Por Kleiton Renzo, especial para o AMAZONAS ATUAL
MANAUS – Depois de aparecer em terceiro lugar, com 10% das intenções de voto em pesquisa publicada na última terça-feira, 15, pelo jornal Diário do Amazonas para a Prefeitura de Manaus nas eleições de 2016, a ex-deputada federal Rebecca Garcia (PP), afirmou que “ainda é cedo para falar em candidatura”, mas disse que o partido que ela comanda está se fortalecendo tanto na capital quanto em municípios do interior do Estado para lançar candidatos a prefeito “onde houver nomes fortes para a disputa”.
De forma diplomática, Rebecca Garcia apresentou os motivos que a levaram a desistir das eleições em 2012 e que depois a colocaram na disputa em 2014 pelo Governo do Estado numa chapa com o PMDB, do senador licenciado e Ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB). Para Rebecca as duas decisões fortaleceram o PP, elegendo deputados e vereadores. “Na política para ter sucesso é preciso sentar e fazer alguns acordos”, resumiu.
Na sexta-feira, 18, a ex-deputada esteve na redação do AMAZONAS ATUAL e conversou sobre a vida fora da política e as especulações em torno do nome dela para assumir a superintendência da Suframa. Confira trechos da entrevista a seguir.
ATUAL – O AMAZONAS ATUAL foi o primeiro veiculo de comunicação, em 2014, a dizer que a senhora seria candidata a vice na chapa de Eduardo Braga.
REBECCA GARCIA – (Risos). Então me diz o que vocês falam para 2016. (Risos), vamos inverter a entrevista, já que tem esse poder todo, me conta o que vai acontecer em 2016. (Risos).
ATUAL – Aquela notícia não foi uma previsão. Eram as informações de bastidores.
REBECCA – Ah tá. Já com informações na mão. Eu pensei que era alguma análise de cenário.
ATUAL – Nós publicamos que a senhora estava conversando com o Eduardo Braga e tinha as bênçãos da presidente Dilma Rousseff à época e que iria concorrer como vice, num momento em que se especulava que a senhora poderia ser candidata a governadora.
REBECCA – Mas tu sabes que essa definição foi na última semana mesmo. Eu não me arrependo nenhum pouco até porque considero o Eduardo Braga extremamente profissional. Então aprendi muito com ele nessa campanha. Profissional no sentido de administrar o Estado. O tempo todo ele estava preocupado em criar projetos que fossem viáveis e soluções para beneficiar a sociedade. E não falou o que as pessoas queriam ouvir. Foi uma falha, não-intencional, e acho que isso o prejudicou. Já o outro falou o que as pessoas queriam ouvir e a gente não viu nada acontecer.
ATUAL – Até o momento nada aconteceu…
REBECCA – Pois é. Vamos dar um crédito ai. Vamos ver. (risos).
ATUAL – A senhora acha que acertou ao desistir da disputa à Prefeitura de Manaus em 2012 e depois se aliar ao Braga em 2014 e disputar a eleição como vice dele?
REBECCA – Eu entrego muito a minha vida nas mãos de Deus e sempre penso que todas as minhas decisões são para o meu melhor. Quando passou a eleição de 2012, o ex-senador e hoje vice-governador do Rio de Janeiro, Francisco Dorneles, me chamou e disse: “Rebecca você é uma pessoa iluminada. Você ia se meter numa disputa que não era sua. Interna dentro do seu grupo. Iam fazer de você o que fizeram com a Vanessa Grazziotin”. Tanto é que se vocês pegarem a minha fala na coletiva no dia que eu desisti eu disse que estava preparada para enfrentar todos os adversários, mas jamais aos meus aliados. Então ninguém se prepara para enfrentar aliados. Você se prepara contra adversários. Foi essa a decisão. Eu sou uma pessoa observadora. Eu observei que estava se construindo um cenário onde eu seria esmagada. Então pra que eu vou me meter nisso?
