Por Felipe Campinas, da Redação
MANAUS – Moradores do município de Novo Aripuanã, no Sul do Amazonas, promoveram manifestação pedindo a legalização do garimpo no Rio Madeira, no início da noite desta terça-feira (30). Com apoio de vereadores, garimpeiros discursaram na praça central e, sob forte chuva, promoveram uma passeata pelas ruas da cidade.
No último final de semana, os garimpeiros foram alvos de operação de combate à extração ilegal de ouro na região, deflagrada pela Polícia Federal, com participação da Marinha e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). Segundo o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Anderson Torres, 131 balsas foram apreendidas e destruídas.
Familiares de garimpeiros que tiveram embarcações queimadas na ação policial foram acolhidas em abrigo montado pela Prefeitura de Autazes (a 108 quilômetros de Manaus) na comunidade Rosarinho, que fica nas proximidades do local onde os garimpeiros estavam extraindo ouro. Posteriormente, foram levados para casa.
No domingo (28), em Novo Aripuanã, defensores da extração de ouro no Rio Madeira foram até a praça central da cidade para protestar contra a destruição de balsas. Na ocasião, eles pediram a legalização da atividade na região e carregavam placas com os dizeres: “Garimpeiro não é bandido” e “Garimpeiro é trabalhador”.
Nesta terça-feira (30), eles voltaram ao local para pressionar políticos pela legalização do garimpo. Acompanhados dos vereadores Higino Chíxaro (PSC), Susy Lopes (PSDB), Neto Carvalho (PRTB), Neumice Reges (Progressista) e Carlos Pinto (PSDB), os garimpeiros reforçaram as críticas à destruição de balsas usadas para a extração de ouro.
Neto Carvalho disse que a ação policial foi a pior perseguição aos garimpeiros. “Esse momento é muito difícil, que vai ficar na história do povo novo-aripuanaense. É uma situação lamentável. Já foi perseguição por muitos anos, mas dessa vez foi pior. Jamais pensávamos que ia acontecer. Não falo de morte, mas da destruição das balsas”, disse o vereador.
O parlamentar afirmou que o garimpo sustenta os municípios da região. “Há políticos nacionais que não conhecem o Amazonas, a vida do caboclo, não conhecem que já acabou a sova, a balata, a borracha. Após a indústria do petróleo, acabou a seringa. Aí surgiu o garimpo. É isso que sustenta Novo Aripuanã”, afirmou Carvalho.
Um dos familiares de garimpeiros classificou a ação policial de covardia. “Lá, tinha cerca de 600 balsas e 1.000 motores funcionando. Agora, veja o que fizeram com o povo de Novo Aripuanã. Sacanagem. O meu irmão perdeu tudo. Graças a Deus não perdeu a vida. Ele lavava a balsa de manhã e de tarde e hoje ele vê só a destruição. É tremenda covardia”, disse.
“O garimpeiro nunca foi na porta de uma prefeitura pedir uma passagem. Nunca foi pedir no comércio e de um político um quilo de arroz. Vocês não sabem a vida no garimpo. Os temporais que dão, os ventos que dão. Hoje, a vida do garimpeiro se tornou triste com essa desgraça que aconteceu”, completou o homem.
Em uma passeata pelas principais ruas da cidade, sob forte chuva, os manifestantes gritavam palavras de ordem e carregavam placas com os dizeres “Garimpeiro não é bandido, garimpeiro é trabalhador” para pressionar parlamentares federais e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a legalizar a atividade no Rio Madeira.
Brasília
O prefeito de Novo Aripuanã, Jocione Souza (PSDB), disse que nesta quarta-feira (1) participará de encontro com a bancada federal amazonense, juntamente com outros prefeitos da região, em Brasília, para tratar sobre a questão. “É preciso abrir o diálogo e entendimento para não deixar a população desassistida e sem totalmente sem renda”, afirmou Souza.
Para o prefeito, as balsas, na maioria das vezes, não são apenas um local de trabalho, mas um local de moradia para toda as famílias. “Por isso, existe uma grande preocupação com a situação dos garimpeiros, os extrativistas minerais, que envolvem famílias que estão há mais de 40 anos trabalhando nessa atividade”, disse Souza.
“Nós estamos fazendo um levantamento pela Secretaria de Assistência Social, vendo os danos e prejuízos causados, para chegarmos a um entendimento com o governo de Estado e Federal, para ver uma forma de ajudar essas famílias, que estão há muitos anos na cidade”, informou o prefeito de Novo Aripuanã.
Jocione disse ainda que a questão do impacto ambiental precisa ser discutida com todos os órgãos. “Toda a atividade humana tem impacto ambiental, mas é preciso se entender e não marginalizar essa ação. O extrativismo melhora a economia do município e da região, isso não pode ser desconsiderado”, afirmou.
Assista ao vídeo da manifestação: