MANAUS – Desde a redemocratização do Brasil, após os anos de chumbo, a mídia brasileira tem sido alvo de ataques dos políticos, principalmente dos que ocupam cargos no Executivo. Desde José Sarney, todos os presidentes da República foram alvo de reportagens desagradáveis, uns mais outro menos. Mas nunca se viu uma reação tão odiosa quanto o fazem Lula e Bolsonaro.
Nesse particular, apesar de serem opositores ou inimigos mortais, ambos se parecem. A diferença entre Lula e Bolsonaro nos ataques à mídia e aos jornalistas é a grosseria do segundo. Agora, Bolsonaro acrescentou às palavras ásperas um gesto com o braço, uma “banana” aos jornalistas que o abordam com perguntas indesejadas.
O interessante e preocupante é que ambos – Lula e Bolsonaro – tiveram e têm seguidores fanáticos que aplaudem suas palavras e gestos.
No passado, os seguidores e filiados do PT chegaram a abraçar a sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista). O termo era utilizado indiscriminadamente para atacar qualquer veículo de comunicação que divulgasse notícia indesejada pelo governo do então presidente Lula.
Os veículos de comunicação eram os mesmos que no passado, antes do PT subir ao poder, eram tratados com carinho pela esquerda para lançar críticas aos governos que o antecederam.
Na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro elegeu esses mesmos veículos, com raríssimas exceções, como alvo, particularmente a Rede Globo e o jornal O Folha de S.Paulo.
Os asseclas do bolsonarismo usam temos como “Globo lixo”, dizem que a Folha está com os dias contados por destilar inverdades contra seu presidente. Tudo igualzinho como faziam os petistas no passado.
Mesmo longe do poder, Lula mantém as críticas à imprensa, principalmente à TV Globo, mas arrefeceu com a Veja, por exemplo, que foi a publicação que mais criticou o governo dele.
E por que arrefeceu? Porque a Veja passou a noticiar fatos que o agradam, como as reportagens em conjunto com a site The Intercept Brasil.
Os mandatários brasileiros adoram uma mídia subserviente, que faça não jornalismo, mas publicidade de seu governo.
Os governantes brasileiros odeiam essa história de imprensa livre.
E o mais triste nessa história é que existe uma legião de seguidores dos dois lados que acreditam que o melhor é calar a boca de jornalistas. Gente que aplaude as grosserias de Bolsonaro e os xingamentos de Lula.
Essa mesma gente parece não se dar conta de que tudo o que sabem sobre os bastidores do poder são revelados pela mídia. Os governos jamais vão ser transparentes ao ponto de revelar aquilo que arranha a imagem do governante de plantão.
Não se trata de apoio incondicional à mídia e aos jornalistas. Há muitos canalhas exercendo essa profissão e há muitas empresas que querem se beneficiar do Poder sem fazer jornalismo.
O governo poderia fazer sua parte, regulando melhor a distribuição de canais de rádio e TV, hoje concentrado nas mãos de algumas famílias. Inclusive a Globo e suas associadas.
Mas o controle do conteúdo é inegociável. E se alguém se sentir ofendido, o caminho é o Judiciário e não a censura ou a grosseria.
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.
Nos ataques à mídia, Bolsonaro e Lula se parecem; a diferença é que Lula é LADRÃO.