Eu tenho juventude. Eu tenho paciência, e se Deus me deu uma qualidade, foi paciência. Eu tenho pessoas que gostam de mim e estão dispostas a esperar o tempo que for preciso para nós realizarmos um projeto e acho que é tudo no tempo certo. Não era pra ser naquele momento. Agora eu penso que em 2014 eu tomei a decisão certa. Pra mim uma candidatura majoritária não é prioridade. Pra você fazer política, você tem que sentar e fazer alguns acordos. Nem sempre, e isso eu ensino aos meus filhos, na vida a gente pode fazer o que quer. E naquele momento eu poderia ter saído candidata sozinha, como o Marcelo Ramos fez. Só que eu acabava com meu partido, porque a Conceição Sampaio não se elegeria deputada federal, o Adjuto Afonso não se elegeria deputado estadual e eu ficaria sem representante nenhum na Câmara Federal e na Assembleia. Então foi uma decisão muito fria, pensando na sobrevivência do partido. O meu partido é um partido que dá muito mais foco para eleição do legislativo nacional do que para o majoritário. Naquele momento pra mim era mais importante eleger uma deputada federal do que me eleger.
ATUAL – A senhora conversou com outros partidos antes de fechar com o PMDB em 2014?
REBECCA – Nós chegamos até a pensar na possibilidade de juntar PSDB, PSB, PP. Isso o Serafim Corrêa pode confirmar. Nesse cenário, o PSB não teria candidato ao governo, me apoiaria, e o Serafim sairia para deputado federal, porque esse era o projeto dele. Mas como o PSDB saiu do projeto, só o PSB e eu não nos elegeríamos, por mais que formássemos uma chapa única. Nem mesmo o Serafim se elegeria e muito menos a Conceição. Sairíamos os dois partidos enfraquecidos. Portanto foi uma decisão prática pensando no grupo.
ATUAL – O famoso pragmatismo…
REBECCA – Que é o que a gente tem que ter. Porque se eu fosse uma pessoa egoísta e quisesse o holofote só pra mim, eu tenho certeza que teria saído dessa eleição como a queridinha do Estado. Falando só o que o povo quer ouvir, sabendo que não teria chance. Mas comprometeria a eleição da Conceição, que vive da política, que é uma deputada profissional, comprometeria a eleição do Adjuto, mas eu estaria bem com todo mundo. E às vezes a gente tem que abrir mão de benefícios pessoais em nome de um grupo. E eu não tenho dúvidas de que tomei a decisão certa, porque hoje eu tenho um grupo que reconhece em mim um ato que talvez outras pessoas não tivessem feito.
ATUAL – Após todo esse processo de 2014, a senhora é candidata à Prefeitura de Manaus pelo PP?
REBECCA – A gente pensa que ainda é muito cedo para falar em candidatura. Em primeiro lugar, quem define candidatura não são os partidos, é o próprio povo. Porque quando chega mais próximo, as pesquisas começam a balizar os possíveis candidatos.
ATUAL – Nesta semana a senhora apareceu em terceiro lugar nas intenções de voto [na pesquisa do Instituto Diário] num cenário onde tem o prefeito Arthur Neto em primeiro e o deputado federal Hissa Abrahão em segundo…
REBECCA – Eu achei isso excelente. Porque se você tem acompanhando, desde dezembro eu não trabalho meu Facebook, nem Instagram. Só coloco fotos dos meus filhos, do meu marido, do meu dia-a-dia. Eu não tenho absolutamente nada de militância de dezembro pra cá. Estou trabalhando na fábrica e no escritório. Não ando atendendo ninguém. Até comecei a atender, mas para fortalecer o partido por conta das filiações no interior, trazendo possíveis candidatos a vereador e prefeito.
Tenho feito esse tipo de trabalho, que não é de exposição. Que me renderiam aqueles 10%, se não me engano, que eu tive na pesquisa. Eu acho que é um número, que considerando a minha posição desde a eleição passada, bem razoável, eu até agradeço porque acho assim, que tem pessoas que reconheceram o nosso trabalho e continuam apostando que é possível dar continuidade a esse trabalho.
