O capitalismo é um regime econômico que progride através dos ciclos de inovações. Em 1910, o pensador austríaco Joseph Schumpeter definiu cinco casos de inovações: introdução de um novo bem ou de uma nova qualidade de um bem, introdução de um novo método de produção, abertura de um novo mercado, conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados, estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria. O tipo de mudança a que se refere Schumpeter é a que emerge, endogenamente, de dentro do sistema, que desloca de tal modo o seu ponto de equilíbrio que o novo não pode ser alcançado a partir do antigo mediante passos infinitesimais. “Adicione sucessivamente quantas diligências quiser, com isso nunca terá uma estrada de ferro”.
No Brasil, enquanto o Governo Federal não estrutura e implementa uma política visando a instrumentalizar incentivos efetivos à atualização das indústrias brasileiras, o progresso tecnológico vai avançando no campo. A evolução das inovações industriais tem uma história econômica bem sucedida. Iniciou-se com o processo de substituição de importações, aprofundou-se com o Plano de Metas do Presidente JK, se reestruturou, a partir dos anos 1990, com o processo de globalização da economia brasileira. Atualmente, a indústria brasileira se encontra financeiramente fragilizada após o pior quinquênio de estagnação econômica desde 1929, num processo de aggiornamento interrompido.
Por outro lado, a partir dos anos 1970, o Brasil vivenciou sob a liderança do Ministro Alysson Paolinelli, uma revolução na agropecuária a qual, a partir do conhecimento científico e tecnológico incubado nas universidades, desencadeou um processo progressivo e contínuo de inovações schumpeterianas no campo.
O evento mais destacado dessa revolução verde foi a grande mudança dos cerrados brasileiros de um recurso físico sem valor econômico em um fator econômico de altíssima produtividade e competitivo globalmente, que tem sido capaz de mobilizar poderosas cadeias de valor e sustentar economicamente os níveis de renda e de emprego, assim como a balança comercial do País, até mesmo em anos de profunda recessão. Estruturou-se à época o Sistema Embrapa de pesquisas agropecuárias que mantém acesa a flama das inovações incrementais.
Com esse avanço da agropecuária, tende a ficar na poeira da história a agricultura tradicional, que desmata e queima predatoriamente o meio ambiente, que pratica relações sociais de produção pré-capitalistas, que não resiste aos testes fitossanitários dos sistemas da defesa agropecuária.
A ela se contrapõe a moderna agropecuária do agronegócio e da agricultura familiar que produz com menor intensidade de terra, que consome menos água por tonelagem de produção irrigada, que recicla os resíduos e dejetos das atividades produtivas, além de conservar preservar e reabilitar os ativos ambientais como capital natural.
Ainda há muito a ser feito para qualificar e consolidar a revolução verde nas áreas tropicais brasileiras, eliminando muitas de suas mazelas socioeconômicas e socioambientais. Contudo, os mais expressivos progressos científicos e tecnológicos dos diferentes sistemas produtivos estão, atualmente, nas fronteiras da agropecuária nacional. Daí se asseverar que, no atual contexto de nossa história econômica, o capitalismo mora no campo.
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