Nestes dias, estão dizendo que em Manaus está diminuindo o ritmo de contaminação e de internações por causa do coronavírus. Que as estatísticas mostram redução em Manaus e crescimento no interior.
Algumas postagens nas redes sociais mostrariam que já teriam vagas de leitos nos hospitais da capital e, principalmente, nas UTIs. Será que é a pandemia está reduzindo sua incidência na cidade, apesar do aumento da circulação de pessoas nas últimas duas semanas? Tenho minhas dúvidas.
Há muitos dados desencontrados. Na semana passada, a diretora da FVS falava que estimava que teriam em torno de 60 mil pessoas infectadas em Manaus. No domingo, o Fantástico apresentou um estudo dizendo que em torno de 200 mil estariam ou tiveram a Covid-19. Ou seja, de cada 10 pessoas, uma estaria com a doença. Portanto, o isolamento social se justifica em ser mantido, e até ampliado, ao contrário do que preconizam alguns setores da sociedade.
No dia 1º de maio, tinham 1.267 internados nos hospitais e 371 em UTIs. No dia 19 de maio, já eram 1.163 internados e 409 nas UTIs. Não tem significativa mudança. Isto em Manaus. Pois somente na capital tem UTI. No dia 19 de maio, a Susam informou que a taxa de ocupação de leitos de UTI era de 79%. Dos 375 leitos de UTI disponíveis na rede estadual de saúde que atendem pacientes de Covid-19, 298 estavam ocupados. Por estes dados, teoricamente tem vagas disponíveis. Mas tudo é na capital. Nada tem no interior.
De qualquer forma, os dados anunciados pela FVS mostram o crescimento da doença no interior do AM. No dia 20 de abril, tinham 2.160 casos no AM, sendo que 388 casos no interior, que representavam quase 18% do total, e atingiam 26 municípios. No dia 30 de abril, já eram 5.254 casos no estado, sendo 1.981 no interior (38%) em 49 municípios. Em 10 de maio, subiu para 42% e no dia 19 de maio, do total de 22.132 casos no estado, 50,07% eram do interior, com 11.081 casos, atingindo 59 municípios. O interior já passou da capital no total de contaminados.
Em termos de óbitos, até dia 19 de maio, na capital eram 999 e no interior 92, em 45 municípios. A situação mais dramática de mortes no interior ocorre em Manacapuru (68), Tabatinga (47), Parintins (41), Tefé (41), Coari (36), Itacoatiara (34), Iranduba (23), dentre outros.
Os indígenas começam a serem atingidos com mais intensidade. Entre 13 de março e 6 de maio, a FVS contabilizava mortes entre as etnias Ticuna, Kocama, Tukano, Baré e Satere-Mawê, totalizando 36 mortes. Mas agora os casos estão crescendo de forma exponencial. E há muita subnotificação, pois tem indígena sendo registrado como pardo. Isto foi motivo de denúncia junto à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Os Kocamas, do Alto Solimões, informaram a morte de mais de 40 pessoas. Em São Gabriel da Cachoeira, onde 98% da população são indígenas, já são 366 casos de contaminação e 12 óbitos.
Estou cobrando há mais de um mês que o Governo Federal e Estadual atuem para atender o interior do AM. O ministro Mandetta prometeu a construção de Hospital de Campanha em Manaus, para atender a população do interior e os indígenas. Mas nada fez. O ministro Nelton Teich passou por Manaus e prometeu 50 leitos numa ala do Hospital Nilton Lins. Nada foi feito.
Eu apresentei Indicação ao Ministério da Saúde, na semana passada, para que o Governo Federal instale Hospital de Campanha no Alto Rio Negro (São Gabriel da Cachoeira), Alto Solimões (Tabatinga), Médio Amazonas (Tefé), Baixo Amazonas (Itacoatiara ou Paritins) e em Manaus. E esta semana o Governo do Estado também fez apelo para que o Governo Federal atenda os povos indígenas.
Esta semana, anunciaram que o Governo Federal encaminhou alguns profissionais e equipamentos para os hospitais militares em Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira. Mas é muito pouco. Os demais municípios estão em situação de calamidade. E as mortes poderão aumentar de forma assustadora, devido a dificuldade de transportar para Manaus os pacientes mais graves.
Muito importante é a aprovação do Projeto de Lei 1.142/2020, onde sou coautor, que define a política de auxílio emergencial aos povos indígenas e quilombolas. Está na pauta dessa semana. Mas o Governo está criando dificuldades para aprovar no Congresso Nacional.
E a tendência é piorar. No interior não tem hospital com centros cirúrgicos e com leitos de UTI. Nenhum. Tudo depende da capital. E aí o drama aumenta. Muitos pacientes em estado grave precisam ser deslocados para a capital. Se há leitos sobrando na capital, significa que sobram vagas para pacientes do interior.
Por isso, o interior e os indígenas estão gritando por ajuda.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.