ATUAL – A sua ONG Maria Bonita atua nos bairros de Manaus. Isso não deixa de ser uma forma de estar perto dos potenciais eleitores…
REBECCA – É. Mas na verdade, quem está cuidando mais da ONG é a Márcia Álamo. Eu não tenho estado diretamente envolvida com a ONG. Nenhum tipo de trabalho nesses últimos seis meses.
ATUAL – A senhora comentou que está fora da política desde dezembro. Mas é possível viver fora da política?
REBECCA – Eu acho que sou meio camaleão (risos). Eu vivo em qualquer lugar de qualquer maneira. Mas estar fora da política tem me acrescentado muito. Até porque, hoje, dentro de uma indústria do Distrito, eu estou tendo a oportunidade de vivenciar na pele o que as industrias estão vivendo no Estado do Amazonas. Que não é pouca coisa não. E nós, empresários, temos nos comunicado.
A Moto Honda já chegou a servir 15 mil pratos. Hoje está servindo pouco mais de 7 mil. A Moto Honda no ano de 2015 está com os números de 2008. E isso tudo não é somente em relação a questão federal, também é. Mas é que está faltando uma política local de valorização do nosso Distrito Industrial. A gente não pode ter uma prefeitura e um governo do Estado que ignore o Polo Industrial, achando que se as terras são da Suframa, que quem tem que asfaltar é a Suframa. As industrias pagam IPTU e caro. O que eu acho é que tem tanta secretaria no Estado que não tem tanto sentido e a gente não tem uma secretaria da indústria.
ATUAL – E nessa situação toda seu nome aparece como indicação para a Suframa. A senhora vai ou não?
REBECCA – Isso é uma decisão do governo federal. Não é uma decisão minha.
ATUAL – O que a gente vê nisso tudo é que ‘fulano” falou com a presidente sobre a Rebecca, ‘beltrano’ conversou com o ministro sobre a Rebecca. Mas e a Rebecca, com quem falou sobre isso?
REBECCA – O que é fato nessa história toda: em meados de fevereiro ou março, o Ministério da Integração, que é do PP, tinha um cargo na Sudam [Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia] para indicar. O presidente do PP, Ciro Nogueira, me ligou e disse que eles entendiam que meu currículo tinha qualificações que poderiam beneficiar o partido e faria um bom trabalho na Sudam. Eu falei para ele que agradecia a indicação mas a Sudam fica no Estado do Pará e para que eu assumisse esse cargo eu teria que morar no Pará. E a minha vida está no Amazonas. Não faria sentido pra mim trabalhar no Pará. E agradeci.
Dois dias depois ele me liga de novo e fala que assim como a Sudam, tem a Suframa, e se eu gostaria de ocupar esse cargo. Que ele indicaria meu nome e a gente veria o que iria acontecer. Eu disse a ele que a Suframa era um caso diferente. É um órgão que já foi muito importante no nosso estado e hoje não tem a mesma importância, e acredito que todos nós concordamos com isso. Mas é um órgão que pode ajudar e muito o Amazonas porque cuida do Polo Industrial de Manaus, que é o modelo econômico que sustenta o nosso estado. Acho que ai já seria uma coisa interessante. Então ele disse que iria me indicar. Ele, Ciro Nogueira, fez uma carta e me indicou para o [Aloizio] Mercadante, na Casa Civil, como sendo o meu nome que o PP apoiaria para ocupar esse cargo.
Eu entendo que o país está sofrendo um momento muito delicado. E que talvez não seja prioridade para o Planalto nesse momento o superintendente da Suframa. Enfim. Eu não saberia te dizer, mas o que foi de concreto e fato é esse relato.
ATUAL – Mas a senhora assume se vier o convite?
