EDITORIAL
MANAUS – No dia 18 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro causou frenesi no mercado financeiro ao anunciar que “haveria mudanças” na Petrobras nos próximos dias. Ele fazia sua ‘live’ semanal e falava sobre a alta de preços dos combustíveis, especialmente do diesel, e sinalizava uma intervenção na petroleira brasileira de capital misto.
No dia seguinte, a ameaça do presidente se confirmou, gerou alvoroço no mercado, com perda bilionária no valor das ações da Petrobras negociadas na bolsa de valores. Bolsonaro trocou o presidente da companhia.
Para a sociedade, o presidente da República quis demonstrar que a intervenção significaria uma nova era na definição de preços dos combustíveis no Brasil.
A direção da Petrobras, por sua vez, já havia anunciado dias antes que os eventos climáticos nos Estados Unidos, que impactaram no preço do petróleo no mercado internacional, aliados à alta do dólar no mercado interno, estavam pressionando o aumento de preços.
A gasolina em Manaus, por exemplo, oscilava em torno de R$ 4,90 o litro.
A mudança na direção da Petrobras não surtiu nenhum efeito prático. Os preços continuam a subir desde então.
O preço do litro da gasolina em Manaus chegou a R$ 5,49 no último fim de semana, e a tendência é de novo aumento nos próximos dias. Na segunda-feira, 1°, a Petrobras anunciou novo aumento de preços, que ainda não foi repassado ao consumidor.
Nesta terça-feira, 2, o presidente Jair Bolsonaro editou decreto e medida provisória em que zera o PIS/Cofins sobre o diesel por dois meses, e sobre o gás de cozinha por tempo indeterminado. Isso significa uma queda de cerca de 8% no preço do diesel e de pouco menos de R$ 3 no valor do botijão de gás de 13 quilos.
Também nesta terça-feira, o Brasil soube de uma movimentação atípica na Bolsa de Valores em que a corretora Tullett Prebon ganhou R$ 18 milhões com a mudança de comando da Petrobras.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) vai investigar se houve vazamentos de informações da reunião do presidente Jair Bolsonaro com seus ministros, no dia 18 de fevereiro. O mesmo dia em que ele anunciou que haveria mudança no comando da Petrobras.
A corretora Tullett Prebon fez uma operação chamada contrato de opção de venda de ações da petroleira 20 minutos depois do fim da reunião de Bolsonaro com seus ministros. A corretora fez contrato de opção de vendas de 4 milhões de ações e faturou alto com a queda no valor das ações da Petrobras no dia seguinte.
O que se espera é que a CVM esclareça o mais breve possível o que houve. Quando ao preço dos combustíveis, por hora, não há qualquer perspectiva de queda, pelo contrário.