

MANAUS – Desde a minha infância, o carnaval foi uma festa muito presente nas nossas vidas. A meninada fazia tambores de latas e saía a fazer barulho no beco onde morávamos. Não faltavam adultos jogando “maizena” nos foliões. Era meio sem ritmo, só para fazer barulho e chamar a atenção. Assim brincávamos nos dias de Momo na primeira infância.
Depois, meu pai fazia questão e levar toda a turma para o baile infantil da Fast Clube, na sede do Boulevard Amazonas (hoje Avenida Álvaro Maia). Ali se juntavam todas as crianças da redondeza, algumas da escola, muita gente conhecida. Era tão bom o carnaval do Fast que o tempo passava num piscar de olhos, e tínhamos que deixar o local para o baile dos adultos.
Depois, na adolescência, frequentava outros clubes, como Nacional e Sírio-Libanês. Era a década de 1980.
Começavam a ganhar projeção na mídia o carnaval das Escolas de Samba de Manaus, e a minha juventude se largava na Avenida Djalma Batista, a noite inteira, visitando os locais de concentração, acompanhando o desfile, e às vezes seguindo a escola de samba até a dispersão.
Uma turma boa, que incluía meus irmãos e amigos, se preparava todos os anos para o desfile das escolas de Manaus. Por uns anos, Manaus foi considerada a segunda capital do Samba de Enredo. Nunca desfilávamos nas escolas, mas nos divertíamos a noite inteira naquele caldeirão de emoções que tomava a conta da Djalma Batista, à época uma pacata avenida quase deserta em dias normais.
Mas o carnaval não terminava aí. Acompanhava as escolas de samba do Rio de Janeiro. Comprava o disco das agremiações, um bolachão de vinil, com um super encarte com os enredos e as letras dos sambas-enredo. Aprendia a cantar todos, lia todos os enredos para entender o que cada escola iria apresentar na Marquês de Sapucaí.
Na comunidade em que morávamos, passamos a realizar o carnaval de rua, com bandas, com baterias improvisadas. Às vezes percorrendo as vielas, às vezes em um ponto fixo, fazíamos a alegria. Concursos de máscara, concursos de fantasia. Valia tudo para tornar a festa especial. Afinal, era carnaval.
Mais recentemente, me envolvi com a Banda do Jaraqui e Festival de Marchinhas da Banda do Jaraqui, divulgando, ajudando com um discreto patrocínio do AMAZONAS ATUAL.
Em 2019 e 2020, o AMAZONAS ATUAL transmitiu os desfiles das escolas de samba do Grupo de Acesso A de Manaus, e fizemos a transmissão ao vivo da apuração das escolas de samba de todos os grupos, visitamos as escolas campeãs.
Em 2020, ajudamos também discretamente na realização da Banda da Cobra Grande, organizada pela banda AgenorAgostinhoeLeo.
Neste ano, esperávamos fazer muito mais pelo carnaval, mas a pandemia não deu trégua. Tivemos o pior janeiro de nossa história. Em fevereiro, o mês da festa, temos um princípio de trégua, mas 2021 será mesmo um ano com os tambores, os tamborins, as caixas, os repiques e as cuícas silenciados.
Muitos ainda choram as perdas da pandemia, muitos ainda tentam recuperar as forças tragadas pela doença. O intervalo entre um carnaval e a data do outro foi terrível para as famílias brasileiras.
Mas quem está de pé para relembrar o passado e projetar o futuro deve se alegrar por estar vivo.
Vacina para todos, e que em 2022 possamos fazer um carnaval com o dobro de alegria.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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