REBECCA – Se esse convite vier, o que a gente precisa saber é qual apoio que vai ter do governo federal.
ATUAL – O Thomaz Nogueira ficou na Suframa, tentou, mas não conseguiu fazer muita coisa. A senhora não acha que assumir um cargo desses é um risco para qualquer político?
REBECCA – Não deixa de ser. Mas o risco maior é para o nosso Estado, se nós virarmos as costas pra Suframa. Senão ninguém vai querer assumir um prejuízo que não é seu. A pessoa que sentar lá, que eu não faço ideia se vou ser eu, se virar as costas pra Suframa, é uma falta de compromisso com o Estado. A não ser que alguém diga que eu serei nomeada e que nada vai mudar. Então eu digo que não vou. Agora, se tiver a mínima chance de mudança é importante que se vá. Conseguir asfaltar o Distrito, conseguir uma iluminação, conseguir uma Internet de qualidade, isso são coisas pequenas, que irão fazer a diferença e a primeira pessoa que fizer isso já vai ganhar pontos com o pessoal da indústria e quem trabalha e vive o dia a dia do Polo Industrial de Manaus. Tem também a questão salarial dos funcionários da Suframa, que não é fácil, é difícil. E está defasado e é importante conversar e encontrar soluções.
ATUAL – O Ministério Público Federal chegou a enviar recomendação ao governo para que seu nome jamais fosse considerado para assumir a Suframa por conta de interesses particulares, pelo fato de a sua família ter empresas no Polo Industrial.
REBECCA – O que eles dizem é que eu teria que me afastar da administração das empresas porque eu teria informações privilegiadas. A Suframa não tem nenhuma informação privilegiada, todas as informações da Suframa deveriam ser de domínio público. Quem tem informação privilegiada é, por exemplo, o presidente do Banco Central. Ele não poderia ser dono de um banco, porque ele saberia quando as ações subiriam ou iriam cair. O superintendente da Suframa tem informação privilegiada zero, ou deveria ser.
ATUAL – O Senador Omar Aziz já se manifestou contrária a sua indicação. A senhora teria apoio da bancada do Amazonas para o cargo na Suframa?
REBECCA – É um direito dele de concordar ou não. Mas fiquei sabendo que depois ele voltou atrás e assinou a carta com a indicação do meu nome. Mas também não vou te garantir. A informação que tenho é que toda bancada federal apoia minha indicação.
ATUAL – A senhora comentou que o PP é um partido que se preocupa mais com a eleição parlamentar…
REBECCA – Não é só o PP. São todos os partidos. Quem é o presidente da Câmara Federal? É o PMDB. E por que isso? Porque tem o maior número de deputados. O PMDB também mira nos deputados. O PT, o PSDB, todos miram nos deputados, por isso essa confusão de abrir janela (de desfiliação) e fechar janela. Porque o Executivo não precisa de janela pra mudar de partido. Então toda essa discussão, nada mais é do que a vontade de receber parlamentares dentro do partido.
ATUAL – Com essa janela que deve abrir em breve, a senhora tem receio de perder algum dos três vereadores que estão na Câmara Municipal de Manaus? Estão bem amarrados os três?
REBECCA – Eu acredito que sim (estão amarrados). Mas se não estiverem, pra gente não tem problema nenhum. Sempre os deixei muito à vontade e quero que esteja do meu lado quem quer. Não adianta estar do meu lado e estando do lado de lá (risos).
ATUAL – O PP foi oposição do prefeito Arthur Neto na campanha, e hoje os vereadores se comportam como se fossem da base do executivo. É orientação do partido ou é conduta individual?
REBECCA – Eles estão perfeitamente à vontade para conduzir sua ações. Porque quem conduz e quem acompanha o debate na Câmara são eles. A gente não pode dizer para que votem “assim ou assado”, porque são eles que estão lá.
ATUAL – Recentemente o PSB e o PPS mandou embora os vereadores que foram contra o partido e à favor da base do prefeito.
