Da Redação
MANAUS – Oito em cada dez brasileiras estão insatisfeitas ou muito insatisfeitas com a forma como são tratadas atualmente no país. Na região Norte, essa insatisfação é ainda maior, mostra pesquisa feita exclusivamente com mulheres pelo Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) e o Observatório Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
De acordo com o Observatório Febraban, no Norte o percentual de insatisfação atinge 87%, a maior média de todas as regiões. A violência e o assédio, seguidos do feminicídio e da desigualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres são os principais pontos negativos destacados na pesquisa.
Um dado que chama a atenção é que as entrevistadas no Norte foram as que mais consideraram que as leis são antigas e conservadoras em relação às mulheres, 14%, enquanto a média nacional ficou em 10%.
Para 62% das entrevistadas, as mulheres não têm direitos iguais ao dos homens, nem remuneração equivalente (78%). Quanto às oportunidades de educação, as mulheres sentem maior conforto: apenas 34% disseram que elas não são iguais às dos homens. Com relação à liberdade sexual, 75% acham que ela não é igual à do sexo masculino.
Para 57% das mulheres da região, a desigualdade entre gêneros diminuiu nos últimos dez anos. As que disseram que a situação não se alterou somaram 25% e as que afirmaram que o quadro piorou muito ou piorou atingiram 17%.
Questionadas sobre as suas principais preocupações, as entrevistadas citam em destaque, como primeira resposta, a violência e o assédio contra a mulher (49%). Entre os principais motivos para os crimes violentos, elas citam o ciúme (24%) e machismo (21%). A maioria (62%) viveu ou tomou conhecimento de mulheres que foram vítimas de situações de violência nos últimos 12 meses.
A maioria das entrevistadas (66%) declara saber que o Brasil ocupa a quinta posição em mortes violentas de mulheres. As situações mais comuns de preconceito ou discriminação que elas viveram ou presenciaram aconteceram no trabalho (43%), escola ou universidade (43%), festas ou locais de entretenimento (54%), na rua (70%) ou no transporte público (50%).
Ao serem indagadas onde mais ocorrem situações de violência contra a mulher, 84% afirmaram como primeira resposta que elas acontecem em casa. Entre aquelas que já sofreram ou tomaram conhecimento de violência, 81% disseram que o agressor foi uma pessoa conhecida. Entre essas, 82% relataram que o autor foi o cônjuge, companheiro ou namorado.
“Indo direto ao ponto, a pesquisa nos faz um sério alerta de que, mesmo com os avanços dos últimos anos, as mulheres no Brasil ainda são, com frequência, vítimas de violência, assédio, preconceito e discriminação e de que precisamos de políticas e ações afirmativas que enfrentem esse grave problema social”, diz Isaac Sidney, presidente da Febraban.
“Se esse quadro, por si só, já evidencia a situação de vulnerabilidade a que as mulheres estão expostas, ele se agrava quando metade declara que as vítimas não procuram ajuda ou não denunciam. E isso acontece em função do medo, principalmente de represália ou perseguição, e também de serem desacreditadas”, afirma o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do Ipespe.
O levantamento Mulheres Preconceito e Violência foi realizado entre os dias 19 de fevereiro a 2 de março, com 3 mil mulheres nas cinco regiões do país.