O título deste artigo revela exatamente o que ocorreu com as “Dez medidas contra a corrupção” no Congresso Nacional. Ajudados pela mídia nacional, que pauta as mídias estaduais e regionais, os políticos enfiaram na cabeça do eleitorado brasileiro que estava em curso uma tramoia federal para anistiar aqueles que haviam praticado o crime de caixa 2. Fez muito barulho por conta desse detalhe e nada se discutiu seriamente sobre as “Dez medidas”.
Depois, esses mesmos políticos deram um jeito de incluir na proposta do Ministério Público medias que atingiam os próprios autores das “Dez medidas” e os investigadores de um modo geral e os magistrados brasileiros. Houve uma grita geral entre os membros do Judiciário e de outras instituições atingidas. Uma tempestade num copo d’água, mas que ajudou a tirar o foco do essencial.
Às vésperas da votação, o trio Michel Temer, Renan Calheiros e Rodrigo Maia chamara a imprensa para uma entrevista coletiva e anunciaram que não iriam permitir a aprovação da tal anistia ao caixa 2. Quem cometeu o crime no passado ou no presente, seria punido. O anúncio animou, principalmente os jornalistas que cobrem o planalto e os editores dos jornalões. Estava o Brasil salvo de uma aberração jurídica. Todos foram dormir em paz naquele 27 de novembro.
Na noite de 29 de novembro e madrugada do dia 30, os deputados fizeram a festa na Câmara. Cumpriram a promessa de não anistiar o crime de caixa 2, mas viraram as “Dez medidas” do avesso. Como disse o procurador-geral da República, depois da votação na Câmara dos Deputados, as “Dez medidas contra a corrução” não existem mais.
Neste domingo, milhares de manifestantes foram às ruas em protesto contra o que anda ocorrendo em Brasília, mas o foco principal foi Renan Calheiros. Em todos os protestos, os manifestantes com carinha de ricos, liderados por gente como Rogério Chequer, exibiam cartazes com a frase “Fora Renan”, e gritavam o nome de “Moro”, o juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato. Pouparam nos protestos Michel Temer e Rodrigo Maia. Logo Maia, que comandou o espetáculo na Câmara naquela noite de 29 e madrugada de 30 de novembro.
O Brasil precisa encontrar um novo rumo, mas com o foco no que menos importa, não teremos saída. Não basta exaltar Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato. É preciso cobrar dos mais de 17 mil magistrados que faça o mesmo. Mas esse é um assunto para outro artigo.
Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor e nem sempre refletem a linha editorial do AMAZONAS ATUAL.