Por Raquel Lopes e Julia Chaib, da Folhapress
BRASÍLIA – À CPI da Covid no Senado, o vendedor Cristiano Carvalho negou ser chefe da Davati Medical Supply no Brasil. Ele disse que as negociações em nome da empresa saíram do controle, alcançando governo federal, estados e prefeituras. “Não tenho vínculo empregatício, não tenho contrato, nunca fui remunerado para fazer essa aproximação da Davat com o governo brasileiro”, afirmou.
Cristiano disse que foi chamado de forma “equivocada e folclórica” de CEO da empresa pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que também participava das negociações de vacinas.
“(A negociação) Tomou uma dimensão bem grande, porque através do reverendo Amilton (Gomes de Paula, da ONG Senah), que fez um grande trabalho com a representação de vacinas no Brasil, muitas prefeituras do Brasil inteiro, até estados, começaram a procurar a Davati para resolver a questão da falta de vacina”, disse.
Segundo Cristiano, houve negociações com 4 consórcios de prefeituras, com o governo de Minas Gerais e com o governo federal.
Ele afirmou ainda que declaração do Dominguetti sobre ele ser CEO é fantasiosa. Também minimizou menções a primeira-dama Michelle Bolsonaro em diálogos registrados no celular do policial militar.
“Se criou um folclore sobre as pessoas envolvidas. E ainda tem um folclore sobre as pessoas envolvidas. Um é o ceo, o outro é a Michelle (Bolsonaro), o presidente”, disse Cristiano. “Nunca me apresentei a ele como CEO da Davati e ele sempre soube que eu era só mais um vendedor da Davati no Brasil”, disse.
Dominghetti tratava Cristiano como CEO da Davati no Brasil, mas o dono da empresa, Herman Cardenas, disse que a testemunha desta quinta-feira da CPI era apenas um vendedor autônomo que representou a sua companhia nas tratativas com o governo.
Requerimentos
A CPI da Covid aprovou 34 requerimentos nesta quinta-feira (15), entre eles um pedido da CPI para ter acesso aos registros de entrada no Ministério da Saúde do reverendo Amilton Gomes da Paula, o vendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti Pereira e o representante da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho.
O reverendo entrou no radar da comissão pois teria recebido autorização do Ministério da Saúde para negociar a compra de 400 milhões de doses da Astrazeneca, através da empresa Davati Medical Supply.
Já Dominghetti afirmou em entrevista à Folha que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde.
Foi aprovado outro requerimento que autoriza o acesso da comissão ao contrato entre a Precisa e a Barath Biotech, o qual foi mencionado diversas vezes durante o depoimento da diretora técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades.
A empresa foi responsável por intermediar com o Ministério da Saúde a venda da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. Essa negociação é investigada pela comissão por suspeita de irregularidades e uma suposta pressão atípica, denunciada por servidor da Saúde, para sua aprovação.
A comissão também solicitou que, no prazo de dez dias, o Ministro da Saúde preste informações sobre a VTCLog.
A companhia recebe, armazena e controla a distribuição de todas as vacinas, soros, medicamentos, praguicidas, kits para diagnóstico laboratorial e outros insumos do Ministério da Saúde, incluindo os da Covid-19.
Outro requerimento aprovado é a autorização e colaboração da equipe técnica da CPMI das Fake News para auxiliar os trabalhos da CPI da Covid. Além disso, requer o compartilhamento das informações obtidas pela CPMI das Fake News sobre os dados enviados pelo WhatsApp e pelo Facebook.
A comissão ainda solicitou que o Facebook preste informações sobre os conteúdos ligados a contas do governo que teriam sido impulsionados ou que receberam alta visualização na plataforma.
O requerimento requer que a empresa envie a lista “de conteúdos relacionados a pandemia de Covid-19 que foram removidos ou teve alcance limitado promovidos por perfis verificados” e os perfis verificados que tiveram posts ligados ao coronavírus que foram removidos.
Além desses, a CPI pediu acesso a todos os e-mails recebidos por três endereços do Ministério da Saúde, entre eles o referente à Secretaria Executiva, para verificar todas as conversas e negociações que foram feitas para a compra de vacina.