REBECCA – Exatamente. Mas se você perceber não são os três que votam. Um vota de um jeito, outro vota de outro. A Pastora Luciana até votou contra a LDO. Foi uma das poucas que votou contra, se posicionando forte contra o município. Então é uma posição deles. Mas se em um determinado momento a gente ver que começa a expor o partido, eles serão chamado e nós veremos qual é a intenção deles. Se é permanecer.
ATUAL – Até porque a presidência municipal do PP não sua…
REBECCA – É do Marcelo, uma pessoa muito ligada a gente, mas como não é uma pessoa que está diretamente acompanhando o debate político, eles (os vereadores) me procuram muito para orientação. E eu costumo dizer que eles votem de acordo com o que eles achem ser o correto para o município. Se o prefeito, por mais que seja nosso adversário, vem com um projeto importante para o município, eu acho ridículo votar contra. Seria ridículo eu pedir que os parlamentares votem contra uma coisa que a população quer. Agora, se for um projeto que tenha cunho eleitoreiro, que seja para privilegiar alguém ou uma classe, ou que não seja correto, que venha um prejuízo ou outro, então façam a avaliação e votem da maneira que seja importante, mas sempre o que for melhor pra cidade de Manaus.
ATUAL – E como a senhora está encarando esses últimos projetos “polêmicos” da vereadora Pastora Luciana? Isso incomoda o PP de alguma forma?
REBECCA – Não. Eu acho que a Pastora Luciana é uma parlamentar de personalidade. Ela tem as crenças dela e tem o segmento dela. E tem procurado ser fiel ao público dela. Se eu começar a censurá-la, eu acabo com ela. Se a gente dá liberdade para votar com o prefeito quando a gente acha que algumas vezes nem deveria votar, eu não posso proibir ela de apresentar um projeto de lei que ela acha que seja bom e importante para sociedade. A gente procura orientar, mas sempre deixando 100% à vontade para que ela faça um mandato que ela seja fiel aqueles que a colocaram no parlamento.
ATUAL – Para o interior, qual a movimentação do PP para essa eleição municipal?
REBECCA – A nossa meta é fortalecer as candidaturas para o executivo em todos os municípios e se possível em Manaus também. Mas em todos os municípios, onde tivermos um candidato com potencial para sair prefeito, nós vamos lançar. Sábado que vem eu estou indo a Silves fazer um evento de filiação junto com nossa candidata a prefeita de lá. A prefeita de Novo Airão veio para o PP semana passada, acaba que temos dois prefeitos para a reeleição. Tudo isso está sendo trabalhado para que o PP tenha um projeto municipal tanto em Manaus quanto nos municípios do interior, para fortalecer um projeto maior para o Estado.
ATUAL – Qual sua relação com o prefeito Arthur Neto?
REBECCA – Eu vou ser sincera, e é por isso que às vezes fico constrangida em tocar em alguns assuntos. Sou uma pessoa que não tem problema político com ninguém. Eu sento a essa mesa e se o Arthur estiver aqui, eu sento com ele, assim como com o professor Melo, com o Omar, com a Vanessa, com o Alfredo. Eu tenho uma boa relação com todos eles e acho que nosso Estado está sofrendo muito com discórdias, por competições individuais que deixam o Estado de lado. Acho que tá na hora de todo mundo se juntar e fazer um esforço concentrado para que a gente recupere o nosso PIM e possa voltar a ver o Amazonas crescer.
ATUAL – E como vai unir todos esses personagens da política se não há entendimento?
REBECCA – Uma hora elas vão ter que sair da política.
ATUAL: Como exemplo tem a última eleição onde a senhora foi vice do ministro Braga, que continua na justiça eleitoral contra o governo Melo. Isso não é exemplo de uma união que não ocorrerá jamais?
