Da Redação
MANAUS – A pandemia de Covid-19 criou uma situação extrema: parar as atividades socioeconômicas e isolar as pessoas ou manter a rotina social e econômica e potencializar o risco de contaminação desenfreada pelo novo coronavírus.
Nos países mais afetados pela pandemia, como o Brasil, esses extremos opõem a comunidade científica e médicos aos líderes políticos e aos empresários. Os primeiros afirmam categoricamente que lockdown rigoroso reduz substancialmente o risco de contaminação, os segundos alegam que a paralisação da atividade econômica inviabiliza os governos e a sociedade.
Mesmo com a vacina, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz preferem a primeira opção. Eles defendem medidas não-farmacológicas como meios mais eficientes de combate à doença.
“Neste contexto destacamos a importância da adoção de medidas de supressão ou bloqueio da transmissão e crescimento dos casos, e consequente redução do contínuo crescimento de óbitos diários, com a adoção de medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais”, afirmam, no Boletim Covid-19, relatório que reúne dados sobre a incidência da Covid-19 em todo o país.
Contágio em alta
Os seis pesquisadores que coordenam o Boletim Covid-19 consideram que apesar das pequenas variações observadas nas duas últimas semanas epidemiológicas, nenhum estado apresentou tendência significativa de queda nos indicadores da pandemia, com exceção do Amazonas, que teve uma redução de cerca de 3% no número de casos e 2% no número de óbitos
A maior parte dos estados mantém uma taxa de letalidade em torno de 2%. No entanto, observam-se taxas de letalidade ainda elevadas no Rio de Janeiro (7,1%), Amazonas (4,5%) e Maranhão (4,3%).
Os valores elevados de letalidade revelam, segundo os pesquisadores, graves falhas e a sobrecarga do sistema de atenção e vigilância em saúde nesses estados, como a insuficiência de testes de diagnóstico, identificação de grupos vulneráveis e encaminhamento de doentes graves.
O Brasil registra 11.439.250 de casos e 277.216 mortes (até sábado, 13), o que corresponde a 9,5% e 10,3% do total global, respectivamente, ainda que a população brasileira corresponda à menos de 3% da população mundial.
Em um contexto no qual o Brasil enfrenta o pior cenário desde o início da pandemia, os pesquisadores observam que o país nunca alcançou uma redução significativa de sua curva de transmissão. Pelo contrário, os recordes de novos casos e óbitos vêm sendo superados diariamente, acompanhados por uma situação de colapso dos sistemas de saúde em grande parte dos estados e municípios.
Incidência de SRAG
Também contribui para piorar a situação a incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) que se encontra em níveis muito altos em todas unidades da Federação, com uma tendência de aumento em todos estados das regiões Sul e Sudeste. Entre os registros com resultados positivo para os vírus respiratórios, 96,7% dos casos e 99,1% dos óbitos são em decorrência do novo coronavírus.
De acordo com o Boletim, as taxas obtidas em 8 de março de 2021 mostram evolução do indicador desde 17 de julho de 2020, apontando uma tendência de piora tanto nos estados e no Distrito Federal, como nas capitais.
Na última semana, somente o Pará apresentou melhora para saída da zona de alerta crítico e retorno à zona de alerta intermediário. Dezessete estados e o Distrito Federal mantiveram taxas iguais ou superiores a 80%, e mais dois estados somaram-se a eles, resultando em um total de 20 unidades federativas na zona de alerta crítico, das quais 13 com taxas superiores a 90%. Seis estados que se mantiveram na zona de alerta intermediária (≥ 60,0% e < 80,0%) apresentaram crescimento do indicador.
“A combinação de elevados percentuais de uso de máscaras com medidas de distanciamento físico e social tem resultado em maior controle da transmissão. Se regulamentações governamentais sobre o uso de máscaras são importantes, sozinhas são insuficientes, devendo ser realizadas campanhas sobre a importância do uso e como usar, além da distribuição gratuita de máscaras em larga escala”, afirmam os pesquisadores.
Assinam o Boletim Carlos Machado de Freitas, Christovam Barcellos, Daniel Antunes Maciel Villela, Gustavo Corrêa Matta, Lenice Costa Reis, e Margareth Crisóstomo Portela.
Confira o Boletim da Fiocruz na íntegra.