Por Iolanda Ventura, da Redação
MANAUS – De 53 municípios do interior do Amazonas que registram casos de Covid-19 até esta quarta-feira, 62,3% deles já tiveram mortes provocadas pela doença, o equivalente a 33 cidades. Segundo o boletim da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde) divulgado nesta quarta, já são 219 mortos no interior.
Manacapuru lidera em quantidade de casos e mortes com 630 e 41, respectivamente. Em seguida vem Parintins com 311 casos e 21 mortes, e Tabatinga, com 266 pacientes e 12 vítimas fatais.
A maior quantidade de mortes pelo novo coronavírus é em Manaus, com um intervalo grande em relação ao interior. São 532 no total. Entretanto, segundo Cristiano Fernandes, diretor-técnico da FVS, a entidade tem analisado linhas de tendência que mostram que o Amazonas ainda está com a curva de casos em crescimento, sobretudo no interior.
“As pessoas estão na expectativa de já termos superado o pico, mas não conseguimos afirmar essa redução ainda, pelo contrário, estamos com aumento. O interior passou de 30% para 40% do total de casos notificados no estado, então isso mostra um aumento da doença”, afirma.
Letalidade
A alergista-imunologista Paola Dalmácio (CRM 5064), explica que o primeiro fator que contribui para a alta letalidade da doença são as próprias características do vírus. A profissional afirma que se o problema fosse apenas o sistema de saúde deficiente, a doença teria afetado de forma agressiva apenas os países subdesenvolvidos, e não haveria tantas mortes na Europa onde a estrutura da saúde é melhor.
“Eu acho que está mais relacionado ao vírus, a alta virulência e alta patogenicidade, é isso. É um vírus muito agressivo. Porque senão essa doença ficaria restrita aos países subdesenvolvidos, se pensar que só seria relacionado à pobreza, à falta de acesso aos meios de saúde, aos hospitais. Senão não teria um acometimento grande no primeiro mundo”, compara.
Entretanto, na realidade do Amazonas, Dalmácio afirma que a precariedade da saúde no interior tem um peso elevado para a ocorrência das mortes. “Agora é lógico, quando a gente compara o interior do estado com a capital aí sim a gente muda o foco, no sentido de porque teve um aumento na taxa de letalidade nas cidades do interior. Aí eu acredito que seja pela falta de condições mínimas de saúde”, afirma.
Dalmácio cita problemas comuns que contribuem para a morte dos pacientes. “Só tem UTI na capital. E medicamento não tem nessas cidades do interior. Eu estava falando com pacientes meus de Manacapuru, Careiro da Várzea, não tem azitromicina lá. Não acha aqui (Manaus), só que aqui não acha porque as pessoas estão procurando muito, já acabou o estoque. Mas lá nem encontra, tem que vir para Manaus para comprar”, critica.
Paola acredita que os trabalhos de conscientização quanto aos cuidados de prevenção ajudam, mas no momento em que a pessoa adoece, falta o básico. “Hoje eu acredito que com a mídia a população já está esclarecida. Use máscara, álcool-gel, fique em casa, o isolamento social, o distanciamento entre as pessoas, eu acho que eles já estão começando a entender no interior. Mas sim, quando adoece, cadê a medicação? É a falta desse acesso ao mínimo necessário de atendimento básico”, afirma.
A profissional também ressalta que a capacidade imunológica de cada pessoa influencia na evolução do quadro de saúde.
“Além de depender do vírus em primeiro lugar, depende do fator imunológico de cada um, das patologias de base, se é diabético, se tem doença respiratória pulmonar crônica, se são idosos. Apesar que a gente consegue ver pessoas de faixas etárias mais jovens morrendo, mas isso aí só o futuro vai esclarecer”, diz Paola Dalmácio.