REBECCA – Certo. Mas vamos deixar claro. O Ministério Público Eleitoral está insistindo nisso também. Para que não pareça que seja uma ação individual. O MPE entende que não foi uma eleição correta e isso põe em risco o processo eleitoral. Eu não quero saber se ele está correto ou não. Quem vai dizer é a Justiça. Mas se não estiver correto eu quero que haja algum tipo de pena e te digo porque: senão eu, Marcelo Ramos, o Hissa e toda a nova geração está ferrada na política. Porque eles irão trocar o diploma um para o outro, troca a faixa um para o outro. E ninguém mais vai entrar nesse circuito.
ATUAL – O vice-governador Henrique Oliveira entra nessa cota de “nova geração”?
REBECCA – O Henrique foi meu colega parlamentar, mas eu tenho tido pouco contato com o Henrique. Com o Marcelo tenho um excelente contato, com o Hissa, com o Chico Preto, que são mais aquela turma da minha geração.
ATUAL – A senhora acredita que essas últimas coligações com o PMDB estão dando certo?
REBECCA – Em 2014 foi a primeira vez. Em 2012 o PP fez parte da coligação. Mas sendo sincera, eu não participei de nenhuma decisão politica na campanha do prefeito Arthur Neto. Eu não fiz parte de nenhuma negociação ou articulação, agora era o grupo que nós estávamos próximos. Era o grupo do governador Omar na época e eu fazia parte do governo e nada mais correto do que caminhar com esse grupo. Acho até que o PMDB nem fez parte da chapa na época. E cada um lançou seus candidatos a vereador, não houve dobradinha. Essa (2014) foi a primeira vez que tive junto com o PMDB. O que não quer dizer que vou estar pra sempre. Não quer dizer que foi um casamento. Foi uma aliança como já teve do Omar com o Eduardo, do Serafim com o Eduardo, são alianças que a gente é obrigado a fazer nos tempos de eleição porque a gente precisa de uma coligação pra lançar uma candidatura que se tenha intenção de chegar à eleição, seja qual for.
ATUAL – Que avaliação a senhora faz da aprovação da PEC, pelo Senado, que determina 10% de participação feminina dentro dos parlamentos?
REBECCA – Eu penso que tudo que vivemos hoje é decorrente de fatores históricos. A mulher entrou muito mais tarde na política do que o homem. A mulher foi votar mais tarde. A mulher passou a ser votada mais tarde. Consequentemente a mulher passou a ser votada menos. Porque se eu não posso votar e eu não posso ser votada, que interesse eu vou ter na política? Então as mulheres são menos representadas que os homens. Acho que com o processo histórico a tendência é que em um determinado momento nós estejamos 50% representados por homens e 50% representados por mulheres no Congresso e casas legislativas. Porem é uma longa jornada e com esses 10% da PEC o que estamos tentando é abreviar esse cenário. Porque a bancada feminina defende tanto o financiamento publico de campanha? Porque isso é público e notório, quem consegue e faz as articulações para trazer dinheiro para as campanhas, são os homens. As mulheres não tem essa articulação e elas se prejudicam nesse momento. Se o financiamento for publico as mulheres ganham vantagem porque o dinheiro vai ser igual para todos.
ATUAL – Essa semana o STF também tornou inconstitucional o financiamento privado de campanha. Isso não vai atrapalhar a vida de vocês nas campanhas?
REBECCA – Pra mim as campanhas de eleição deveriam ser apenas na televisão, e acabou. Cada um chega lá e fala sua proposta, e acabou. Porque esse recurso da margem para a corrupção. É um recurso que a gente não sabe como vai ser usado direito. Agora não saberemos quem pegou. Agora estamos vendo a operação Lava-Jato. Se as doações tivessem sido só para o partido todos os membros daquele partido seriam colocados no mesmo cesto, até aqueles que não receberam. Então o negócio deixa de ficar mais transparente quando a doação vai só para o partido. E ai o líder do partido passa a ganhar muito mais força e poder de negociação, porque vai levar esse dinheiro o amigo do líder junto com o presidente do partido.