MANAUS – Carl Benedikt Frey publicou em setembro de 2025 o livro “How progress ends: technology, innovation, and the fate of nations” (Como termina o progresso: tecnologia, inovação e destino de nações), editado pela Universidade de Princeton. Ele argui algo que é visível em nosso país: que o progresso não é inevitável. O progresso requer “criatividade, experimentação e tomada de riscos” e que existe um ciclo entre “progresso e estagnação”.
Neste contexto, parece que temos evitado o progresso e o Brasil parece ancorado em uma dinâmica urbana de décadas atrás. Precisamos encontrar uma reconciliação com o investimento público para modernização das cidades. Os sistemas dos transportes urbanos claramente estão parados no tema, como se fosse impossível modernizar a mobilidade urbana. Como tomar risco e experimentas novas alternativas nas cidades brasileiras?
Fomos um dos países mais avançados do mundo em mobilidade urbana. As causas por trás do sucesso (como defendido por Benedikt) precisam ser compreendidas. O investimento público em grande escala foi parte da fórmula, somada com o objetivo claro de atender ao cidadão. Hoje os projetos parecem se preocupar menos com a necessidade das pessoas. Parece que temos projetos apenas quando há algum interesse econômico em primeiro lugar, o que leva a soluções boas para empresas e pouco eficientes para as pessoas, em especial nas regiões mais pobres, que, neste modelo, continuará pobre e isolada.
A transformação urbana ajudará no progresso em todas as dimensões, se ela fizer uso dos avanços tecnológicos como direcionadores e alavancas do progresso, a partir do uso das ferramentas tecnológicas contemporâneas. O transporte para o interior dos Estados e interestaduais parece estar fora das discussões de oportunidades, como se cada Unidade Federativa vivesse por si, sem tirar proveito da imensidão do país e das possibilidades de conexões e de turismo cultural, para citar apenas uma das infinitas possiblidades.
Precisamos reconectar com o interesse de atender às massas de pessoas do Brasil em nossos projetos estruturantes. Não se fala mais no movimento das pessoas, como se fosse possível cada um “dar seu jeito”. Entretanto, estruturas excessivamente burocráticas podem ser travas para a inovação. A crença no crescimento econômico não pode ser baseada numa fé cega. É necessário que encontremos cenários de construção de conexões onde elas não existem. Não podemos olhar apenas para o “escoamento” de produtos. Está na hora de olhar para as pessoas.
Uma pauta para recomeçar o progresso do Brasil pode incluir a mobilidade urbana e interurbana e isso será transformador, pois faz décadas que paramos de olhar para isso. É como se nossas cidades estivessem nos anos 1980. Novas formas de transportar e novas rotas de transporte precisam ser construídas – isso será transformador, pois o Transporte pode efetivamente orientar o desenvolvimento.