há envolvimento da sociedade, não se debate o orçamento para discutir prioridades. E é o que nós vamos implantar. Queremos um processo em que os contratos públicos tenham a divulgação adequada. A transparência é o melhor instrumento para combater a corrupção. Só na Operação Maus Caminhos (que desbaratou grupo que fraudava contratos na concessão de serviços de saúde) nós tivemos a denúncia do desvio de R$ 112 milhões na área de saúde. Você não sabe quais são os contratos que o Estado tem hoje, quais as condições de pagamento. Mesmo os contratos do Prosamim (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus), essa obra bilionária que deixou o Estado com uma dívida que vamos pagar durante mais de 20 anos. Quem é que sabe dos contratos, do pagamento de juros? O que é que vamos fazer diferente. Vamos dar conhecimento à sociedade e a gestão vai ser nesse processo claro, aberto e sem medo de mostrar os números.”
Dependência da ZFM
“Eu sou um defensor de que se utilize os incentivos fiscais para priorizar outros setores produtivos para se transformarem na alternativa econômica no Estado. Para isso tem que ter decisão política, sair das amarras de dependência da Zona Franca, tem que ter uma decisão de aplicar os recursos que nós temos para o desenvolvimento que são os três fundos. Esses fundos têm problemas seríssimos. O da UEA, ao longo dos últimos dez anos, foram R$ 380 milhões que deixaram de ser aplicados na universidade, embora arrecadados com essa finalidade. Vamos destinar 100% para a universidade. Tem o FMPS para micro e pequenas empresas, são quase R$ 100 milhões, mas não tem destino para o microcrédito. E tem o Fundo de Interiorização e Turismo. Esse aí é quase motivo de polícia. São quase R$ 600 milhões em média por ano, já chegou a R$ 800 milhões, e ninguém sabe como isso está sendo investido. A diferença é que nós vamos investir esses recursos para essas finalidades.”
Receita tributária
“Nos últimos 30 anos qualquer pessoa poderia ser governador do Amazonas. Porque o orçamento era crescente, sempre teve uma arrecadação muito boa. E eles sempre se acomodaram, não investiram nas alternativas. Elas sempre existiram no papel. É o tempo que eu vejo esse grupo aqui no Amazonas e não criaram alternativa nenhuma.”
Desenvolvimento do interior
“O terceiro ciclo do Amazonino foi uma boa proposta de campanha, ajudou a eleger o Amazonino. A mesma coisa foi o Zona Franca Verde. Ajudou a eleger os governantes, mas não ajudou o cidadão que está no interior do Estado. Nós não temos um empreendimento produtivo resultado do terceiro ciclo e do Zona Franca Verde. A fábrica de bacalhau da Amazônia (beneficiamento de pirarucu), em Maraã, está em um município que não tem pista de pouso e que não está produzindo nada. Foi muito mais para propaganda eleitoral.”
Recursos para investimentos
“Sairão dos contratos. O orçamento na área de segurança pública é de R$ 1,6 bilhão, o da saúde é de R$ 1,8, bilhão e na educação, de R$ 2,6 bilhões. A maioria dos contratos não resiste a uma simples auditoria. Se três empresas contratadas na área da saúde, a Operação Maus Caminhos apontou desvios de R$ 112 milhões, eu fico imaginando no dia que a gente tomar posse e começar a fazer auditoria em todos os contratos, quanto não vai sobrar de recursos para investirmos em saúde.”
Fraudes em contratos
“Eu estava denunciando na Assembleia os esquemas para adquirir fardamento escolar. Eles eliminam os concorrentes para uma empresa ganhar. Ora, fardamento escolar nós vamos mudar as regras. Tem que ter 20, 30 empresas, pequenas, para confeccionar o fardamento. Ninguém precisará aumentar os impostos.”
Servidor público
“Temos muitos cargos comissionados. Temos que fortalecer os concursos. Temos muitos terceirizados na saúde. O custo de uma empresa terceirizada é muito maior que o custo de funcionários de carreira contratados por concurso público. Na área da saúde terceirizaram tanto que o funcionário está com medo de ser demitido da empresa, ou porque o salário dele está sempre atrasado ou a empresa fecha e ele descobre que não foi recolhida a previdência, o FGTS. Precisamos acabar com essa instabilidade. A continuidade do serviço é comprometida. Um hospital tem que ter atuação contínua. Não pode ser com um funcionário que hoje está aqui e amanhã não está mais lá.”
Campanha pró Lula
“Dos filiados do partido no Amazonas, são em torno de 30 mil. Se todos votarem em mim, não seria suficiente para ganhar. Minha campanha não é de defesa do Lula, mas também fazemos isso pelo legado dele para o nosso Estado e pela justiça. Se eventualmente surgir algo contra o Lula e tiver prova, tem que ser verificado. Fora isso, a nossa campanha está numa linha clara de mostrar o seguinte: nós temos uma crise no Amazonas causada pelo grupo político que está aí e pelas decisões do governo federal. São 50 mil pessoas desempregadas no Distrito Industrial.”