Da Redação
MANAUS – Um estudo matemático sobre a Covid-19 no qual os pacientes são separados em ‘caixas’ mostra que o isolamento social é eficaz para evitar a contaminação pelo novo coronavirus. É o que afirma o professor Alexander Steinmetz, do Departamento de Matemática da Ufam (Universidade Federal do Amazonas).
O estudo avaliou, ainda, o comportamento da curva epidemiológica em diferentes níveis de distanciamento social, sempre combinado ao uso de máscaras pela população. Com o distanciamento mantido na faixa atual de 40%, a tendência é de diminuição lenta de infecções. No caso de um distanciamento com adesão de 60%, as infecções tendem a cair mais rapidamente, com previsão de diminuírem para menos de 40 mil no fim de maio.
“Nossa metodologia é um modelo matemático compartimental, muito comum em epidemiologia. Basicamente, dividimos a população em diferentes ‘caixas’, como a dos suscetíveis à doença, a dos infectados e a dos recuperados. A partir daí, estudamos os fluxos e a velocidade com que as pessoas passam de um estado a outro, o que nos dá parâmetros sobre o comportamento da doença”, explicou.
Steinmetz diz que as estimativas se baseiam em dados de óbitos do Registro Civil e dos sepultamentos em Manaus. “Foram feitos poucos testes no Brasil, por isso resolvemos não trabalhar com os dados de testagem, e sim com os de óbitos, que nos dão um parâmetro mais confiável e próximo da realidade. Incluímos não só os óbitos confirmados por Covid-19, mas também aqueles por doenças respiratórias que estão acima da média mensal”, disse.
Levando em conta a taxa de letalidade em relação à estimativa de pessoas infectadas (0,75%) e o tempo médio entre a exposição ao vírus e o óbito (18 dias), os pesquisadores estimaram em cerca de 85 mil o número total de infecções ativas pelo novo coronavírus em Manaus.
A análise também estimou que, no caso de um relaxamento do distanciamento social (20%) a partir do dia 12 de maio, haveria uma queda inicial de infecções, mas com um aumento posterior e risco de um segundo pico da doença no mês de junho. Na hipótese de nenhuma medida restritiva a partir da mesma data, o total de infecções em junho seria superior ao do mês de abril e haveria mais óbitos.
“É preciso ressaltar que essa queda é muito incipiente e leve. Temos que observar a curva nos próximos dias, mas não recomendamos qualquer afrouxamento no distanciamento social neste momento, o que poderia levar a um novo aumento de casos, em decorrência do ainda grande número de infectados e da pequena porcentagem de recuperados”, ressaltou Alexander Steinmetz.
O estudo foi apresentado ao Comitê de Crise estadual e serviu de base para ampliar até o dia 31 deste mês as medidas restritivas no Estado.
Para a diretora-presidente da FVS (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas), Rosemary Costa Pinto, o estudo permite estimar o total de pessoas que foram expostas ao vírus em Manaus. “Medidas de continuidade ou afrouxamento do isolamento social estão diretamente relacionadas ao quantitativo de pessoas que já tiveram contato com o novo coronavírus”, disse.
O estudo, segundo Alexander Steinmetz, teve a colaboração de professores das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de São João Del-Rei (UFSJ-MG).